Brasil

Pacientes com câncer sofrem por causa de greve

O quimioterápico xeloda está em falta por conta da greve dos servidores da Anvisa


	Cartela de remédios: por meio de nota, a Anvisa informou que “não recebeu nenhuma notificação de desabastecimento de medicamentos"
 (stock.XCHNG)

Cartela de remédios: por meio de nota, a Anvisa informou que “não recebeu nenhuma notificação de desabastecimento de medicamentos" (stock.XCHNG)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2012 às 16h58.

São Paulo – O hospital filantrópico A.C. Camargo poderá mudar o tratamento de aproximadamente 50 pacientes em decorrência da falta do quimioterápico xeloda. Segundo a assessoria de comunicação do hospital, que é referência em São Paulo no combate à doença, o fabricante não forneceu o remédio alegando que a matéria-prima importada está retida por causa da greve dos servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A previsão do laboratório é fazer a entrega somente na primeira quinzena de setembro, informou o hospital. Nesse caso, os tratamentos serão modificados. A alternativa ao xeloda (via oral) é a quimioterapia intravenosa - procedimento que exige a internação do paciente e a aplicação do medicamento pode durar de duas a seis horas. Caso o xeloda seja entregue até o final do mês, não será necessário mudar o tratamento.

O administrador de obras Almir Braz, de 45 anos, iria começar o segundo ciclo de quimioterapia para tratar um câncer no aparelho digestivo, quando foi informado da falta do medicamento. “Preciso fazer três ciclos, de 21 dias, para evitar o retorno da doença [após a cirurgia]”, explica. Ele está insatisfeito com a mudança, pois avalia que a internação altera a rotina do tratamento e pode influenciar na recuperação. “Queria ficar junto com a minha família. Essa proximidade cria uma bola de neve positiva que contribui para a superação da doença.”

De acordo com o hospital, a troca de medicação não interfere no tratamento, pois há histórico de pacientes que demonstram uma boa resposta clínica à substituição. O hospital estima ainda que os estoques de, pelo menos, outros dez remédios podem acabar, caso a greve persista por mais duas ou três semanas.


Para o secretário-executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), Carlos Eduardo Gouvêa, o desabastecimento é resultado da falta de inspeções da Anvisa. “Tínhamos um estoque inicial, mas com o prolongamento da greve, não se conseguiu manter a produção”, explicou.

Apesar do retorno de 70% dos servidores da agência reguladora, a entidade avalia que as liberações de importações ainda ficarão emperradas. “Há um limite de 20 liberações de importações por empresa, quando existem empresas com até 200 a serem feitas.”

Gouvêa aponta que o problema ocorre em todo o Brasil, conforme levantamento feito pela câmara com as 413 associadas. Segundo ele, diferentes exames podem deixar de ser feitos.
Foi o que ocorreu com o jornalista Sérgio Coelho, de 52 anos, que compareceu a um laboratório no último sábado (18) para fazer uma bateria de exames, mas teve de adiar o teste de dosagem de insulina. “Não pude fazer porque o material estava em falta por causa da greve. Foi o que eles disseram. Pediram para que eu entrasse em contato na próxima semana”, relatou.

O Sindicato Nacional dos Servidores das Agências de Regulação (Sinagência) informou à Agência Brasil que as cargas perecíveis e medicamentos estão sendo liberados. “Estamos trabalhando de dez a 11 horas por dia para garantir a liberação das cargas. Esse problema pode estar ocorrendo nos estados em que fiscais estaduais assumiram o trabalho”, disse Ricardo de Holanda, diretor de comunicação do sindicato.

Por meio de nota, a Anvisa informou que “não recebeu nenhuma notificação de desabastecimento de medicamentos, alimentos ou produtos para a saúde”. Dos 1.622 servidores, 1.185 estão trabalhando, conforme levantamento feito no dia 14 de agosto pelo setor de recursos humanos da agência. Por fim, reforça que o governo federal continua as negociações com a categoria.

Acompanhe tudo sobre:AnvisaCâncerDoençasGrevesSaúdeSaúde no Brasil

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 23 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP