Cortes podem ajudar a combater inflação, que já se distancia da meta do governo (Germano Luders/EXAME)
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2011 às 13h45.
Brasília - O corte de gastos anunciado ontem pelo governo não deve convencer a todos no mercado financeiro, mas foi, pelo menos, suficiente para ser levado a sério. Para o economista Mauricio Oreng, do Itaú, “esse corte no Orçamento revela um desejo maior de cortar gastos do que estávamos incorporando anteriormente”.
Oreng realizou recentemente um estudo detalhado sobre as perspectivas fiscais em 2011. Basicamente, o trabalho indica que para que se cumpra a chamada “meta cheia” de superávit primário em 2011, o governo tem que bloquear R$ 88 bilhões do Orçamento. A meta cheia é de R$ 118 bilhões, o correspondente a 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), já na projeção para 2011 ajustada para R$ 4,056 trilhões, anunciada ontem. O superávit primário representa a economia para pagamento dos juros da dívida pública.
O economista nota que, além do corte de R$ 50 bilhões, o desempenho orçamentário dos últimos anos indica que o governo não “paga” todas as despesas orçadas, criando os chamados “restos a pagar”, que hoje já somam R$ 135 bilhões. Uma hipótese inicial de trabalho no Itaú, que ainda precisa ser consolidada, é de que o governo gaste R$ 25 bilhões a menos do que o orçado, o que elevaria a economia para R$ 75 bilhões - é um pouco mais complicado: algum resto a pagar acumulado pode ser gasto em 2011 e, nesse caso, os novos restos a pagar a serem criados teriam de ser igual a esse valor mais os R$ 25 bilhões.
De qualquer forma, se a economia efetiva atingir R$ 75 bilhões, Oreng estima um superávit primário do setor público consolidado de 2,6% do PIB em 2011. Isso fica abaixo da meta de 2,9%, mas ainda assim, na opinião do economista, “a política fiscal daria uma ajuda bem razoável à política monetária”.
Nas contas de Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander, o anúncio de ontem é bem menos impressionante. Para ele, para se atingir a meta cheia de superávit primário, o corte mínimo teria de ser de R$ 70 bilhões. Mas, no cálculo do próprio Santander - que tem metodologia própria para estimar o superávit primário que efetivamente reduz a demanda e ajuda o BC -, a redução de gastos teria de ser de R$ 88 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.