Militares no Rio: segundo pesquisador, “combate ostensivo da criminalidade” virou norma. (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Vanessa Barbosa
Publicado em 9 de julho de 2019 às 17h20.
Última atualização em 10 de julho de 2019 às 13h45.
O número de operações policiais no estado do Rio de Janeiro aumentou em 42% de março a junho deste ano, em relação ao mesmo período de 2018, passando de 203 para 288. Os números são do Observatório da Segurança-Rio, uma rede de pesquisadores lançada no dia 28 de maio, apresentados hoje (9).
O trabalho é feito com a coleta de dados dos indicadores oficiais, da imprensa, da sociedade civil e das redes sociais. O levantamento é comparado com o início da intervenção federal, iniciada no estado em meados de fevereiro do ano passado.
O coordenador da pesquisa, Pablo Nunes, destacou que, embora em número maior, as operações têm tido menos articulação entre as forças de segurança e também menos ações baseadas em inteligência, ficando apenas no “combate ostensivo da criminalidade”.
“Se durante a intervenção a gente tinha 30% das operações com ao menos duas agências de segurança, seja Polícia Militar, Polícia Civil ou Forças Armadas trabalhando em conjunto para combater a criminalidade, esse percentual diminuiu para 3% este ano. A gente tem visto que, com a exclusão da Secretaria de Segurança Pública, houve um efeito drástico nessas operações, que têm sido feitas pelas polícias de forma completamente desarticulada com a outra”, explicou.
Os dados levantados pelo observatório nas fontes oficiais, como o Instituto de Segurança Pública (ISP), consolidado até maio, também indicam aumento de 19,1% nas mortes provocadas por agentes de segurança, com um total de 731 no período, contra 614 em 2018.
“A gente também tem visto que as polícias têm respondido cada vez por maior número de proporção de mortes violentas. Nesses primeiros seis meses, o Rio de Janeiro teve 731 mortes cometidas pelas forças de segurança, e elas respondem por 28,6% do total de mortes violentas no estado, que foram 2.558”, disse o coordenador da pesquisa.
A coordenadora de pesquisas do Laboratório de Dados Fogo Cruzado, Isabel Couto, disse que o número de tiroteios registrados pelo aplicativo na região metropolitana do Rio de Janeiro diminuiu 10% este ano, o número de mortes nessas ocasiões diminuiu 2% e aumentou a presença de agentes do Estado.
“Os tiroteios que a gente está mapeando estão sendo mais letais, porque a redução é muito maior nos tiroteios do que nas mortes. A gente também teve um aumento de 25% de presença de agentes de segurança nos tiroteios mapeados. Isso significa que a nossa política de segurança está privilegiando ainda mais o confronto. Isso na comparação com 2018, quando a intervenção federal já tinha aumentado muito a ‘capacidade operacional’ do estado”.
Em nota conjunta, as assessorias de imprensa das secretarias de Polícia Militar e de Polícia Civil informaram que não iriam comentar o estudo, “por não se basear nos dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP)”. A nota destaca que muitos índices de criminalidade diminuíram este ano.
“Os homicídios dolosos, por exemplo, apresentaram uma queda de 24% nos primeiros cinco meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. O número acumulado de homicídios de janeiro a maio deste ano é o menor para o período desde 1991”, destaca a nota.
Sobre o planejamento das operações, a nota diz que “as ações da Polícia Militar e da Polícia Civil são pautadas por planejamento prévio e executadas dentro da legalidade” e que a prioridade da PM é “a prisão de criminosos e a apreensão de armas”.
“Desde o início deste ano, a corporação retirou das mãos de criminosos mais de 270 fuzis, armas de guerra contrabandeadas pelo crime organizado. A Polícia Civil elucidou 7.874 crimes em maio de 2019, 48,5% a mais do que no mesmo mês do ano passado. Os números positivos incluem homicídios, com aumento de 17,2% de elucidação, e todos os roubos (aumento de 4,3%)”.