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Pai acusa supermercado do Rio de racismo contra seu filho

Andre Couto viu seu filho, de 12 anos, ser abordado por um segurança no supermercado Princesa, da rua das Laranjeiras, zona sul do Rio

Rio de Janeiro: o supermercado disse que está apurando a acusação (Rodrigo Soldon/Flickr)

Rio de Janeiro: o supermercado disse que está apurando a acusação (Rodrigo Soldon/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de junho de 2017 às 17h22.

São Paulo - No último sábado, 10, o educador carioca Andre Couto foi com seu filho ao mesmo supermercado que costuma ir quase todos os fins de semana, o Princesa da rua das Laranjeiras, zona sul do Rio de Janeiro.

Quando estava passando as compras no caixa, André viu seu filho, de 12 anos, ser abordado por um segurança - o pai acredita que o motivo foi racismo.

"Quando estava no caixa, havia uma gôndola perto do caixa onde os mercados deixam doces e chocolates e, quem tem criança sabe, nessa hora elas costumam pedir para levar alguma coisa. Então meu filho pegou um Kinder Ovo e não tinha a etiqueta de preço, então ele foi ver o preço naquelas máquinas. Quando eu viro, vejo ele sendo abordado por um segurança, que tirou o Kinder Ovo da mão do meu filho e estava dando tapinhas nas costas dele para ele ir embora, dizendo 'sai, vai, vai'. Eu tomei um susto com isso e fui até meu filho", contou Couto ao E+, seção de entretenimento do portal do jornal O Estado de S. Paulo.

Assim que viu o segurança fazer isso com seu filho, o pai quis explicações.

"Na hora em que ele percebeu que o Everton não estava sozinho, ele pediu desculpas. Eu disse que não aceitaria e queria entender por que essa atitude, o que meu filho havia feito para ele ter saído de onde estava, ido até meu filho, tirado o chocolate da mão dele e dito que ele tinha que sair da loja. Porque não há comportamento mais trivial que pessoas pegando produtos e verificando preço. Se ele tivesse pego o produto e atravessado a linha dos caixas e se dirigido à rua, mas apenas pegar um produto e ver o preço não causa suspeita alguma. Eu só pude interpretar como uma atitude preconceituosa", relembra.

O funcionário justificou que outro cliente havia dito que um menino estava tentando roubar algo.

O educador então questionou quem havia feito a acusação, e o segurança apontou para a saída, como se a pessoa já estivesse deixado o local.

Então o gerente chegou ao local, convidou Couto para se dirigir a uma sala privada, onde conversaram.

"Ele falou que a atitude do segurança não tinha nada a ver com alguma orientação do supermercado", disse Couto.

O educador então se retirou do local. Ao chegar em casa, decidiu contar o ocorrido em seu perfil do Facebook, a fim de denunciar o que considerou uma atitude racista.

O post já foi curtido por mais de 7 mil pessoas e foi compartilhado mais de 1.700 vezes.

"Saí muito abalado com a situação, porque, cotidianamente, a gente vive situações parecidas com essa, de pessoas nos olharem e já definirem coisas que não são verdadeiras. O mercado estava cheio, era sábado, uma hora da tarde, cheio de crianças. Por que o Everton foi abordado? Ele foi o único que foi confundido, que foi parado, isso porque ele tem características físicas que fazem com que esse segurança entenda que ele é uma ameaça", comenta o pai.

A reação do filho, conta o pai, foi de susto:

"Ele ficou assustado, e a primeira coisa que fez foi olhar para mim para dizer que não havia feito nada".

O único lado positivo da situação, porém, foi poder conversar abertamente sobre o assunto com o filho.

"Pude abordar o assunto, explicar que essas coisas infelizmente acontecem, como a gente deve se comportar quando uma situação como essa acontece, e deixar claro que isso não é normal, não é uma atitude que deve ser naturalizada", disse.

Segundo o pai, é a primeira vez que passa por essa situação com seu filho, que foi adotado há pouco mais de um ano.

O pai diz que ele mesmo já foi vítima de racismo antes, mas que, dessa vez, sua reação foi diferente:

"A sensação é que você precisa agir de forma muito firme, porque eu não posso permitir que fique na memória dele a ideia de que alguém simplesmente possa abordá-lo dessa forma".

O educador não pretende entrar com um processo judicial contra o mercado, mas já foi até à 9ª Delegacia de Polícia do Catete registrar a ocorrência e, a partir de agora, haverá uma investigação.

Ele diz que, mais importante do que reparar os danos a ele, é que a política interna dos funcionários mude e que o racismo seja debatido e amadurecido dentro do supermercado.

Ele ainda disse que, por hora, pretende deixar de frequentar o supermercado.

Aos pais que passam pela mesma situação, ele aconselha:

"Não se sintam culpados, principalmente. E não vejam esse tipo de situação como algo menor, algo que pode ser relevado. Isso é efetivamente algo sério, que precisa ser combatido com veemência, porque quem tem filhos, especialmente filhos negros, sabe que o tempo inteiro nós, como pais, tomamos uma série de medidas consciente ou inconscientemente para proteger nossos filhos de situações como essa, seja impedindo que entrem sozinhos numa loja, seja se esmerando para que estejam sempre bem vestidos. Você fica o tempo inteiro com o olhar de proteção, informando aos outros que o filho tem responsável, daí vem a minha dor: eu me distraí por 30 segundos, e aconteceu isso. Eu deveria poder me distrair e não acontecer nada com meu filho", completa.

Em contato telefônico, o Supermercado Princesa disse que está apurando a acusação.

"Encaminhamos ao setor jurídico, que está em contato com o cliente, porque, claro, aqui ninguém compactua com nenhuma forma de discriminação", disse um representante da empresa.

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