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Palocci divide PT sobre plano B para eleições de 2018

A ideia do partido é bater na tecla de que, se Lula não puder ser candidato, a eleição de 2018 não terá legitimidade

 (Nacho Doce/Reuters)

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EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de setembro de 2017 às 10h49.

Última atualização em 10 de setembro de 2017 às 10h49.

São Paulo - O depoimento do ex-ministro Antonio Palocci ao juiz Sérgio Moro não apenas fechou o cerco ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como escancarou o racha no PT sobre quem encarnará o "plano B" para a eleição de 2018, caso ele seja impedido de entrar na disputa. Embora os petistas não admitam em público a possibilidade de a candidatura Lula ser inviabilizada politicamente ou juridicamente, há grande temor entre alguns dirigentes de que Palocci tenha reunido provas ou indícios do que contou ao juiz Sérgio Moro na quarta-feira da semana passada.

Segundo apurou o Estado, se fechar um acordo de delação premiada, Palocci detalhará, com provas, a movimentação financeira de campanhas eleitorais petistas e indicará quando e onde valores foram entregues ao partido e quem foi o responsável pela operação. Ao contrário do que dizem dirigentes do PT e apoiadores de Lula, um advogado e dois amigos de Palocci afirmaram que ele está "lúcido", "sereno" e "aliviado" com a confissão a Moro.

Há ainda a possibilidade de os relatos de Palocci serem corroborados pelo sucessor dele na Fazenda, Guido Mantega, que também negocia uma colaboração. Ao assumir para Moro que era o "Italiano" nas planilhas da propina da Odebrecht, petista fez as investigações avançarem diretamente rumo ao ex-presidente e complicou ainda mais a situação jurídica e política dele.

Nos bastidores, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad seria o preferido de Lula para concorrer ao Planalto caso ele próprio seja inviabilizado. Há dúvidas, porém, se Haddad terá a "coragem" suficiente, nas palavras de um dirigente, para dar as costas ao discurso ético e defender o partido, um dos mais implicados no maior caso de corrupção da história do País, o dos desvios na Petrobrás. Alguns petistas acham que Haddad pode até apresentar reservas em defender Lula na intrínseca relação de amizade e troca de favores com empreiteiros já condenados pela Justiça.

Além disso, Haddad é definido por integrantes da cúpula do PT como "Dilma de saia". Trata-se de uma referência ao que muitos classificam como falta de jogo de cintura política da presidente cassada Dilma Rousseff. Na avaliação de dirigentes da sigla, principalmente os alinhados à tendência majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), tanto Haddad quanto Dilma são "incontroláveis".

A favor de Haddad, no entanto, pesa a opinião de Lula, que vê numa eventual candidatura do ex-prefeito condições de produzir um discurso sob medida para a classe média e a juventude desencantada.

Perseguição

A atual estratégia do PT, no entanto, ainda consiste em embalar a pré-campanha de Lula com a narrativa de que ele é vítima de "perseguição política". Na quarta-feira, o ex-presidente será ouvido novamente pelo juiz Sérgio Moro - que já o condenou no caso do triplex -, desta vez no processo referente a propinas pagas pela Odebrecht.

A ideia do partido é bater na tecla de que, se Lula não puder ser candidato, a eleição de 2018 não terá legitimidade.

Para desestimular Haddad de disputar voos mais altos, um grupo do PT ofereceu a ele a candidatura ao Senado. Discípulos do fogo amigo contra o ex-prefeito dizem, ainda, que o ex-ministro Jaques Wagner - hoje secretário estadual na Bahia - tem mais "perfil" para entrar no lugar de Lula, se for preciso.

"O plano A é Lula e não existe essa história de plano B", diz Haddad, sempre que é questionado sobre o assunto. "O foco do PT, agora, deve ser lutar pela revisão da sentença que o condenou injustamente e descaracterizar o depoimento de Palocci, que não tem fundamento", afirma o ex-prefeito.

A avaliação, no entanto, é de que Palocci não teve a mesma "estatura moral" que o ex-ministro José Dirceu e os ex-tesoureiros do partido Delúbio Soares e João Vaccari Neto, que mesmo depois de presos não "entregaram" colegas. Para petistas, Palocci agiu de caso pensado para construir um discurso que agradasse ao Ministério Público e Moro e, assim, agilizar as negociações do acordo.

Expulsão. No PT já surgiram algumas vozes pedindo a expulsão do ex-ministro, mas a cúpula do partido afirma que o assunto não foi discutido e que, se entrar em pauta oficialmente, vai obedecer a todos os trâmites com a garantia da ampla defesa.

"Há uma troca de mensagens nas redes sociais entre militantes e dirigentes discutindo o momento mais oportuno para uma expulsão. Não deve demorar. Existe um consenso se formando", afirmou o deputado estadual José Américo (SP). Para o deputado, ao assumir a postura de delator, Palocci está dando "adeus" à política.

A reação será manter a mobilização de apoio ao petista nas ruas. O próximo passo será mobilizar a militância para dar uma demonstração de apoio a Lula em Curitiba na próxima quarta-feira quando ele estará novamente cara a cara com o juiz Sérgio Moro.

1ª instância. A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e o ex-ministro Aloizio Mercadante por obstrução à Lava Jato será encaminhada à primeira instância da Justiça Federal, por decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (SFT).

Relator do inquérito, Fachin contrariou o pedido do procurador, que queria o processo no STF. O ministro determinou a remessa do caso à Justiça Federal do Distrito Federal, por não haver autoridade com foro privilegiado entre os denunciados. As defesa de Lula, Dilma e Mercadante negam a acusação.

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