VELÓRIO EM MANAUS: tragédia provocou um jogo do empurra entre estado e União / Ueslei Marcelino/ Reuters
Da Redação
Publicado em 4 de janeiro de 2017 às 18h05.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h36.
A tragédia de Manaus, onde 56 pessoas foram assassinadas no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, chegou, enfim, ao mundo político nesta quarta-feira. Ninguém, obviamente, quer se responsabilizar pela tragédia. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, continua com o discurso de que o governo do Amazonas, responsável pela direção do complexo, foi alertado do risco de fuga e chacina na unidade. Tentou também abafar a motivação das mortes — uma briga entre facções criminosas pelo controle de rotas de entrada de drogas no país —, pois o controle de fronteiras cabe à União.
A resposta veio torta: o governador José Melo (Pros) afirmou, em entrevista à Rádio CBN, que o problema da superlotação nos presídios é “comum” a todos os estados. Mais uma vez, passou a peteca ao governo federal, que reduziu os investimentos em construção de novas unidades de 111,5 milhões para 12,6 milhões de reais entre 2014 e 2015, segundo dados do Fundo Penitenciário Nacional. Arrematou dizendo que, entre os mortos, “não havia nenhum santo”.
No meio do caminho está a chefe do Judiciário. A presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia, vai amanhã a Manaus discutir a melhor forma de direcionar as ações e cobrar atualização nas pesquisas sobre os centros de detenção brasileiros.
Um silêncio sentido foi o do presidente Michel Temer. Desde a rebelião no Compaj, iniciada dia 1º, o chefe de Estado não se pronunciou sobre o assunto. Preferiu convocar na tarde desta quarta-feira uma reunião ministerial para amanhã, às 10 horas, para discutir a situação carcerária no país. Estarão lá Alexandre de Moraes e os ministros da Defesa, Raul Jungmann, da Advocacia Geral da União (AGU), Grace Mendonça, do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchengoyen, e da Transparência, Torquato Jardim. Mas com o aumento da pressão, aliados vêm se questionando se não é o caso de uma declaração pública.
É uma guerra de gangues, essa ação resultou em mortes horrorosas. Isso é uma guerra suja, e eles não estão se importando com as consequências”, disse o prefeito de Manaus, Artur Virgílio Neto (PSDB). “Eu estou muito assustado. Ou, depois disso, se assume de vez o combate a essas facções e o Estado age prontamente ou eles vão se infiltrando na política e daqui a pouco dominarão tudo”, disse o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM).