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Operação Contenção: 93 fuzis apreendidos têm valor estimado de R$ 5 milhões

O Comando Vermelho tomou 'um golpe que nunca tinha tomado na história', diz o secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi

Operação Contenção: deflagrada nos complexos da Penha e Alemão, já superou o número de mortos no Carandiru e é a mais letal da história policial (Mauro PIMENTEL/AFP)

Operação Contenção: deflagrada nos complexos da Penha e Alemão, já superou o número de mortos no Carandiru e é a mais letal da história policial (Mauro PIMENTEL/AFP)

Publicado em 29 de outubro de 2025 às 18h32.

Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 19h15.

O dia de caos e violência vivido pelo Rio de Janeiro na terça-feira vem apresentando números pesados.

Foram apreendidas 118 armas do Comando Vermelho (CV) na Operação Contenção, deflagrada nos complexos da Penha e Alemão nesta terça-feira, 28. Entre elas, 91 eram fuzis avaliados em R$ 5 milhões pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, segundo o Globo.

Além dos fuzis, a Polícia Civil afirma ter apreendido 26 pistolas, um revólver, 14 artefatos explosivos e toneladas de drogas. As informações foram divulgadas pela polícia em coletiva de imprensa desta quarta-feira, 29.

"Fomos no centro nevrálgico, no coração do Comando Vermelho. Eles tomaram um golpe que nunca tomaram na história deles", disse o secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, na coletiva.

Até o momento, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro divulgou um balanço atualizado com 132 mortes decorrentes da megaoperação. A Polícia Civil e o governo estadual do Rio de Janeiro dão outro número: 119 mortos.

Ambos valores superam a letalidade do Massacre do Carandiru, que teve 111 mortes. A Operação Contenção já é a mais letal da história policial brasileira.

Atuação de traficantes de outros estados

Dentre os 113 presos na operação, Felipe Curi afirma que 33 são traficantes de outros estados.

"Temos bandidos do Amazonas, temos bandidos do Ceará, temos bandidos de Pernambuco, e temos informações de inteligência que todos os bandidos que tem poder de decisão nos seus estados estão vindo para o Rio de Janeiro. Eles dão ordem de morte a partir da relativa tranquilidade que eles têm nesses locais", afirmou.

Esses traficantes são parte das "franquias" do CV fora do Rio de Janeiro e estavam abrigados nas duas comunidades, que têm territórios controlados pela facção criminosa.

De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro, o CV tem adotado estratégias de expansionismo. Parte delas são voltadas ao próprio Rio de Janeiro, onde a facção tomou 10 favelas em menos de dois anos.

Segundo o Mapa dos Grupos Armados (parceria entre o Instituto Fogo Cruzado e o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos — GENI — e a Universidade Federal Fluminense — UFF), o Comando Vermelho foi a única organização criminosa a ampliar seu controle territorial no Estado, enquanto todas as outras perderam espaço.

Entre 2022 e 2023, a organização aumentou em 8,4% as áreas sob seu controle e retomou a liderança perdida para as milícias nos anos anteriores. Com isso, passou a responder por 51,9% das áreas dominadas por grupos armados na Região Metropolitana do Rio.

Outra frente de expansão é nacional.

"Até o final de setembro, só a polícia civil tinha apreendido em cerca de um ano 449 lideranças de outros estados, fora a polícia militar, que também apreendeu centenas", disse o secretário da Polícia Civil nesta quarta-feira.

O CV apenas não está presente em presídio dos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Em todas as outras unidades federativas, há faccionados, de acordo com o Mapa das Organizações Criminosas 2024, elaborado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

Mapa das organizações criminosas (Orcrims) elaborado pelo MJSP. O grupo 'A' é o PCC e o grupo 'B' é o CV (Mapa das Organizações Criminosas 2024 / MJSP/Reprodução)

Origem do armamento do CV

Nos últimos anos, a forma com que o CV adquire armamento mudou.

Antigamente, as armas eram trazidas do Paraguai ou desviadas das forças armadas. No entanto, a descoberta de uma planilha de gastos do CV mostrou que o abastecimento é feito, pelo menos em parte, por meio de fornecedores especializados.

A planilha foi extraída pela Polícia Civil da conta de WhatsApp do traficante Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, conhecido como "Da Roça". Ela revela que o CV investiu em apenas um mês mais de R$ 5 milhões em armas e munição.

Da Roça veio de Rondônia e ascendeu nos últimos anos na hierarquia do grupo ao participar da tomada de favelas na Grande Jacarepaguá.

De acordo com a investigação da polícia, Da Roça tornou-se um dos principais arrecadadores do chamado fundo de guerra do CV, uma estrutura financeira que sustenta a compra de armas de grosso calibre usadas em confrontos.

A planilha extraída menciona gastos de R$ 1,6 milhão com cartuchos de diferentes calibres enviados por um fornecedor identificado como “Bazzana”.

Segundo a Polícia Civil, trata-se de Eduardo Bazzana, atirador esportivo certificado pelo Exército e era dono de duas lojas de armas e munição registradas no Exército. Até ser preso em maio passado, Bazzana presidia o Clube Americanense de Tiro, com mais de 7 mil associados em todo o estado de São Paulo.

A polícia também extraiu da conta de Da Roça diversos comprovantes de pagamentos feitos por pessoas apontadas como laranjas para contas pessoais de Bazzana ou de suas empresas.

As armas apreendidas na Operação Contenção ainda não tiveram sua origem rastreada, segundo a Polícia Civil. No entanto, elas podem integrar um esquema de larga escala voltado à expansão territorial do CV no Rio de Janeiro e no Brasil.

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