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Para procuradores da Lava Jato, Temer age para salvar a si mesmo

Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, entraram em campo nas redes sociais para direcionar críticas ao presidente

Temer: nos últimos dias, os procuradores já vinham direcionando críticas ao presidente Temer e a seus aliados nas redes sociais (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)

Temer: nos últimos dias, os procuradores já vinham direcionando críticas ao presidente Temer e a seus aliados nas redes sociais (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de junho de 2017 às 15h15.

Os procuradores Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava Jato, entraram em campo nas redes sociais para direcionar críticas ao presidente da República, Michel Temer, e acusá-lo de agir para se manter no poder em meio às denúncias que o atingem e à possibilidade de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) após a delação dos empresários da JBS.

Na manhã desta quarta-feira, 14, Deltan Dallagnol usou o Twitter para criticara Temer em relação aos ministros acusados de corrupção. "Antes, os mencionados em delações podiam permanecer no governo. Agora, os réus. No próximo passo serão os presos", escreveu Dallagnol, sobre um eventual recuo de Temer na sua linha de corte de afastar temporariamente ministros denunciados e definitivamente se virarem réus na Justiça. "É a institucionalização do governo dos corruptos?", questionou o procurador, em outra publicação.

Já o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, responsável pela concepção dos acordos de leniência na operação, afirmou que o presidente está agindo para mudar a cúpula da Polícia Federal e interferir nas investigações.

"Não contente com o desmonte da equipe da Polícia Federal na Operação Lava Jato em Curitiba, o governo Temer vai além, intervindo na mesma polícia que o investiga. Para que ética, se a única coisa que importa é se manter no poder?", escreveu o investigador.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo há pouco mais de duas semanas, Lima criticou o contingenciamento de 44% do orçamento de custeio previsto para 2017 na operação e afirmou que o governo tinha o objetivo de "sufocar" a Lava Jato com os limites orçamentários.

A reunião de Temer com governadores na noite dessa terça-feira também foi alvo de comentários do procurador. No encontro, o governo ofereceu uma renegociação das dívidas de Estados com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para o procurador, a atitude do presidente é um "toma-lá-dá-cá" para salvar a si mesmo.

"Toma-lá-dá-cá. Quando o importante é salvar a si mesmo, o problema de caixa do governo desaparece. Quando é para defender as reformas, tudo é diferente", diz a publicação de Lima.

Nos últimos dias, os procuradores já vinham direcionando críticas ao presidente Temer e a seus aliados nas redes sociais. Na terça, Carlos Lima usou o Facebook para atacar o PSDB após a decisão do partido de manter apoio ao governo federal. "Vexame é pouco", disse.

Sobre a atitude de tucanos ao aplaudir Aécio Neves na reunião de segunda-feira, 12, em Brasília, o procurador comparou a legenda ao PT. "O PSDB me lembra outro partido... Ah! Lembrei. O PT aplaudindo José Dirceu. Seja qual for o partido, o comportamento é o mesmo. Aplaudir quando se investiga o outro partido, e dizer que são perseguidos quando eles são os investigados."

O julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também foi alvo das críticas dos procuradores.

No sábado, 10, Dallagnol afirmou que o governo estava declarando "guerra aberta" à Lava Jato após a decisão da Corte eleitoral de absolver a chapa. "Como no fim do governo do PT, o governo PMDB-PSDB declara guerra aberta à Lava Jato. Futuro está nas mãos da sociedade", escreveu.

Carlos Lima, por sua vez, afirmou ser "evidente que o julgamento do TSE, ao desconsiderar as provas desse financiamento criminoso não só deixou de fazer o que lhe era exigido - defender a democracia - como indicou claramente a intenção de acabar com as investigações."

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