Belo Monte: diretor-geral da ONS explicou que o ajuste da proteção do disjuntor estava menor do que a carga programada (Dilma Rousseff/PR/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 6 de abril de 2018 às 19h34.
Rio de Janeiro - Um blecaute registrado na tarde de 21 de março nas regiões Norte de Nordeste do país foi resultado da falha de um técnico da Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), responsável pelo linhão entre a hidrelétrica de mesmo nome e o sistema nacional, afirmou nesta sexta-feira o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata.
Ele disse ainda que a conclusão sobre a causa do problema originado no linhão da BMTE, sociedade entre a chinesa State Grid e a estatal Eletrobras, será enviada à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que deverá julgar eventual responsabilização da empresa e definir possíveis sanções.
O apagão, maior registrado no país desde 2009, foi causado por falha humana na programação do ajuste da proteção do disjuntor na subestação Xingu, no Pará, segundo Barata.
O diretor-geral explicou que o ajuste da proteção do disjuntor estava menor do que a carga programada, e que se o ONS tivesse sido avisado da situação, o blecaute poderia ter sido evitado.
"O disjuntor foi programado para atuar com uma corrente de 4 mil amperes, mas a programação normal previa uma corrente superior a isso. Quando a programação foi implementada pelo ONS, o disjuntor atuou e separou os sistemas. O Norte ficou com excesso de geração e o resto com falta de geração ou excesso de carga", avaliou Barata.
"Não fomos comunicados dessa programação. Se fôssemos, talvez o apagão não tivesse acontecido...mas o ONS deveria ter sido informado", adicionou.
Orçado em mais de 5 bilhões de reais, o chamado linhão de Belo Monte opera em ultra-alta tensão e leva energia do Norte até o Sudeste do país.
Mas a falha originada na estrutura, que gerou o apagão, ainda foi agravada por um atraso na construção de um segundo barramento na subestação onde houve o problema, segundo o ONS.
A obra era de responsabilidade da espanhola Abengoa, que entrou em recuperação judicial e abandonou o empreendimento.
State Grid e Furnas obtiveram autorização posterior da Aneel para implementar a unidade, mas no dia do apagão esse segundo barramento ainda não estava em funcionamento.
Se ele estivesse em operação, haveria um caminho alternativo para que a energia escoasse após a falha no disjuntor e o blecaute poderia ter sido menos intenso, disse Barata.
"Se nós estivéssemos com a configuração completa, com todas as usinas para entrar em funcionamento, essa situação não teria acontecido", avaliou.
A BMTE ressaltou este problema citado pelo diretor-geral.
"Ocorre que para permitir transmitir energia da usina de Belo Monte para o Sistema Interligado Nacional (SIN) sem as instalações planejadas e que não se materializaram devido à liquidação judicial da Abengoa, foi necessário operar em situação provisória conforme autorização da Aneel e do ONS", disse a empresa.
Segundo a BMTE, o Ministério de Minas e Energia e a Aneel solicitaram à empresa para efetuar parte das instalações que caberíam à Abengoa.
"Para permitir que o Bipolo pudesse entrar em operação em final de 2017, a BMTE propôs solução temporária operando-se entre dezembro 2017 e final março de 2018 com apenas uma barra. Assim a conexão entre a SE Xingu e a conversora foi feita por barramento singelo com risco de desligamento por falha simples --que era a situação operativa no dia desligamento", disse.
A BMTE ressaltou ainda "que ONS E Aneel sabiam que até a entrada das duas barras (abril 2018) a BMTE estaria em situação provisória".
O relatório final do ONS sobre o apagão, que afetou 14 Estados e 70 milhões de pessoas, deve ficar pronto em 15 dias e será encaminhado para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para apuração de eventuais responsabilidades.
Além da BMTE, que opera o linhão, a Chesf, da Eletrobras, também pode ser alvo de uma apuração sobre seu papel no incidente, devido à demora no restabelecimento da energia no Nordeste, de acordo com Barata.
Ele disse que no Rio Grande do Norte a luz só foi totalmente reestabelecida às 22:20, quase sete horas após o blecaute.
"Houve uma demora vinculada à usina de Paulo Afonso, e isso será analisado pelo órgão competente. Mas, se os sistemas de Paulo Afonso tivessem funcionado de forma adequada, o impacto no Nordeste seria menor", explicou.
Barata disse ainda que medidas preventivas estão sendo tomadas em todo o sistema desde o distúrbio do dia 21 de março. O disjuntor que originou o apagão, por exemplo, já foi reprogramado.
"A chance desse tipo de distúrbio ocorrer de novo é zero", garantiu o diretor-geral do ONS.
O diretor-geral do ONS disse que as chuvas deste começo de ano mostram um cenário mais otimista para o nível dos reservatórios.
A perspectiva é que em novembro, final do período seco, o nível dos reservatórios das hidrelétricas do sistema Sudeste/ Centro-Oeste esteja acima dos 30 por cento, contra uma mínima de 17 por cento vista no ano passado.
Diante desse cenário mais otimista, Barata acredita que 2018 será um ano com maior presença bandeira verde na conta de energia, o que não gera custos adicionais para os consumidores.
Ele também avalia que não será preciso recorrer à chamada bandeira vermelha nível 2, que causa o maior impacto na conta de energia e é acionada em situações mais críticas de geração no sistema elétrico.
"As avaliações que fizemos não tem bandeira vermelha nivel 2 no período seco. A verde vai durar um bom tempo", apontou Barata.
(Por Rodrigo Viga Gaier, com reportagem adicional de Luciano Costa)