CAMPANHAS: com 1,1 milhão de reais gastos, Bolsonaro conquistou 28% dos votos / REUTERS | Adriano Machado (Adriano Machado/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2018 às 14h54.
Última atualização em 26 de setembro de 2018 às 17h21.
Se dinheiro gasto fosse sinônimo de votos, o cenário eleitoral seria muito diferente do que é. Com as mudanças nas regras do financiamento — que fixa limites de custos de campanha e regulamenta a distribuição do fundo eleitoral –, muitos candidatos perderam os volumosos orçamentos que antes eram uma realidade.
A diferença entre os volumes de gastos é assombrosa: em 2014, duas campanhas, de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) gastaram 573 milhões de reais (ou 724 milhões em valores corrigidos). No total, a campanha de 2014 custou 6,3 bilhões de reais. Até esta quarta-feira, as campanhas presidenciais de 2018 gastaram 130,4 milhões de reais, segundo dados divulgados ao Tribunal Superior Eleitoral.
A diferença de patamar se explica: mudanças na lei eleitoral vetaram a doação de empresas para este ano. Em 2014, o grupo JBS, sozinho, doou 69 milhões de reais — os objetivos ficaram claros com as investigações da operação Lava-Jato, que levaram seus controladores à prisão.
Dilma Rousseff, candidata que mais gastou nas eleições de quatro anos atrás, torrou 350 milhões de reais, e conquistou 40% dos votos no primeiro turno. Ou seja, seu gasto por ponto conquistado foi de 8,7 milhões de reais. Aécio Neves, segundo melhor colocado, gastou um total de 223 milhões de reais, e conquistou 24% das intenções de voto. O gasto médio por ponto foi, portanto, de 9 milhões de reais. Dilma venceu as eleições, mas sofreu impeachment em 2016.
Em 2018, as principais fontes de financiamento dos partidos são um recém-criado fundo público de campanhas que distribuiu 1,7 bilhão de reais e doações pessoais. As mudanças no financiamento, e a evolução do uso de redes sociais pelos candidatos, mudaram a dinâmica dos gastos eleitorais. Nunca antes na história desse país dinheiro foi tão pouco importante para a conquista de votos.
Dinheiro, claro, continua importante para a produção de programas, impressão de santinhos, contratação de cabos eleitorais, e viagens Brasil afora. Mas está longe de ser garantia de sucesso. Henrique Meirelles (MDB), é o candidato que mais gastou até agora (43 milhões de reais), boa parte com financiamento próprio. Ainda assim, tem, segundo o último levantamento do Ibope, 2% das intenções de voto. Ou seja: cada ponto percentual de Meirelles custou 21,5 milhões de reais, quase o triplo do gasto por eleitor de Dilma em 2014.
Do outro lado da moeda está Jair Bolsonaro (PSL), que com apenas 1,1 milhão de reais investidos conquistou 28% das intenções de voto no primeiro turno graças ao uso intensivo de redes sociais para compensar os míseros oito segundos que sua chapa tem de tempo de televisão. Na média, Bolsonaro gastou apenas 39.000 reais por eleitor, de longe o menor investimento da história recente das eleições nacionais.
O total gasto em 2018 é menor até do que nas eleições de 16 anos atrás, quando os dois primeiros colocados, sozinhos, gastaram 195 milhões de reais, em valores atualizados. Naquela época, a correlação entre gasto e voto era mais nítida. A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva gastou 39 milhões de reais (cerca de 104 milhões de reais em valores corrigidos), e obteve 46% dos votos no primeiro turno. Ou seja, cada ponto percentual custaria, em valores atuais, 2,2 milhões de reais. O segundo colocado, José Serra (PSDB), gastou 34 milhões de reais, ou 91 milhões em valores atuais, e levou 23% dos votos: 3,9 milhões por ponto percentual.
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O que mudou nesta eleição? Para Gaudêncio Torquato, cientista político especialista em marketing político, o financiamento pode contribuir para aumentar a visibilidade dos candidatos, mas só se destacarão aqueles que corresponderem às demandas da população. “Hoje o eleitor está mais atento, cobrando mais resultados e mais transparência dos candidatos. Então não adianta o candidato querer manter os costumes políticos de 10 anos atrás”, diz.
Um exemplo pode ser a campanha do tucano Geraldo Alckmin, que empata em gastos com a de Meirelles: 43 milhões de reais. Apesar disso, Alckmin não consegue decolar nas pesquisas, o que faz com que atualmente cada um dos 8 pontos percentuais que tem nas pesquisas de intenção de voto tenha custado 5,3 milhões de reais.
Para Torquato, as campanhas endinheiradas ainda podem surtir efeito em regiões mais periféricas, onde a comunicação ainda é limitada. “Nos ‘fundos’ do Brasil ainda há mais disputa pelo voto do boca a boca, e então as campanhas mais endinheiradas podem conquistar mais votos”, afirma. Mas, para ele, a população média tem acompanhado mais de perto seus candidatos, com muita atenção às redes sociais, e por isso exige mais do que somente publicidade.
Mas redes sociais também não fazem milhares. Para Torquato, elas são utilizadas para consolidar votos e firmar posições. “Redes sociais ajudam na animação das militâncias, mas não atraem votos”, ressaltou. Mais do que nunca, é a capacidade do candidato de se comunicar com seus eleitores que fará a diferença em 2018. Meirelles pode até ser o mais endinheirado, mas, neste quesito, vai para o fim da fila.