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Para 2018, Meirelles tenta firmar imagem ligada a crescimento

"A melhor política social que existe é o emprego" é agora a sua mensagem preferida, repetida incansavelmente ao longo das últimas semanas

Meirelles: o Twitter passou a seu principal canal de comunicação (Adriano Machado/Reuters)

Meirelles: o Twitter passou a seu principal canal de comunicação (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 4 de dezembro de 2017 às 22h04.

Brasília - Comandante do processo de ajuste fiscal que exigiu medidas duras e impopulares, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tenta se firmar como o candidato do crescimento e da volta do emprego.

"A melhor política social que existe é o emprego" é agora a sua mensagem preferida, repetida incansavelmente ao longo das últimas semanas na peregrinação pela busca de emplacar sua candidatura à Presidência da República nas eleições de 2018.

Depois da votação na Câmara dos Deputados que barrou a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, Meirelles não só intensificou a agenda de viagens pelo País e de reuniões com aliados políticos fora da agenda econômica (entre elas a aproximação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia), como também promoveu grandes mudanças no seu perfil nas redes sociais.

O Twitter passou a seu principal canal de comunicação. O discurso renovado, com apelo agora para temas sociais e de combate desigualdades sociais, substituiu os temas áridos da economia centrados no arrocho fiscal que marcaram o início da sua gestão à frente do Ministério da Fazenda.

Até mesmo o cenário dramático para as contas públicas nos próximos anos sem a aprovação da reforma da Previdência, que serviu de apoio da equipe econômica nos últimos meses para defender a proposta, foi deixado de lado. Já que o ministro não tem como dissociar sua imagem da reforma, a saída é continuar a defesa sob uma nova roupagem, mais "light", com foco nos efeitos positivos que são esperados com a aprovação do texto sobre o crescimento do País.

A mudança de tom do ministro da Fazenda é vista como natural, já que não se vê falar numa campanha em arrocho, meta fiscal, teto de gastos e adiamento de reajustes de servidores. São pautas que fazem parte do processo de reequilíbrio fiscal perseguido pelo atual governo, mas não criam empatia junto à população.

A melhora nas vendas do comércio, no consumo das famílias, no bem-estar da população e a retomada do crédito serão as bases do novo discurso construído por Meirelles para tentar se credenciar ao Palácio do Planalto e ganharão ainda mais destaque em suas aparições públicas. Em evento recente com representantes do varejo, ele moldou seu discurso para exaltar a participação do setor na recuperação da economia. Em seu Twitter, com quase 30 mil seguidores, compartilhou matéria do jornal O Estado de S. Paulo que mostrou como a queda da inflação traz alívio ao bolso das famílias mais pobres.

O ministro tem alardeado as grandes chances que a economia tem de crescer 3% no ano que vem e os efeitos positivos que isso terá no mercado de trabalho e no bem-estar social. Quando o Banco Mundial escancarou uma série de desigualdades que existem no Brasil, em relatório encomendado pelo próprio governo, Meirelles recorreu mais uma vez ao seu novo mote: "a melhor política social que existe é o emprego".

Há a expectativa de que o ministro possa capitalizar em cima da geração de emprego esperada na esteira da reforma trabalhista, principalmente com a modalidade de trabalho intermitente, que permite a contratação de um funcionário sob demanda do empregador e com pagamento por dia ou hora trabalhada. Mais flexíveis, esses contratos devem começar em breve a impulsionar as estatísticas de trabalho formal no País.

Mesmo assim, a avaliação nos bastidores é que tornar Meirelles um candidato competitivo "não será fácil", pelo contrário. Há muitas dificuldades porque ele não é um político tradicional e conta com pouco tempo (até março do ano que vem) para construir um discurso e as alianças políticas para viabilizar sua candidatura.

O momento de anunciar a decisão de concorrer ou não - março do ano que vem - tampouco ajuda, pois é um período tradicionalmente de maior sufoco para as famílias devido à concentração da cobrança de tributos, reajustes de mensalidades e à necessidade de ir às compras para o início do ano letivo. A grande aposta, no entanto, é que a população brasileira comece a sentir melhor os efeitos da recuperação da economia ao longo do ano que vem.

Popularidade

O ministro já tem testado sua popularidade. Em eventos recentes em Porto Alegre e Brasília, foi assediado para tirar fotos e, mesmo cansado ou com a agenda apertada, dedicou-se a atender a todos os pedidos. Na posse do ministro das Cidades, Alexandre Baldy, Meirelles também foi cercado e posou para inúmeras fotos e "selfies" no salão Oeste do Palácio do Planalto, disputando atenções com o recém-empossado.

Para cuidar de sua imagem e de sua conta no Twitter, Meirelles contratou o publicitário Fábio Veiga, sócio do Neovox Comunicação, de Florianópolis. Seu perfil na rede social inaugurou nos últimos dias uma logomarca nova que dá ênfase ao nome de "Henrique Meirelles", mais dissociada do Ministério da Fazenda e sem nenhuma referência ao governo federal. Suas participações em eventos de dentro e fora do governo também têm sido acompanhados por um cinegrafista, cujos vídeos abastecem as redes e têm gerado um maior engajamento em comentários.

Veiga esteve à frente da campanha que reelegeu o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo. No próximo dia 21 de dezembro, Meirelles vai aparecer na propaganda partidária que o PSD vai veicular. Ele ainda não gravou as imagens principais porque aguarda o desenrolar justamente da votação da reforma da Previdência.

O ministro também conta com um jornalista dedicado a cuidar dos assuntos de suas empresas. Ele tem uma consultoria e um fundo offshore, no exterior, criado para gerir sua herança, segundo explicou o ministro.

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