Operação Greenfield: força-tarefa quer agora reforçar a equipe para apurar também possíveis crimes envolvendo outros fundos de pensão (Wavebreakmedia Ltd/Thinkstock/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de dezembro de 2017 às 08h27.
Brasília - A Operação Greenfield - que apura desvios nos maiores fundos de pensão do País - vai ampliar em dez vezes o número de investimentos que serão investigados por suspeita de corrupção.
Quando foi deflagrada, em setembro de 2016, a força-tarefa sediada em Brasília teve como alvo dez operações feitas pelas entidades de previdência ligadas a estatais: Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Postalis (Correios) e Funcef (Caixa).
Agora, os procuradores da Operação Greenfield esboçaram um plano de ação e buscam reforço para investigar cerca de 100 investimentos suspeitos.
Os fundos de pensão fecharam 2016 com rombo de R$ 70,6 bilhões, segundo levantamento da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), o xerife do setor.
O dado preocupa por causa da rápida expansão do déficit do sistema, que subiu 700% em quatro anos - em 2012, o buraco era de R$ 9 bilhões.
O rombo subiu para R$ 21 bilhões em 2013 e para R$ 31 bilhões no ano seguinte. O ápice foi em 2015, quando somou R$ 77,8 bilhões.
Um plano de aposentadoria registra déficit quando os ativos não são suficientes para pagar os benefícios previstos até o último participante vivo do plano.
Além de supostos casos de desvio em algumas entidades, a longevidade da população e o resultado dos investimentos feitos na Bolsa são as principais dificuldades que vêm sendo enfrentadas pelos fundos.
A meta dos investigadores é identificar qual parcela desse rombo está relacionada a falcatruas.
Quando a operação foi deflagrada, os investigadores estimaram que o prejuízo com fraudes somava R$ 8 bilhões. No entanto, na medida em que novas evidências foram surgindo ficou claro que o esquema apurado era muito maior.
A força-tarefa quer agora reforçar a equipe para apurar também possíveis crimes envolvendo outros fundos de pensão. "Isso não quer dizer que teremos pernas e braços para trabalhar em todos os casos, vai depender muito da estrutura que nós possamos receber no futuro. Sabemos que sim, existem outras entidades em que ocorre o mesmo tipo de irregularidade", diz o procurador Anselmo Cordeiro Lopes, coordenador do grupo de investigadores.
"Nossa projeção é no mínimo dobrar nossa meta de trabalho. Se não tivermos crescimento de estrutura na força-tarefa levaremos 10 anos para aprofundar esses casos em que há indícios de ilicitudes", afirmou.
Dois dos novos casos incluídos pela Greenfield no planejamento de investigações do próximo ano são relacionados à delação do empresário Paulo Roberto Gazani Júnior, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo em novembro.
Ele afirmou aos investigadores que foram repassados R$ 715 mil ao ex-presidente do Postalis Alexej Predtchensky por meio de uma falsa doação para uma igreja.
O empresário, segundo as investigações, ajudou a estruturar um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios no extinto Banco Cruzeiro do Sul com intuito de vender créditos consignados ao Postalis.
O empresário também revelou outra operação incluída pelos procuradores na lista de investigações. Segundo ele, Predtechensky pediu propina de 3% na negociação de uma operação de debêntures envolvendo a empresa JHSF. O valor total da negociação era de R$ 75 milhões.
À época, o então presidente do fundo falava em necessidade de "honrar compromissos" com padrinhos políticos do PMDB, segundo o delator. Nos dois casos, o delator afirma que as empresas não tinham conhecimento dos pagamentos.
A Greefield teve duas fases ostensivas, quando são cumpridas medidas cautelares como prisões e buscas - uma em setembro de 2016 e outra em março de 2017. Por conta da união promovida pela Procuradoria do Distrito Federal, a força-tarefa abarcou a apuração sobre desvios na Caixa, proveniente das operações Sépsis e Cui Bono?.
Em 2017, ao focar na Caixa, a força-tarefa impulsionou as investigações ao assinar o acordo de leniência do grupo J&F e a colaboração do corretor Lúcio Bolonha Funaro. Os desdobramentos desse braço da Greenfield colocaram na cadeia os ex-deputados Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, o ex-ministro Geddel Vieira Lima e resvalaram na cúpula do PMDB da Câmara, grupo político do presidente Michel Temer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.