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Obstinado e negociador hábil, Campos é candidato em formação

Pré-candidato do PSB à Presidência ainda tenta calibrar melhor o perfil de sua candidatura


	Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à Presidência da República,
 (Paulo Fridman/Bloomberg)

Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à Presidência da República, (Paulo Fridman/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2014 às 16h53.

Brasília - Herdeiro político do lendário Miguel Arraes, um dos ícones brasileiros da resistência à ditadura militar, o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, é um gestor obstinado e negociador político hábil e duro, mas ainda tenta calibrar melhor o perfil de sua candidatura.

O aprendizado em palanques começou cedo, aos 21 anos, quando participou ativamente da eleição de Arraes, seu avô, para o governo de Pernambuco em 1986.

Depois disso, recém-formado em economia, Eduardo Campos foi chefe de gabinete de Arraes, partindo daí para construir sua própria carreira política.

Mas se o ponto de partida foi o avô, quem conheceu um e conhece o outro vê fortes distinções. "Ele gerencialmente é melhor que o avô. Politicamente é mais autoritário que o avô", resumiu um político pernambucano.

Em um campo de futebol, nas palavras de um ex-assessor próximo, Arraes seria um meia cerebral, capaz de lançamentos precisos e com ampla visão de jogo.

Campos traz mais um perfil para o ataque, jogaria com a camisa de centroavante, mas não daqueles trombadores.

As diferenças entre eles também são atribuídas ao ambiente político em que os dois foram forjados. Arraes enfrentou a ditadura e aprendeu a fazer política nas dificuldades do sertão.

Campos, de 48 anos, desenvolveu seu traquejo político na democracia e com mais condições do que o avô.

A obstinação herdada, porém, provavelmente é seu traço mais marcante.

Depois de ocupar cargos na administração do avô, foi eleito deputado estadual e federal, foi o ministro mais jovem do governo do então presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva e se elegeu governador duas vezes.

No início de 2013, embalado pelo desempenho notável do PSB, do qual é presidente nacional, nas eleições municipais do ano anterior, Campos disse à presidente Dilma Rousseff (PT) que não negociaria o apoio do partido à sua reeleição antes de 2014.

Conforme os meses foram passando, porém, Campos mudou de ideia e estratégia.

Entre setembro e outubro o PSB deixou seus cargos no governo Dilma e, numa reviravolta eleitoral impressionante, filiou a ex-senadora Marina Silva para ser sacramentada agora em junho companheira de chapa de Campos como candidata a vice na corrida presidencial.

Mas os últimos meses não deixaram claro o perfil do candidato do PSB na corrida presidencial.

Campos busca se apresentar como agente de uma nova política e prega o fim da polarização entre PT e PSDB, que completam 20 anos no comando do país no final de 2014, somados os governos dos dois partidos.

Ele e Marina, que tem um capital político maior por ter disputado a eleição presidencial de 2010 e recebido quase 20 milhões de votos, tentam se equilibrar no discurso de oposição ao atual governo, mesmo tendo sido ministros do governo Lula.

Campos também chegou a fazer uma espécie de dobradinha com o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, em alguns momentos nos últimos meses, mas essa estratégia não funcionou.

"Ele se tornou uma imitação do Aécio. Entre a cópia e o produto original, as pessoas preferem o autêntico", comparou um ministro do governo ao analisar o adversário.

Talvez esse seja um dos motivos que expliquem por que Campos aparece num distante terceiro lugar na disputa, que é liderada por Dilma e tem em Aécio o principal candidato oposicionista. 

Por outro lado, Campos também terá dificuldades de se descolar do PT, já que apoiou os governos Lula e o governo Dilma até o ano passado.

Obstinação

Em Pernambuco, Campos é visto como um gestor obstinado, que controlava os comandados de perto e cobrava o atendimento de metas quando estava à frente do governo.

Esse controle é visto por adversários como traço de coronelismo, já que a figura do ex-governador parecia onipresente nos demais Poderes e nas administrações municipais.

"Muitos têm medo de dar declaração contrária ao governador", afirmou em novembro à Reuters o deputado estadual Daniel Coelho (PSDB), uma das poucas vozes ativas da oposição à época na Assembleia Legislativa.

Apesar de ser visto como um "trator político", Campos não costuma alimentar ódios pessoais nesse terreno. Exemplo disso é a aliança fechada com o experiente senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), seu antecessor no governo estadual e grande rival de Arraes em Pernambuco.

O que Campos não gosta é de ficar encurralado. Aí, a reação dele não perdoa quem estiver na frente, segundo aliados. Se acuado, "ele não pisca", disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a um interlocutor para descrever o pernambucano.

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