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País tem 363 motoristas autuados por racha todo mês

Só até junho, foram registrados 2.179 casos de rachas em ruas do país; Minas Gerais é o estado que mais concentra ocorrências


	Avenida do Estado: local concentra muitas ocorrências de rachas em São Paulo
 (Wikimedia Commons)

Avenida do Estado: local concentra muitas ocorrências de rachas em São Paulo (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 19 de agosto de 2016 às 09h37.

São Paulo - Ao menos 363 motoristas são autuados por mês no País por participar de rachas de veículos.

Neste ano, só até junho, o Registro Nacional de Infrações (Renainf), ligado ao Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), já registrou 2.179 casos, média maior do que nos dois anos anteriores – 327/mês, em 2015, e 282/mês em 2014.

Minas tem o maior número absoluto de autuações: só neste ano, foram 259.

Os dados, obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação e em pesquisas em boletins de ocorrência de São Paulo, podem estar subnotificados, já que não foram consideradas todas as autuações por alta velocidade.

Para o levantamento, só foram somados os dados de duas violações do Código de Trânsito Brasileiro (CTB): "utilizar veículo para demonstrar ou exibir manobra perigosa mediante arrancada brusca ou derrapagem com deslizamento de pneus" e "disputar corrida".

Os praticantes do racha – que é ilegal, pode levar a até 10 anos de prisão, apreensão do veículo, multa e suspensão da carteira nacional de habilitação – muitas vezes divulgam vídeos dessas competições no YouTube e em outras redes sociais.

Os eventos são avisados por meio do Facebook e do aplicativo WhatsApp. Um dos vídeos, publicado em abril, mostra um grupo de jovens tomando cerveja e ouvindo funk em um posto de gasolina na Avenida do Estado, enquanto acompanham a "largada" da corrida.

Em outro, publicado no mês passado, o autor da publicação registra a disputa entre um Classic 1.0 e um Honda Fit 1.4.

Avenidas

Em São Paulo, o local preferido dos infratores é a Avenida das Nações Unidas, na zona sul. Em abril do ano passado, a Polícia Civil autuou ali cinco pessoas, na altura do 15.107. Um mês depois, mais três foram autuadas.

Neste ano, em março, mais um caso foi flagrado. A Avenida do Estado também continua como local com corridas frequentes.

"É só vir aqui em um domingo qualquer que você vê", diz o frentista Tiago da Silva, de 23 anos. Ele trabalha em um posto de gasolina na altura do 14.000 da Avenida das Nações Unidas.

"Há mais ou menos um mês, um veículo colidiu com uma bomba do posto. É muito comum isso acontecer por aqui", disse. Um comerciante, que trabalha próximo do posto, também confirmou a informação.

"Não é de hoje. Falta fiscalização nessa região, mas parece que só olham quando tem acidente."

O mecânico José de Souza Alves, de 45 anos, conta que é comum ver rachas acontecendo na região. Em abril do ano passado, ele foi vítima de um episódio, perto da Estação Granja Julieta da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

O homem seguia de carro para o trabalho, por volta das 5 horas, quando foi "fechado" por dois veículos em alta velocidade, que disputavam racha, e deu uma freada brusca.

Na sequência, dois motoqueiros bateram em sua traseira. "O prejuízo não foi muito grande, mas foi um susto", conta Alves. O carro dele, um Gol, teve as laterais amassadas e um vidro traseiro quebrado. O caso foi registrado no 11.º Distrito Policial (Santo Amaro).

Perfil

Os rachas não se restringem à "alta classe" de veículos. Dados levantados pela reportagem nos boletins de ocorrência registrados em São Paulo mostram que a polícia apreendeu de um BMW 335I 2012, que pode custar cerca de R$ 160 mil, até um Gol CLI 96, de R$ 8.400, nessas disputas.

O perfil predominante dos participantes é de homens, de 17 a 35 anos. Mas há exceções: no mês passado, policiais militares autuaram um homem de 61 anos por participar de um racha na Rodovia Raposo Tavares, com um Land Rover Evoque Dynamic, avaliado em R$ 165 mil.

As características dos veículos, que geralmente têm o motor adulterado para participar das competições, são uma forma de a polícia diferenciar os acidentes comuns de rachas. Mas nem sempre isso é possível.

Em maio do ano passado, um veículo Chevrolet Camaro em alta velocidade atingiu uma árvore na Avenida das Nações Unidas, sentido Jaguaré.

As vítimas, motorista e passageiro, foram levadas para o Hospital das Clínicas. Uma delas, um empresário de 38 anos, quebrou a clavícula e a outra, de 23 anos, morreu.

As investigações do 11.º DP concluíram que o carro havia sido adulterado e, por isso, há suspeita de que houve racha. Mas o caso segue sem esclarecimento. No boletim de ocorrência, o registro é de "lesão corporal culposa na direção de veículo automotor".

"O problema desses casos é que, dependendo da justificativa do motorista e das características do acidente, não se pode configurar como racha. É preciso buscar imagens, testemunhas que possam provar que houve, de fato, a disputa", explica a delegada Luciara de Cássia.

Cultura

Para o médico Dirceu Rodrigues Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), falta presença ostensiva de policiais na região dessas disputas ilegais.

"Todos conhecem os pontos de racha. Só a presença do policial nesses pontos já inibiria a realização desse tipo de evento", diz.

Ele destaca ainda a necessidade de se implementar a educação de trânsito nas escolas. "O sujeito adquire a primeira CNH, um passaporte para a maioridade, e passa a experimentar aquilo que já vivenciava na infância: a competição com os colegas. Ele traz uma fantasia da infância para a vida adulta. É preciso mudar essa cultura", afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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