Ao todo, o imóvel à beira do lago Paranoá adquirido pelo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro custou R$ 5,97 milhões (Wilson Dias/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de março de 2021 às 13h16.
Além dos R$ 2,87 milhões que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) deu de entrada pela casa que comprou em Brasília, ele precisou desembolsar mais R$ 181.111,85, à vista, para quitar impostos e taxas referentes ao negócio.
Ao todo, o imóvel à beira do lago Paranoá adquirido pelo filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro custou R$ 5,97 milhões, mas a maior parte, R$ 3,1 milhões, foi financiada pelo Banco de Brasília (BRB). Flávio se comprometeu a pagar o valor em 30 anos. De acordo com a escritura do imóvel, o empréstimo bancário não inclui impostos e taxas.
Só de Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), cuja alíquota no Distrito Federal é hoje de 3% sobre o valor da venda foram R$ 179,1 mil. Já a escritura do imóvel e o registro totalizaram outros R$ 2.011,95, segundo tabela da associação de cartórios do Distrito Federal.
De acordo com o empresário Juscelino Sarkis, sócio da empresa que vendeu o imóvel a Flávio, o senador realizou depósitos que somam R$ 1,09 milhão até o momento, de forma parcelada: R$ 200 mil em 23 de novembro; R$ 300 mil em 10 de dezembro; e R$ 590 mil em 11 de dezembro. As informações constam de nota divulgada pelos advogados de Juscelino.
A informação contradiz o que consta na escritura - segundo a qual Flávio já teria pago R$ 2,87 milhões pelo imóvel. Na última segunda-feira, Flávio teve um novo gasto: o senador teve de pagar a primeira prestação do financiamento no Banco de Brasília. As prestações são de R$ 18,7 mil mensais.
Como mostrou o Estadão, as parcelas representam o equivalente a 70% dos rendimentos de Flávio, que, como senador, tem salário líquido de R$ 24,9 mil. Questionado sobre o pagamento dos impostos por meio de sua assessoria, o senador não respondeu.
A nova casa do filho do presidente da República é no setor de Mansões Dom Bosco (SMDB), no Lago Sul, bairro nobre da capital. Foi vendida em anúncio como "a melhor vista de Brasília da suíte master". O senador, no entanto, registrou o imóvel em um cartório de Brazlândia, cidade da zona rural do Distrito Federal que fica a 50 km do Plano Piloto. A casa tem 1,1 mil m², com quatro suítes amplas, academia, piscina e spa com aquecimento solar.
O valor do novo imóvel é mais que o triplo do total de bens declarados pelo senador à Justiça Eleitoral em 2018, de R$1,7 milhão. Naquela ocasião, entre os itens declarados constavam um apartamento residencial na Barra da Tijuca, no Rio (R$ 917 mil), uma sala comercial no mesmo bairro (R$ 150 mil), 50% de participação da empresa Bolsotini Chocolates (uma franquia da Kopenhagen, de R$ 50 mil), um veículo Volvo XC de R$ 66,5 mil e aplicações e investimentos que somavam R$ 558,2 mil.
Em um vídeo divulgado na terça-feira, 2, Flávio afirmou que, além do financiamento no BRB, vendeu um outro imóvel no Rio para comprar a casa em Brasília. O negócio, porém, não foi registrado em cartório.
Flávio foi denunciado por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no suposto esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). No Senado, partidos de oposição pressionam pela abertura de um processo contra Flávio no Conselho de Ética da Casa.