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Eurasia vê risco de escândalo como motivo para troca na PF

Principal consultoria política do mundo afirma que imagem de "presidente desequilibrado" não é convincente e que provavelmente há grande escândalo em vista

Sergio Moro: ministro pediu demissão por interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal (Andre Coelho/Getty Images)

Sergio Moro: ministro pediu demissão por interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal (Andre Coelho/Getty Images)

BC

Beatriz Correia

Publicado em 24 de abril de 2020 às 23h06.

Última atualização em 24 de abril de 2020 às 23h13.

Após o forte discurso do ex-ministro Sergio Moro ao anunciar sua demissão do cargo, as suspeitas de que o presidente Jair Bolsonaro tem agido para tentar controlar uma investigação contra ele e seus aliados é fortalecida. A análise é da Eurasia Group, a principal consultoria de risco político do mundo.

De acordo com a análise, a decisão do presidente de oferecer cargos políticos ao chamado centrão em troca de apoio é outro indício de que o chefe do Executivo se prepara para uma batalha política com graves acusações. Para a Eurasia Group, as medidas tomadas representam um movimento caro politicamente para Bolsonaro, que sempre manteve um discurso contra a política tradicional.

A iminência de um escândalo também explicaria, segundo o Eurasia, por que o presidente estava disposto a engolir o custo do conflito com seu ministro mais popular, que tem fortes credenciais em uma promessa chave da campanha (combate à corrupção). "Duvidamos que Bolsonaro permitiria a saída de Moro se não houvesse um risco político potencialmente maior", afirma a consultoria.

O Eurasia Group analisa ainda que, a curto prazo, não há riscos para o ministro da Economia, Paulo Guedes, contrariando as especulações de alguns economistas sobre a permanência do chefe da Fazenda.

"De acordo com essa linha de pensamento, a decisão de Bolsonaro de negociar com os partidos centristas, e a disposição de dispensar Moro e Mandetta, foram evidências de que Bolsonaro planeja uma ação  para centralizar a tomada de decisões diante de uma grave crise econômica e de saúde pública, com militares como principais conselheiros", afirma a consultoria.

"Para nós, essa hipótese de um "presidente desequilibrado" não parece convincente. Não há oposição do Ministro da Economia aos gastos emergenciais em 2020, e o congresso não estava caminhando para um impeachment contra o presidente. Os líderes do partido têm dito ao Eurasia Group que não há interesse no congresso em comprar uma luta institucional com o presidente no meio de uma pandemia", continua o Eurasia.

"Para que o Executivo faça tais movimentos de alto custo, achamos que provavelmente tem mais a ver com um escândalo vindo de investigações conduzidas pela Polícia Federal", conclui a consultoria.

Crise institucional

As conclusões do Eurasia Group não trazem perspectivas positivas. "Isso sugere que estamos à beira de uma grave crise política em que o mandato do presidente está em risco", afirma.

O futuro político e econômico do país depende agora do que de fato será revelado pelas investigações em andamento na Polícia Federal e de como isso pode impactar o apoio público a uma saída de Bolsonaro. O Congresso só aprovará o impeachment do presidente se houver apoio popular, e pesquisas recentes sugerem que não houve apoio da maioria à saída de Bolsonaro, mas, de acordo com a Eurasia, os escândalos políticos podem mudar isso rapidamente.

"Olhando para o cenário político de um ambiente “pós-pandemia”, as perspectivas também se deterioraram. No mínimo, ao demitir seu ministro com fortes credibilidade no combate à corrupção, Bolsonaro sairá dessa pandemia mais enfraquecido do ponto de vista da opinião pública. Mas qualquer escândalo político que envolva o presidente também enfraquecerá seu apoio popular no futuro".

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