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Os aprendizados da pandemia e o futuro da indústria farmacêutica

OPINIÃO | A pandemia nos deixou um legado de destruição e sofrimento, mas também demonstrou que o Estado e a iniciativa privada, quando cooperam um com o outro, podem produzir feitos incríveis

Pandemia: COVID-19 mudou a saúde pública em todo o mund (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Pandemia: COVID-19 mudou a saúde pública em todo o mund (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Publicado em 13 de setembro de 2023 às 06h56.

Uma das heranças da pandemia de COVID-19, ao redor do mundo, foi transformar a saúde pública e o desenvolvimento do complexo econômico e industrial da saúde em temas centrais para a segurança nacional.

O impacto da pandemia nas vidas das pessoas rapidamente se alastrou para a economia e, em 2020, o nível de atividade se contraiu em 90% dos países. Um impacto tão disseminado não ocorreu nem nas duas guerras mundiais nem na Grande Depressão dos anos 30, segundo o Banco Mundial. As sucessivas ondas de contaminação desestabilizaram a produção mundial e, com isso, o funcionamento das cadeias globais de valor. A escassez em vários mercados impactou o comércio internacional de bens e produziu profundos impactos sobre a inflação ao redor do mundo.

Nos anos que se seguiram à eclosão da pandemia, a perda de renda em decorrência do desemprego se somou à perda de poder de compra dos salários provocada pela inflação. As estimativas do impacto para a próxima geração são igualmente desastrosas: Banco Mundial, UNESCO e UNICEF (2022) estimavam em US$ 17 trilhões o valor presente das perdas de rendimento ao longo da vida dos estudantes afetados pelo fechamento de escolas durante a pandemia.

Esse conjunto de efeitos motivou governos ao redor do mundo a lançar planos visando evitar que a eventualidade de uma nova crise sanitária no futuro provoque perdas humanitárias e econômicas na proporção vista na sequência de 2020. O elemento central nesses planos é a busca da resiliência de cadeias produtivas estratégicas, sendo a da indústria farmacêutica uma das mais importantes, pois o grau de interdependência entre os países para a produção de medicamentos passou a ser visto como vulnerabilidade. Esses movimentos internacionais motivaram o Grupo FarmaBrasil a elaborar um mapeamento das iniciativas internacionais de fortalecimento da indústria farmacêutica.

A priorização do setor farmacêutico nas estratégias internacionais estudadas tem diversas motivações, a começar pela garantia de acesso a insumos e medicamentos na eventualidade de uma nova crise sanitária. A crise sanitária da COVID-19 e a disputa pelo fornecimento de bens críticos que se seguiu a ela evidenciou a relação entre dependência externa e vulnerabilidade do acesso à saúde globais, sujeitas até mesmo a medidas unilaterais de governos estrangeiros que estabeleceram barreiras às exportações de produtos na área da saúde.

Além disso, estudos econômicos revelam que melhores condições de saúde têm impacto relevante sobre o crescimento do PIB, decorrentes dos fortes vínculos entre saúde e produtividade. Por fim, o setor farmacêutico éaltamente intensivo em tecnologia e o que mais investe em P&D no mundo, de modo que o seu desenvolvimento também alimenta o crescimento da produtividade, fundamental para o crescimento econômico e o desenvolvimento dos países no longo prazo.

Nesse contexto, o conceito de resiliência não se limita à ampliação da capacidade produtiva, mas também àevolução tecnológica e à maior diversificação de fornecedores. Ou seja, ficou claro que o acesso à saúde de qualidade, com ampliação da oferta e redução de custo, depende da criação de capacidade produtiva e inovadora no país que garanta os insumos, medicamentos e a estrutura necessária para objetivamente viabilizar o amplo acesso almejado.

Olhando para o Brasil, a vulnerabilidade do SUS é evidenciada pelo crescente déficit comercial do setorfarmacêutico, cada vez mais concentrado em produtos inovadores. A agenda, portanto, é uma agenda de estímulo e de remoção de barreiras internas à inovação.

A boa notícia é que o Brasil está relativamente bem posicionado para adotar uma estratégia de desenvolvimento produtivo e tecnológico visando ampliar a resiliência e a sustentabilidade da saúde. Ao longo das últimas décadas, construímos um ecossistema integrado por um sistema de saúde com o porte do SUS, por uma agência com a qualidade e a reputação da ANVISA e por uma estrutura produtiva e tecnológica composta por universidades e instituições de pesquisa altamente capacitadas e uma base industrial com o centro de tomada de decisão no país, a exemplo das empresas associadas ao Grupo FarmaBrasil. Foi a solidez desse ecossistema que permitiu que o país assegurasse a oferta de medicamentos essenciais ao enfrentamento da pandemia da COVID-19.

A pandemia nos deixou um legado de destruição e sofrimento, mas também demonstrou que o Estado e a iniciativa privada, quando cooperam um com o outro, podem produzir feitos incríveis. As exigências da COVID nos forçaram a avançar na esfera regulatória e no desenvolvimento de políticas públicas. Se aproveitarmos as experiências bem-sucedidas para avançar em uma estratégia de desenvolvimento baseada na inovação, em pouco anos colocaremos a indústria farmacêutica em outro patamar tecnológico.

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