Brasil

ONU denuncia ataques contra índios Guarani Kaiowá

O especialista pediu às autoridades brasileiras que adotem medidas urgentes para prevenir mais assassinatos e investiguem profusamente


	Guarani Kaiowá: em 14 de junho, jagunços mataram o agente de saúde pública Clodiodi de Souza, membro da etnia guarani-kaiowá
 (Wilson Dias/ABr)

Guarani Kaiowá: em 14 de junho, jagunços mataram o agente de saúde pública Clodiodi de Souza, membro da etnia guarani-kaiowá (Wilson Dias/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2016 às 10h55.

Genebra - A relatora das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, condenou nesta quarta-feira os recentes ataques à comunidade Guarani-Kaiowá no Brasil.

O especialista pediu às autoridades brasileiras que adotem medidas urgentes para prevenir mais assassinatos e investiguem profusamente o ocorrido para poder processar os responsáveis.

Em 14 de junho, jagunços supostamente contratados por um grupo de fazendeiros mataram o agente de saúde pública Clodiodi de Souza, membro da etnia guarani-kaiowá, de 23 anos, que foi assassinado a tiros cabeça.

Outros seis indígenas ficaram feridos, entre eles uma criança de 12 anos.

Os agressores proferiram insultos racistas e queimaram os pertences de um grupo de guaranis que tinha ocupado uma fazenda em Caarapó, no estado do Mato Grosso do Sul.

A fazenda se encontra em terras ancestrais que foram recentemente reivindicadas pela comunidade Guarani-Kaiowá.

"Esta foi uma morte anunciada. O estado do Mato Grosso do Sul é o mais violento do Brasil, com o número mais alto de indígenas mortos", ressaltou a relatora em comunicado.

A relatora tinha visitado a comunidade em março e já então alertou sobre a situação de tensão.

"Lamento que, apesar dos meus alertas anteriores, as autoridades federais e estaduais tenham fracassado em adotar medidas rápidas para prevenir a violência contra os povos indígenas", denunciou Tauli-Corpuz.

"Esses erros se agravam pelos amplos temores expressados pela comunidade de sofrer novos ataques", acrescentou.

Perante esta situação, a relatora solicitou que os procedimentos de demarcação sejam agilizados de forma prioritária, para que se aclare a titularidade das terras indígenas e se previna uma escalada da violência.

"O fato de que os direitos dos povos indígenas fiquem subordinados ao interesse econômico cria um risco potencial de efeitos etnocidas que não se pode ignorar e nem subestimar", alertou Tauli-Corpuz.

A propriedade ocupada pelos índios, que a reivindicam como terra de seus antepassados, está próxima à reserva Dourados-Amambaipeguá e o governo já a declarou como território indígena, mas ainda não a delimitou.

Desde 2003, foram registrados cerca de 400 assassinatos de índios guaranis em conflitos por terras no Mato Grosso do Sul, segundo recontos dos próprios indígenas.

A população Guarani-Kaiowá, composta por cerca de 50 mil pessoas, é uma das que mais sofre com a violência provocada pela luta pela terra no Brasil.

Acompanhe tudo sobre:AssassinatosCrimeIndígenasONU

Mais de Brasil

Bolsonaro planejou e dirigiu plano de golpe de Estado, afirma PF

Relatório do golpe de Estado: veja íntegra do inquérito que indiciou Bolsonaro e mais 36 pessoas

Nova Raposo terá mais de 40 quilômetros de marginais no trecho entre SP e Cotia

Governo de SP apresentará fundo com foco em resiliência climática para investidores