Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente (Werther Santana/Estadão Conteúdo)
Fabiane Stefano
Publicado em 22 de abril de 2021 às 12h47.
Última atualização em 22 de abril de 2021 às 13h32.
O Brasil deveria apresentar um cronograma detalhado de redução do desmatamento ao longo da Cúpula de Líderes sobre o Clima. É o que esperava Rubens Ricupero, ex-ministro do Meio Ambiente e autor do livro A Diplomacia na Construção do Brasil (1750-2016). No entanto, não foi o que aconteceu. "Não foi anunciada uma meta mais ambiciosa em relação às emissões de gases de efeito estufa, ao contrário do que fizeram outros países, nem ações com prazos e objetivos", avaliou Ricupero após a transmissão do discurso do presidente Jair Bolsonaro. Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista sobre a postura do Brasil no encontro do clima.
Como o senhor avalia a postura do Brasil na Cúpula do Clima?
A fala do presidente Bolsonaro ficou dentro do esperado. O Brasil percebeu que está isolado e adotou um discurso menos beligerante. Mas o que interessa são as ações, e não as promessas. Nesse sentido, o Brasil vem se saindo mal, com aumento dos índices de desmatamento. Em minha visão, se trata de um governo em que não é possível confiar.
Qual importância foi dada ao Brasil no evento?
Chamou a atenção o fato de que o país foi um dos últimos a se pronunciar, depois de uma longa lista de nações, como a Argentina, China, Alemanha, Ilhas Marshall, Reino Unido e Índia. O Brasil perdeu boa parte da importância do lugar que ocupava alguns anos atrás, quando era visto com mais respeito e reconhecimento no cenário internacional.
Os americanos queriam metas concretas?
Sim. Idealmente, o Brasil deveria ter apresentado um cronograma de reduções do desmatamento, não apenas uma meta. Mas não foi o que aconteceu.
Sem um programa mais efetivo de combate ao desmatamento, poderá haver consequências, do ponto de vista prático, ao Brasil?
O embaixador americano já disse que o apoio dos Estados Unidos à entrada do Brasil na OCDE está vinculado a metas climáticas. Mas não acho que a OCDE seja a principal preocupação de Paulo Guedes agora, depois desse imbróglio do orçamento. E os Estados Unidos provavelmente não vão pressionar o Brasil logo depois do encontro. A maior pressão deverá acontecer durante a conferência do clima em Glasgow, no final do ano.
E o que era esperado do Brasil?
O mundo espera que o Brasil cumpra o compromisso que firmou em 2005, que estabelecia que até 2030 haveria uma redução de 43% da emissão de gases de efeito estufa. Isso foi feito, mas não dá para confiar em promessas. O Brasil é um dos poucos países do mundo que emitem gases de efeito estufa por causa do desmatamento e do uso da terra [com a pecuária]. Os outros países têm problemas com a queima de carvão e outros poluentes. Por isso que é importante para o Brasil reduzir o desmatamento na Amazônia.
O que os Estados Unidos esperam da Cúpula do Clima?
A intenção é de fazer um apelo aos países para a redução de gases de efeito estufa e um avanço em relação aos compromissos do Acordo de Paris. A avaliação é que os compromissos ficaram aquém da meta. Os países se comprometeram a fazer um esforço para que o aquecimento global não passe de 2 graus Celsius, mas já existe um consenso no meio científico de que 2 graus é muito. O ideal é evitar que o aquecimento passe de 1,5 grau Celsius.
E qual é a relevância do encontro?
Ele vai servir como um preâmbulo para a conferência do clima programada para novembro, em Glasgow.
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