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Palacianos, Guedes e Araújo: os preferidos na agenda de Bolsonaro em 2019

Entre os dez ministros que mais tiveram reuniões com o presidente, seis têm origem militar

Araújo, Bolsonaro e Guedes: De janeiro a dezembro, o presidente participou de 85 encontros com Ernesto Araújo e 96 com Paulo Guedes (Alan Santos/PR/Flickr)

Araújo, Bolsonaro e Guedes: De janeiro a dezembro, o presidente participou de 85 encontros com Ernesto Araújo e 96 com Paulo Guedes (Alan Santos/PR/Flickr)

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Clara Cerioni

Publicado em 1 de janeiro de 2020 às 08h00.

Última atualização em 1 de janeiro de 2020 às 17h25.

Brasília — A agenda oficial do presidente Jair Bolsonaro mostra que ele recebeu o ministro da Economia, Paulo Guedes, 12 vezes mais do que a titular da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves.

O chanceler Ernesto Araújo é outro que se destaca, tendo sido recebido dez vezes mais que a colega. De janeiro até agora, foram apenas oito reuniões com Damares, a ministra que teve o menor número de reuniões com o chefe. No mesmo período, o presidente participou de 85 encontros com Ernesto Araújo e 96 com Paulo Guedes.

O levantamento foi feito pelo GLOBO a partir da agenda oficial do presidente. Os dados não levam em conta os chamados “conselhos de ministros”, quando vários chefes de pastas se reúnem com o presidente ao mesmo tempo, e a participação em eventos oficiais.

Os chamados “ministros palacianos” foram os que mais estiveram com o presidente. Onyx Lorenzoni (215 reuniões), da Casa Civil, Augusto Heleno (158), do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Jorge de Oliveira (132), da Secretaria-Geral, e Luiz Eduardo Ramos (111), da Secretaria de Governo, têm seus gabinetes no Palácio do Planalto e costumam participar de encontros do presidente com colegas e parlamentares.

Eles são responsáveis pela articulação política, interlocução com outras pastas e pelas burocracias diárias da Presidência. No caso deles, ainda é corriqueiro que sejam chamados para reuniões curtas não registradas oficialmente.

Damares Alves passou três meses seguidos, de setembro a novembro, sem um encontro oficial com o presidente. Em nota, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos informou que a ministra mantém um constante diálogo com Bolsonaro, mesmo com poucas reuniões presenciais.

Outro ministro da área social, Osmar Terra, da Cidadania, teve 24 encontros com Bolsonaro. Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, também se reuniu poucas vezes com o presidente. Foram 14 reuniões ao longo do ano. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que o ministro se reúne regularmente com Bolsonaro para tratar de assuntos da pasta.

Também chama atenção o número de reuniões com os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles (31), da Educação, Abraham Weintraub (41), e da Agricultura, Tereza Cristina (27).

Para a professora do Departamento de Ciência Política da UFMG Magna Inácio, Bolsonaro descentraliza a produção de políticas públicas mesmo em ministérios importantes para a agenda do governo:

"Outros presidentes faziam essa descentralização, mas mantendo a Presidência como a base que organizava e conduzia a coordenação das ações desses ministérios. A Presidência do governo Bolsonaro perde essa centralidade, há uma delegação mais forte sem esse papel coordenador".

Entre os dez ministros que mais tiveram reuniões com o presidente, seis têm origem militar. Silvana Krause, cientista política da UFRGS, diz que a presença de militares indicaria “pouca conexão” com a sociedade civil:

"Os setores civis, ministérios da Educação e do Meio Ambiente, por exemplo, estão com menos prioridade do que setores do Exército. Isso indica que é um governo com pouca conexão com a sociedade civil".

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