Haddad: a entrevista foi organizada pelo jornal O Globo, Extra, Valor Econômico e Época e teve duração de duas horas. (Fabio Vieira/Getty Images)
Clara Cerioni
Publicado em 23 de outubro de 2018 às 14h19.
Última atualização em 23 de outubro de 2018 às 15h04.
São Paulo — Em sabatina realizada nesta terça-feira (23), o candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, afirmou que a disseminação em massa de informações falsas pelo WhatsApp fez a diferença no resultado do primeiro turno. A entrevista foi organizada pelo jornal O Globo, Extra, Valor Econômico e Época e teve duração de duas horas.
Ele usou como exemplos o segundo turno no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Nos dois estados, Wilson Witzel e Romeu Zema, que se associaram a Bolsonaro, cresceram dias antes da votação e lideram as pesquisas.
"As fake news em Minas e no Rio fizeram toda a diferença. Institutos não conseguiram captar as intenções de voto porque algo aconteceu de sexta para sábado que mudou o humor nesses estados. Um juiz (Witzel) e um empresário que ninguém conhece (Zema) chegaram ao segundo turno. Você vai ver onde esses disparos foram feitos. Vai ver que esses dois estados explicam 80% da diferença que me daria a vitória", disse.
Questionado se a insistência em viabilizar a candidatura do ex-presidente Lula não foi um erro estratégico do PT, Haddad disse que o erro foi não antecipar o uso de redes sociais para impulsionar conteúdos falsos contra o partido.
"Cometemos um erro estratégico porque não pensamos que eles iriam usar o expediente do WhatsApp para obter financiamento ilegal de campanha. Não contei com isso mesmo. O que aconteceu no primeiro turno não tem nada a ver com legislação eleitoral. Estamos falando do novo Caixa 2. Estão driblando o velho caixa 2 e criando um novo", afirmou.
Segundo o candidato, o PT não conseguiu desconstruir a imagem de Bolsonaro antes, porque era preciso construir a sua primeiro. "Precisava mostrar ao leitor quem está falando, quem é o Fernando Haddad, o que ele fez na vida", disse.
Perguntado sobre o Operação Lava Jato, Haddad disse que as críticas do PT à operação e ao Judiciário são em relação ao caso de Lula. "Ninguém é contra prender empresário corrupto. Se eu for eleito, o corruptor vai ter a pena agravada."
Apesar de reconhecer os erros no escândalo de corrupção na Petrobras, o candidato petista defendeu José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da empresa e atual coordenador geral de sua campanha.
"Ele não está respondendo por absolutamente nenhum desvio de recurso nem inquérito. O Gabrielli não foi delatado por absolutamente ninguém", disse.
Na opinião do petista, a campanha de Bolsonaro, a quem classificou como "figura desimportante no meio militar", representa o que sobrou da ditadura e hoje se expressa politicamente. "A grande preocupação de uma vitória do candidato é de ser uma afronta ao nosso regime de democracia. Nós temos medo de quem está por trás dele, sobras dos porões da ditadura", disse.
Sobre o papel dos militares na política, o candidato disse que está preocupado com a volta da tutela das Forças Armadas. Fala em "sombra" e critica a presença de general em entrevista no TSE no último domingo, em referência ao chefe do GSI.
Durante a entrevista, Haddad repetiu uma acusação equivocada feita por Geraldo Azevedo no sábado, em show em Jacobina, na Bahia.
Na ocasião, Azevedo disse que foi preso duas vezes na ditadura e que foi torturado. Segundo o artista, o general Hamilton Mourão era um dos torturadores. Logo depois, o cantor disse que errou e pediu desculpas pelo "transtorno causado".
Confrontado com a negativa de Mourão, após a sabatina, Haddad indicou que Geraldo Azevedo fosse ouvido sobre o caso. "Entrevista o Geraldo Azevedo.
O seu adversário, o candidato pelo PSL, Jair Bolsonaro, também foi convidado pelos organizadores para realizar uma sabatina, mas até a publicação desta reportagem ele ainda não havia se pronunciado.
Ao ser perguntado sobre seus planos para resolver o problema de violência no país, o candidato disse que "diferente da de Bolsonaro, sua proposta é de fácil compreensão e está toda descrita no plano de governo".
"Vamos dobrar contingente da polícia, liberar as forças estaduais para proteger os cidadãos. A Polícia Militar e a Polícia Civil estão trabalhando muito, mas falta gestão. Precisamos criar um sistema único de segurança pública centralizada, com gerência da União."