Presidente Michel Temer (Adriano Machado/Reuters)
Valéria Bretas
Publicado em 1 de agosto de 2017 às 06h00.
Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 09h10.
São Paulo – Nesta quarta-feira (2), o plenário da Câmara dos Deputados vai decidir se autoriza ou não o Supremo Tribunal Federal (STF) a analisar a denúncia feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel Temer (PMDB). O presidente á acusado de receber 500 mil reais em vantagem indevida ofertada pelo empresário Joesley Batista, um dos donos do frigorífico JBS.
Para barrar a ação da PGR e garantir o mandato, o peemedebista precisa que pelo menos 172 parlamentares aprovem o relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que pede a rejeição da denúncia. A expectativa do Palácio do Planalto é concluir a votação com um placar entre 230 e 250 votos pró-Temer.
EXAME.com consultou dois especialistas para comentar os cenários que cercam a denúncia contra o presidente. Veja a seguir:
Segundo cálculo da consultoria Prospectiva, mesmo com índice de traição de 15% nos partidos que fecharam apoio ao presidente, o governo teria uma boa margem para barrar a denúncia de Janot na Câmara.
Segundo o coordenador de análise política da Prospectiva, Thiago Vidal, o único fator que comprometeu a imagem do governo nas últimas semanas foi o aumento do imposto sobre combustíveis. “É claro que tudo ainda pode acontecer até o dia da votação, mas, no geral, o governo reanimou os ânimos com a divulgação dos resultados positivos na economia”, diz.
Para Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper, quando a gravação entre Temer e Joesley Batista foi divulgada, a impressão era de que o governo iria, de fato, cair. “Gradativamente, no entanto, o presidente conseguiu manter uma aliança com os partidos e mostrou que o seu capital político continua forte”, afirma. “Na prática, o governo tem oferecido moedas de troca para garantir apoio político”, diz.
Somente no primeiro semestre do ano, o governo federal distribuiu 4,1 bilhões de reais em emendas para parlamentares. Segundo levantamento da ONG Contas Abertas, a maior parte da liberação dos recursos aconteceu no mês de julho: 2,1 bilhões de reais foram empenhados no período. A “generosidade” do peemedebista é vista como um esforço para tentar barrar a denúncia.
O cientista político do Insper diz ainda que, se nenhum fato novo vier à tona nos próximos dias, a vitória será folgada no plenário. “Existe a possibilidade de um efeito manada no final da votação”, diz. “Alguns deputados esperam até o último minuto para ver o resultado que será desenhado. Afinal, existe um custo político de se posicionar contra o governo”.
Outro cenário possível citado pelos especialistas é de a votação ser adiada por falta de quorum. Para iniciar a sessão, 51 parlamentares devem estar presentes, mas a votação só será aberta com a presença de 342 deputados.
Além de os partidos de oposição estudarem não participar da sessão, historicamente a primeira semana após o recesso parlamentar costuma ser esvaziada.
“Vale destacar que os deputados não costumam vir para Brasília em um dia para voltar para casa no outro. Ou seja, por ser quarta-feira, há um risco muito grande de ausência”, diz Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, por sua vez, afirmou na última sexta-feira (28) ter certeza que haverá quorum. "Nosso papel é votar. Não votar é manter o País parado neste momento ainda de muitas dificuldades” disse. “Não podemos deixar o paciente no centro cirúrgico com a barriga aberta".
Há a expectativa de que a PGR apresente duas novas denúncias contra Temer pelos crimes de obstrução de Justiça e organização criminosa. Para Fernando Schüler, cientista político do Insper, o governo tem força para segurar mais uma votação. No entanto, o grau de incerteza é maior no caso de uma terceira.
“Para o governo, o ideal é que a PGR aglutine as duas acusações em uma ação só, pois evitaria o desgaste de duas novas votações”, diz.
Segundo Thiago Vidal, da consultoria Prospectiva, apresentar duas denúncias em momentos diferentes é um jeito de encurralar o governo. “Estrategicamente, do ponto de vista da PGR, o mais razoável seria lançar a segunda acusação logo após a votação de quarta-feira”, afirma. "Afinal, quanto mais esse processo se estender, maior será o risco de o presidente perder o seu apoio político no Congresso".
De acordo com Thiago Vidal, coordenador de análise política da Prospectiva, Temer tem caminhado para a manutenção do mandato até 2018.
“Não se pode negar que a gestão atual tem surpreendido em sua capacidade de reagir a crise”, diz Vidal. “Muitas pessoas não entendem como ele ainda está no cargo, mas isso sugere que apenas um fato apocalíptico poderia tirar o presidente do poder”.
"O fato é que a oposição também está má-posicionada, pois a crise é no centro político como um todo", diz Fernando Schüler, cientista político do Insper.
Segundo o especialista, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff existia a ideia de uma alternativa para o processo de corrupção. “Essa percepção de 2016 não existe mais. Trocar de presidente nesse momento só vai tonificar a instabilidade política e econômica do país, e os brasileiros sabem disso”.