Idade tem sido sinônimo de exclusão digital, e o alerta cresce quando vemos que nossa população está envelhecendo, escreve Tadeu Barros e José Frederico Lyra (Agibank/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 25 de março de 2025 às 06h00.
Por Tadeu Barros e José Frederico Lyra Netto*
Uma parcela da população tem sido esquecida na era digital. O Brasil tem se esforçado para aumentar os domicílios com acesso à internet, chegando a 93% em 2023, segundo o IBGE. Quando olhamos para os idosos, porém, esse número despenca para 66%, a menor proporção de uso da tecnologia entre todas as faixas etárias - ainda que esse percentual seja quase três vezes maior do que o de sete anos atrás, de 24,7%. Idade tem sido sinônimo de exclusão digital, e o alerta cresce quando vemos que nossa população está envelhecendo.
Um dos motivos para essa exclusão é que muitas pessoas acima de 60 anos nunca tiveram a oportunidade de aprender a usar a internet e suas ferramentas. Esse público é também um dos principais afetados pelos serviços públicos que são totalmente digitais ou híbridos. Tratando desse aspecto, a Comissão de Comunicação e Direito Digital (CCDD) do Senado aprovou no final do ano passado o projeto de lei que estabelece a inclusão digital dos idosos como estratégia prioritária da Política Nacional de Educação Digital (Pned).
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Em paralelo, diversas políticas públicas estaduais têm se mostrado eficazes para melhorar a conectividade da população idosa, promovendo a inclusão digital e prevenindo fraudes.
No estado de Goiás foi colocado de pé um projeto inovador de inclusão digital para o público idoso, o “Cidadão Tech 60+”. A iniciativa trabalhou com uma hipótese: pessoas com mais de 60 anos podem aprender o básico da internet e do mundo digital, de forma segura. O programa veio como parte do Goiás Social, conjunto de iniciativas do governo estadual focadas em pessoas com vulnerabilidade social.
O curso implementado é prático, com foco no uso do celular, mas também há a opção do uso do computador para incluir aqueles que não possuem dispositivos móveis ou que nunca tiveram o acesso a um computador.
Os idosos aprendem não só a entrar na internet, mas também a operar aplicativos bancários, navegar nas redes sociais, a identificar golpes cibernéticos e desinformação, e a usar serviços públicos digitais. Para celebrar a conclusão, há uma cerimônia de formatura, com direito a beca e orador de turma. A primeira formatura da vida da maioria deles.
Essa política teve início em 2023 e já formou algumas centenas de goianos com mais de 60 anos. A taxa de evasão é de 18%, um número baixíssimo em se tratando de cursos de tecnologia — e uma taxa de satisfação que alcança 86%.
O impacto na vida dessas pessoas é enorme, tanto que o programa venceu, no fim de 2024, o Prêmio Liderança Pública do Centro de Liderança Pública (CLP) na categoria Iniciativa de Impacto.
Na era da inteligência artificial, o foco deve ser em formar as novas gerações. É um movimento correto, pensando na competitividade do país. A era digital, porém, requer também inclusão. E por que não abordar esse desafio na forma de uma jornada?
Nossas crianças precisam ser introduzidas de forma responsável à tecnologia enquanto os jovens devem conseguir aplicá-las, e devemos incentivar que mais deles vão para cursos de STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática).
Pela primeira vez na história, na Universidade Federal de Goiás, os cursos de inteligência artificial e engenharia de software tiveram nota de corte maior do que o de medicina em 2025. A inteligência artificial, aliás, está cada vez mais presente na medicina.
Por fim, os idosos não podem ser excluídos. Eles cabem e têm direito à vida digital. Um país que investe na inclusão digital dos idosos está promovendo o respeito aos direitos humanos e garantindo que qualquer cidadão possa usufruir dos benefícios de um mundo cada vez mais digitalizado. A exclusão digital é a exclusão da sociedade! Entramos em uma nova era. Que, nela, não deixemos ninguém para trás.
*Por Tadeu Barros é diretor-presidente do CLP
*José Frederico Lyra Netto é secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação de Goiás