Weintraub: gestão foi marcada por desafetos e derrotas e uma série de episódios que chamaram a atenção (Adriano Machado/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 18 de junho de 2020 às 16h15.
Última atualização em 18 de junho de 2020 às 16h41.
Abraham Weintraub, um dos ministros mais polêmicos do governo Bolsonaro, deixou hoje o cargo após cerca de 14 meses de gestão.
Neste período no Ministério da Educação, ele colecionou desafetos e derrotas e uma série de episódios que chamaram a atenção. Veja alguns deles:
Na reunião ministerial do dia 22 de abril, que teve a divulgação liberada no âmbito da investigação sobre interferência na Polícia Federal disparada pelo pedido de demissão de Sergio Moro, Weintraub diz:
“Isso daqui é um cancro de corrupção, de privilégio. Eu tinha uma visão extremamente negativa de Brasília. Brasília é muito pior do que eu podia imaginar”, diz ele. "O povo tá querendo ver o que me trouxe até aqui. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”, completa.
No início do mês, em meio à pandemia do coronavírus, Weintraub publicou em seu Twitter um post insinuando que os chineses se beneficiaram da pandemia e usou a forma do personagem Cebolinha falar trocando o “r” pelo “l”, em uma referência ao sotaque de chineses que falam português. O embaixador da China, Yang Wanming, chamou Weintraub de racista e o ministro apagou a publicação.
Weintraub compareceu à sede da Polícia Federal na quinta-feira, 4, para prestar depoimento no caso, mas se negou a responder às perguntas da PF e entregou suas declarações por escrito.
Assim que assumiu, Weintraub contingenciou 2,4 bilhões de reais para programas da educação infantil ao ensino médio e anunciou um contingenciamento de 30% no orçamento de universidades federais que promovessem “balbúrdia” e tivessem desempenho acadêmico abaixo do esperado.
Também foram suspensas 3.400 bolsas para estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Em reação, estudantes e simpatizantes da causa foram às ruas de 190 cidades em 15 de maio, no maior protesto registrado neste primeiro ano de governo. Houve mobilizações em outras duas datas, e em setembro, o MEC anunciou o descontingenciamento de cerca de 1,990 bilhão de reais da pasta.
Em junho, a Capes também bloqueou outras 2.700 bolsas de pós-graduação. Em novembro, cerca de 2.400 já haviam voltado à ativa e todos os recursos haviam sido descontingenciados.
Desde o início da pandemia, Weintraub resistiu a todos os apelos para mudar os prazos do Exame Nacional do Ensino Médio 2020, principal porta de acesso para ensino superior no país.
Houve uma campanha publicitária com o lema “O Brasil não pode parar” e estudantes secundaristas incentivando o ensino à distância.
Especialistas em educação foram unânimes no alerta de que manter a data poderia aumentar ainda mais as já profundas desigualdades educacionais no país, já que estudantes com melhor renda têm possibilidades mais amplas de manter seus estudos durante a pandemia.
A Câmara dos Deputados divulgou no fim de novembro um relatório de 265 páginas, feito por uma comissão parlamentar que indicou paralisia no planejamento e execução de políticas públicas pelo MEC.
Na lista dos problemas identificados estão desde a falta de ações concretas para o fomento da alfabetização até a alta rotatividade de funcionários comissionados. O MEC alega que programas serão lançados em breve e que o descontingenciamento foi recente.
A coordenadora da comissão, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP), avaliou 2019 como um ano perdido na educação.