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Olimpíada passará, mas Zika vai ficar, dizem cientistas

O Brasil está tendo um raro consolo no momento em que o Rio de Janeiro se prepara para sediar a Olimpíada: os números declinantes de infecções de Zika


	Zika virus: no Rio, um recuo nos riscos do Zika está tranquilizando as autoridades pouco mais de um mês antes do início da Olimpíada, no dia 5 de agosto
 (Arquivo/Agência Brasil)

Zika virus: no Rio, um recuo nos riscos do Zika está tranquilizando as autoridades pouco mais de um mês antes do início da Olimpíada, no dia 5 de agosto (Arquivo/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2016 às 17h42.

Rio de Janeiro - Abalado por um impeachment presidencial e a pior recessão desde a Grande Depressão, o Brasil está tendo um raro consolo no momento em que o Rio de Janeiro se prepara para sediar a Olimpíada: os números declinantes de infecções de Zika.

Desde o início do surto da doença, que fez estragos no Nordeste no começo deste ano, muitos médicos e visitantes em potencial expressaram o temor de que os Jogos possam ser um catalisador da disseminação internacional do vírus.

Alguns atletas, entre eles o golfista número um do mundo, Jason Day, avisaram que irão ficar em casa para evitar a infecção por causa dos temores em relação aos problemas de saúde causados pelo Zika, principalmente a microcefalia, uma má-formação cerebral.

Recentemente, porém, as temperaturas mais frias do que o normal no inverno, somada aos esforços para eliminar os focos de procriação do mosquito que transmite o Zika, reduziram as infecções em cerca de 90 por cento em comparação com o pico de fevereiro, quando mais de 16 mil casos foram relatados em uma semana.

No Rio, um recuo nos riscos do Zika está tranquilizando as autoridades pouco mais de um mês antes do início da Olimpíada, no dia 5 de agosto.

"O Rio não é o pesadelo de Zika que as pessoas temiam", disse Pedro Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas e membro do comitê de emergência para o Zika da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O clima quente e úmido, que propicia a reprodução do mosquito Aedes aegypti, ajudou o Zika a se espalhar rapidamente do Brasil para mais de 60 países e territórios.

Um verão quente no Rio no começo deste ano levou a um salto de outras doenças transmitidas por mosquito, como dengue e chikungunya, mas a epidemia local de Zika não foi tão grave ou disseminada quanto no Nordeste, o que intrigou os cientistas.

Agora que o Rio tem tido temperaturas mais baixas, chegando a 8 graus Celsius, os índices de infecção de Zika, dengue e chikungunya estão recuando.

De acordo com o governo do Estado, as infecções de Zika na capital fluminense caíram de mais de 3.500 por semana em fevereiro para menos de 200 recentemente. Os casos de dengue foram de 4.500 por semana para menos de 500, e os de chikungunya diminuíram de quase 700 para menos de 50.

As estatísticas, porém, só pintam um quadro parcial de infecções de Zika, porque a doença só apresenta sintomas leves na maioria das pessoas e continua sendo difícil de diagnosticar.

E se as temperaturas subirem, como aconteceu durante as ondas de calor de invernos recentes, a população de mosquitos pode ressurgir e levar a mais transmissões do vírus mesmo antes de o tempo quente voltar com força no final do ano.

Mas o Ministério da Saúde, autoridades locais e o comitê organizador Rio 2016 insistem que a metrópole estará segura para os visitantes. Agentes de saúde estão percorrendo os locais de competição e os pontos turísticos em busca de poças, água estagnada e outras áreas onde os mosquitos depositam seus ovos.

DESCONHECIMENTO

A disseminação do Zika depende sobretudo do Aedes aegypti, um mosquito que floresce em ambientes urbanos abafados. Ele transmite infecções virais picando uma pessoa infectada e depois picando outras.

Ainda não se sabe muito sobre o Zika, inclusive como exatamente ele causa problemas como a microcefalia. O problema de nascença foi confirmado em mais de 1.600 bebês no Brasil, a maioria no Nordeste, e começou a afetar crianças de outras nações.

As preocupações com o vírus levaram um grupo de mais de 200 especialistas de saúde, cientistas bioéticos e advogados a argumentar em uma carta à OMS remetida no mês passado que a Olimpíada deveria ser adiada ou transferida de sede.

A agência respondeu neste mês dizendo que "existe um risco muito baixo de uma disseminação internacional mais ampla do Zika vírus" por causa da Olimpíada.

Epidemiologistas afirmam que muito mais pessoas já estão viajando a países com infecções do que os 500 mil visitantes esperados no Rio para os Jogos.

Usando métricas para doenças transmitidas por mosquito no Rio durante os meses de agosto dos últimos anos, virologistas estimaram as chances de turistas olímpicos serem contaminados com o vírus em cerca de 3 para cada 100 mil.

"Existem pessoas tentando fazer isso parecer maior do que é. Mas uma das poucas coisas que de fato sabemos é que a Olimpíada não será um grande contribuidor em termos epidemiológicos", disse Nikos Vasilakis, virologista da Universidade do Texas que vem estudando o surto no Brasil.

DIFÍCIL DE PREVER

O que ele e muitos outros cientistas não sabem é por que a doença atingiu o Nordeste brasileiro com tanta severidade em comparação com outros lugares da América do Sul que têm climas semelhantes e as cidades superpovoadas e caóticas onde o Aedes aegypti procria.

O Brasil só começou a compilar estatísticas sobre o Zika no início de 2016. Tendo em conta os dados esparsos e o número alto de casos não relatados, alguns pesquisadores afirmam que as estatísticas sobre microcefalia podem fornecer um indicador melhor da gravidade da epidemia.

Desde que o governo do Brasil tomou ciência do elo entre o Zika e a microcefalia, 1.410 crianças nordestinas foram diagnosticadas com ele, sendo 366 em Pernambuco, o Estado mais atingido. No Rio, Estado cujos 16 milhões de habitantes representam quase o dobro da população de Pernambuco, só 72 casos foram confirmados.

Existem numerosas hipóteses para a disparidade – da possibilidade de o Zika ser pior para pessoas infectadas com outros vírus anteriormente à de os pesticidas terem tornado os nordestinos mais vulneráveis.

Mas os estudos que confirmarão qualquer uma delas levarão anos.

"Muitas, muitas coisas têm que ser analisadas. Quantas pessoas ficaram assintomáticas? Quantos casos levaram à microcefalia? Que fatores genéticos estão envolvidos?", disse Mauricio Nogueira, diretor do laboratório de virologia da escola de medicina de São José do Rio Preto, no Estado de São Paulo.

Os esforços para prever surtos de Zika, dengue e chikungunya são difíceis. As taxas de infecção das três doenças pioraram nos últimos anos, auxiliadas pelo aumento geral das temperaturas, mas a disseminação de cada uma delas tem sido diferente e imprevisível.

Durante o primeiro semestre de 2016, o Estado do Rio relatou quase 60 mil diagnósticos de dengue, quase 50 por cento a mais do que no mesmo período de 2015. Em São Paulo, os diagnósticos de dengue mais que triplicaram e atingiram quase 670 mil casos.

Os relatos de chikungunya, que a princípio surgiu em pequenas áreas do Brasil, também cresceram, disparando no Rio e em São Paulo de menos de 100 em cada Estado para mais de 2 mil neste ano.

O que está claro, afirmam os cientistas, é que os vírus, outrora raros no Brasil e no resto das Américas, se adaptaram à região, representando desafios sérios de saúde pública que vão muito além dos riscos inerentes a um grande evento."O Zika veio para ficar", disse Vasconcelos. "Ele já se espalhou rapidamente, e não é por causa da Olimpíada."

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