Manchas: aparecimento do óleo ficou restrito à foz do São Francisco, não chegando a invadir o rio (Adema/Governo do Sergipe/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de outubro de 2019 às 19h23.
Última atualização em 9 de outubro de 2019 às 19h31.
Técnicos ambientais de Alagoas detectaram na manhã desta quarta-feira, 9, manchas de óleo na foz do rio São Francisco, no município de Piaçabuçu, no litoral Sul de Alagoas, durante monitoramento de rotina feito por profissionais do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Capitania dos Portos e Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A detecção ocorre no mesmo dia que o governo do Sergipe descobriu que não poderá realizar de imediato seu plano de instalar boias para tentar impedir que o óleo chegue ao rio pelo fato de os equipamentos não estarem disponíveis.
A foz do São Francisco fica na divisa entre Alagoas e Sergipe. Na terça-feira, 8, o governo sergipano declarou que usaria boias absorventes cedidas pela Petrobras para conter o avanço do óleo pelo rio.
Nesta quarta, no entanto, o governo estadual foi informado pela direção da estatal que não havia equipamentos disponíveis e que, portanto, o estado terá de comprar 200 metros de boias, estimadas em R$ 90 mil, de uma empresa do Espírito Santo, o que provavelmente atrasará o plano de contenção.
A informação foi dada pelo diretor-presidente da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), Gilvan Dias. Ele acionou os Ministérios Públicos Estadual e Federal e a Justiça Federal pedindo ajuda.
Ao mesmo tempo, comunicou o governador Belivaldo Chagas, que o autorizou a comprar imediatamente o equipamento, valendo-se da decretação da situação de emergência.
"Vamos ver se as boias chegam de forma urgente. Ou até o final da tarde de hoje ou amanhã pela manhã", afirmou Gilvan Dias, ao acrescentar que manchas de óleo já foram encontradas, em pequenas quantidades na foz do Rio São Francisco, em Brejo Grande e Pacatuba.
Nesta terça, 8, a Adema informou que os equipamentos viriam de Pernambuco e Maranhão, junto com funcionários de uma empresa terceirizada com expertise neste tipo de serviço.
"Conversei com uma equipe de Pernambuco e eles disseram que estão com dificuldade deste equipamento, porque não tem em lugar nenhum. Ficamos de mãos atadas para o pior acontecer", destacou Gilvan.
Na Petrobras em Sergipe, Gilvan disse que a direção informou que não é dona do equipamento e nesse momento as boias estão indisponíveis. "Ele não explicou como as boias estão sendo utilizadas neste momento", contou Gilvan.
Segundo ele, "as coisas no Brasil não são levadas à sério". "Não tem uma política que antecipe problemas. Estamos diante de uma tragédia em toda extensão da costa nordestina e não se dá a devida atenção", criticou.
A Petrobras em Sergipe foi procurada, mas indicou que a reportagem procurasse o setor de comunicação. Procurada, a assessoria de imprensa ainda não respondeu.
Por meio de assessoria de imprensa, o IMA de Alagoas informou que o aparecimento do óleo ficou restrito à foz, não chegando a invadir o rio. As manchas foram detectadas um dia depois de uma inspeção aérea feita na região por técnicos dos órgãos envolvidos no monitoramento.
Na ocasião, as equipes informaram que as manchas de óleo que atingiram as praias do litoral Sul do Estado não haviam afetado o leito do rio São Francisco até então.
"O grupo não avistou manchas se aproximando da areia, assim como também não observou a presença de manchas significativas nas águas do Rio São Francisco", informou o coordenador de Gerenciamento Costeiro do IMA, Ricardo Cesar de Barros Oliveira.
Ricardo Cesar alertou para a importância de a população evitar o contato direto com o material. "Ao avistar manchas de óleo nas praias é recomendado informar à prefeitura local imediatamente. Em caso de contato acidental, a indicação é aplicar gelo sobre a área e higienizar, utilizando óleo de cozinha", ressaltou.
Duas tartarugas da espécie Lepidochelys olivacea - popularmente conhecida como tartaruga oliva - foram encontradas cobertas pelo produto. Com isso, subiu para 16 o número de animais atingidos, segundo levantamento divulgado hoje pelo Ibama. Apenas quatro deles sobreviveram, segundo o último boletim do IMA.
Desde o dia 02 de setembro, o Ibama vem estabelecendo uma série de ações, juntamente com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal (DF), Marinha e Petrobras, com o objetivo de investigar as causas e responsabilidades do despejo, no meio ambiente, do petróleo cru que atingiu o litoral nordestino.
A Companhia de Abastecimento de Alagoas, até agora, não foi convocada a participar da força-tarefa de monitoramento das manchas de petróleo. Por meio de nota, ela informou que o problema não tem afetado a captação de água no Rio São Francisco e que a fonte de captação é feita em um ponto distante da foz.
Até agora, 800 filhotes de tartarugas marinhas deixaram de ser lançadas ao mar pelo Projeto Tamar, em Sergipe, por causa das manchas de óleo que apareceram na costa litorânea desde o início de setembro.
O coordenador do Projeto Tamar, César Coelho, disse que esse número se refere às tartarugas que conseguiram capturar mas outras, cuja quantidade não soube informar, foram para o mar.
"Recebemos mais ninhos esta manhã e não registramos ainda", disse César Coelho, que aguarda mais informações para depois decidir se as tartarugas vão para o mar ou continuam no Projeto Tamar.
"As equipes estão atentas, acompanhando o movimento das manchas. E aí decidiremos qual a melhor alternativa para os filhotes", completou o coordenador.
Normalmente, de cada mil filhotes de tartaruga lançados ao mar, um chega à idade adulta, por causa dos predadores naturais. "Mas o maior problema é a ingerência humana, que traz um prejuízo muito grande. Temos trabalhado bastante para acabar com as mortes das tartarugas da espécie Oliva, vítimas do arrasto do camarão", comentou Coelho.
O presidente da Associação dos Engenheiros de Pesca, Anderson de Almeida Santos, também disse que os pescadores dos litorais norte e sul de Sergipe estão tendo prejuízos, pois os materiais de trabalho deles estão sujos com óleo cru.
"Os pescadores já pegaram, também, peixes manchados de óleo. Esse problema vai ter um impacto muito grande nas comunidades de pesca", frisou. "Ainda não temos a dimensão deste prejuízo."