João Santana: a "coincidência" das operações financeiras no exterior de Eike chamou a atenção do MPF (Rodolfo Buhrer/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 16h53.
A conta no Panamá da offshore Golden Rock Foundation usada por Eike Batista para pagar propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), em 2011, segundo a Procuradoria da República no Rio, é a mesma que foi utilizada para o empresário transferir US$ 2,3 milhões em 2013 para uma offshore na Suíça do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, que atuaram nas campanhas eleitorais de Lula (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014).
A 'coincidência' das operações financeiras no exterior daquele que foi apontado como um dos maiores empresários do País chamou a atenção do Ministério Público Federal.
Os procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Eficiência - deflagrada nesta quinta-feira, 26, e que culminou com a prisão de Eike -, suspeitam que a conta da Golden Rock mantida pelo empresário no TAG Bank, no Panamá, servia para o pagamentos de agentes públicos.
A transferência envolvendo Cabral e seus operadores financeiros é um dos fatos que a investigação da força-tarefa do Rio quer aprofundar na Operação Eficiência - investigação que revelou um esquema de lavagem de mais de US$ 100 milhões da organização criminosa supostamente liderada pelo peemedebista.
A operação foi identificada graças à colaboração premiada de dois operadores do mercado financeiro, os irmãos Renato Chaber e Marcelo Chaber, que lavaram dinheiro de propinas para o peemedebista desde o início dos anos 2000, e cuidaram da estruturação no Panamá e no Uruguai para transferência dos valores de Eike para Cabral, em 2011.
O valor acabou sendo utilizado para a compra de ações da Petrobras, Ambev e Vale na bolsa de Nova York pelos operadores do peemedebista por meio de um banco no Uruguai.
Os procuradores da República no Rio tomaram o depoimento de Eike no dia 30 de novembro do ano passado, ocasião em que ele afirmou jamais ter pago propina a Sérgio Cabral, e, diante de todos os elementos, pediram ao juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos desdobramentos da Lava Jato no Estado, a prisão preventiva do empresário, que viajou para Nova York dias antes.
As suspeitas sobre a offshore de Eike, contudo, já estavam no radar da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba desde o ano passado. No dia 20 de maio de 2016, o empresário foi até a Procuradoria da República em Curitiba e depôs espontaneamente.
Na ocasião, ele relatou que teria recebido uma solicitação expressa em 2012 do então ministro da Fazenda Guido Mantega para doar R$ 5 milhões para o PT.
Na versão do empresário, o pagamento foi acertado por meio de uma transferência da conta da Golden Rock para a offshore Shellbill Finance, do casal de marqueteiros que atuavam para o PT, em 2013.
O depoimento serviu de base para a deflagração da Operação Arquivo X, 34ª fase da Lava Jato, em setembro do ano passado e levou Mantega à prisão - no mesmo dia, o ex-ministro foi solto.
Além do repasse para os marqueteiros, a operação aprofundou as investigações sobre outras duas frentes de pagamento de propinas pela empreiteira Mendes Júnior e a OSX Construções Navais referentes ao contrato de construção das plataformas de exploração de petróleo para o pré-sal P-67 e P-70.
João Santana e Mônica Moura já admitiram que a offshore Shellbill que mantinham no exterior recebeu em 2013 US$ 4,5 milhões de caixa 2 referentes à campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010.
Eles não se manifestaram, contudo, sobre as acusações de Eike, pois estão tentando negociar um acordo de colaboração premiada com a força-tarefa da Lava Jato.