Brasil

ONU espera que caso Lula siga "devido processo legal"

Alto Comissariado da ONU indicou que, se for alertada sobre alguma violação grave de direitos humanos, seu escritório irá "examinar" a situação

Lula: a ONU diz que está acompanhando a situação no Brasil (Ricardo Moraes/Reuters)

Lula: a ONU diz que está acompanhando a situação no Brasil (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de abril de 2018 às 10h25.

Última atualização em 6 de abril de 2018 às 13h13.

Genebra — O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos espera que o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva siga o "devido processo legal" e confirma oficialmente que está acompanhando a situação no Brasil.

"O processo contra Lula está tramitando no sistema legal. Claro, estamos acompanhando os acontecimento", disse Elizabeth Throssell, porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, durante uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 6, em Genebra.

Throssell ainda indicou que, se for alertada sobre alguma violação grave de direitos humanos, seu escritório irá "examinar" a situação. "Houve uma decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal de que Lula deve ir para a prisão. O caso dele tramita pelo sistema", disse. "Esperamos que o caso siga o devido processo legal", insistiu.

Na ONU, a situação brasileira e a tensão política têm sido alvo de "preocupação". Mas não é apenas o caso de Lula que atrai a atenção da organização. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que chamou a atenção da entidade os ônibus atingidos por tiros enquanto integravam a caravana do ex-presidente pelo Sul do País, na semana passada. O incidente, ainda que esteja sendo investigado, foi tratado internamente na ONU como um "sinal negativo" do clima de tensão no País.

O cenário ganhou ainda um novo elemento diante das palavras do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que soaram os alertas dentro do órgão internacional.

Na ONU, o caso de Lula foi levado ao Comitê de Direitos Humanos Nações Unidas em julho de 2016, pelo advogado Geoffrey Robertson. A denúncia central era de que o juiz federal Sérgio Moro estaria sendo parcial no julgamento do ex-presidente. Em outubro daquele ano, as equipes legais da ONU aceitaram dar início ao exame.

Nesta semana, pela primeira vez, peritos do Comitê revelam o motivo pelo qual, um ano e meio depois, o caso ainda não conseguiu ser avaliado em seu mérito: em um processo sigiloso, o Estado brasileiro e Lula se enfrentam sobre a questão da capacidade do sistema judiciário brasileiro lidar de forma isenta do caso e os esgotamento dos recursos domésticos.

"O caso foi de fato registrado. Mas agora está na fase de exame de sua admissibilidade", explicou Yuval Shany, um dos 18 peritos do Comitê, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira na ONU. "Há idas e vindas entre a parte queixosa e o Estado", disse. Para que o caso seja tratado em seu mérito, porém, ele aponta que primeiro há que se decidir se os remédios locais foram esgotados ou não.

"Só podemos lidar com o caso se isso foi totalmente resolvido pela Justiça doméstica. O sr. Lula sugeriu que as injustiças são tais, que não há remédios locais efetivos para ele no Brasil", explicou Shany. "O Estado (brasileiro) contesta isso. Portanto, precisamos primeiro decidir sobre essa questão", disse.

Na fase inicial de a avaliação de uma queixa, não se avaliava o conteúdo do caso. Mas somente se a ONU tem o direito ou não de examinar e fazer suas recomendações. Em 2017, o governo brasileiro deu respostas às Nações Unidas sobre o caso, alegando que todas as instituições do estado estão "funcionando" e que os direitos do ex-presidente foram preservados.

Shany indicou que, em janeiro, um complemento de queixa foi apresentado por Lula. "O caso portanto está para ser decidido. Mas apenas no que se refere à sua admissibilidade", disse. O governo brasileiro foi uma vez mais notificado pela ONU sobre novas denúncias que Lula apresentou ao Comitê, depois de ter sido condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

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