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Dinheiro de propina da Odebrecht também saía do Rio Madeira

A retirada de sedimentos teria servido como atalho para injetar recursos no departamento da propina, que passava dificuldades por conta de tantos saques

Rio Madeira: o trabalho era prestado por empresas europeias, que recebiam pagamentos em euro (foto/Wikimedia Commons)

Rio Madeira: o trabalho era prestado por empresas europeias, que recebiam pagamentos em euro (foto/Wikimedia Commons)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de abril de 2017 às 14h40.

Última atualização em 17 de abril de 2017 às 14h42.

O dinheiro que abastecia parte do caixa do departamento de propina da Odebrecht também saiu do fundo das águas turvas do Rio Madeira, na Amazônia.

Em relatos dados aos investigadores da Operação Lava Jato, o delator Henrique Serrano de Prado Valadares contou como as fraudes dos serviços de retirada de sedimentos do fundo do rio amazônico, uma prática conhecida como dragagem, serviram de atalho para arrecadar milhões de euros e injetar recursos no departamento da propina, que passava dificuldades por conta de tanto saque.

Ex-executivo da área de energia da Odebrecht, Valadares contou que Marcelo Odebrecht havia dado a ordem para cada gestor das grandes obras lideradas pela companhia dessem um jeito de arrecadar recursos para as contas de caixa 2, tudo da forma mais discreta possível.

Depois de analisar os caminhos possíveis para retirar dinheiro da hidrelétrica de Santo Antônio, que a Odebrecht e a Andrade Gutierrez construíam na região de Porto Velho (RO), ficou decidido que a melhor saída seria burlar os serviços de dragagem.

O trabalho era prestado por empresas europeias, que recebiam pagamentos em euro. Como os custos pela retirada dos sedimentos do fundo do rio oscilam muito, por conta do tipo de material que será retirado, bastava alterar o tipo de serviço prestado.

"É muito fácil dragar uma areia. Mas se você estiver dragando argila, natural e dura, é muito mais difícil, exige mais equipamentos e é muito mais caro", comentou o ex-executivo. "Existe uma gama de materiais para ser dragado e de preços."

Segundo o delator, a transação foi viabilizada por Marcos Grillo que era responsável pela geração de caixa da Odebrecht. "Estou mostrando o quanto é fácil fazer isso. Se você combinar com a empresa holandesa ou belga que ela vai escavar areia, e vai cobrar pelo preço mais alto, como se estivesse escavando uma argila extremamente dura, difícil de dragar, aquilo vai dar um aumento na medição da fatura dele, enorme", disse Valadares. "E você pode combinar com ele, que ele vai lhe repassar essa diferença lá fora, em euros."

Uma complexa estrutura financeira foi montada para viabilizar o esquema, disse o ex-executivo. "O Grillo é muito competente nisso. Quem for procurar aquilo ali, se perde no meio do caminho. São tantos quadrinhos, tantas setinhas para lá e para cá, que você fica maluco. Ele fez um negócio muito competente. Através da dragagem ele resolveu o problema de geração da caixa 2."

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