Presidenta Dilma Rousseff recebe Marcus Vinicius Furtado Coêlho, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (Antonio Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2015 às 19h03.
São Paulo - Em carta divulgada pelo Colégio de Presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil a entidade reservou grande espaço para tratar do combate à corrupção.
No documento, distribuído há uma semana - quando os presidentes das seccionais da Ordem se reuniram em Florianópolis (SC) -, a entidade defendeu também o fim do investimento empresarial em campanhas eleitorais.
Os repasses de dinheiro a campanhas políticas é um dos alvos da investigação da Operação Lava Jato. As maiores empreiteiras do país são as principais financiadoras eleitorais.
Executivos de seis delas - Galvão Engenharia, OAS, Camargo Corrêa, Engevix, UTC e Mendes Júnior - estão presos preventivamente desde novembro do ano passado, acusados de participar de esquema de corrupção na Petrobrás, desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato. Há suspeita de que dinheiro de propina em obras da estatal tenham ido para caixa 2 de campanhas.
"A gravidade e a recorrência dos casos de corrupção demonstram que o problema possui abrangência sistêmica no Brasil. Não são episódios isolados, mas integram um ambiente geral, consolidado historicamente, que abrange todas as esferas da administração pública brasileira", diz a Carta de Florianópolis, da Ordem.
O Colégio de Presidentes deliberou que as Seccionais da OAB em todo o país terão autonomia para participar da forma que entenderem dos protestos deste domingo, 15.
Segundo a entidade, que lançou também uma campanha de combate à corrupção, problemas sistêmicos demandam soluções sistêmicas. A sugestão da OAB é uma reforma política democrática. Em campanha contra a corrupção, a entidade pediu ainda a criminalização do caixa 2 de campanhas eleitorais.
Leia a íntegra do documento:
Carta de Florianópolis
O Colégio de Presidentes dos Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil, reunido na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, nos dias 5 e 6 de março de 2015, ao lançar a Campanha de Combate à Corrupção, proclama:
Os recursos drenados pela corrupção são subtraídos dos investimentos necessários à plena garantia dos direitos fundamentais. Quem suporta os maiores ônus da corrupção são as camadas pobres da população, que mais necessitam dos serviços prestados pelo Estado. A eliminação da corrupção é elemento essencial para o progresso econômico e social do país.
A gravidade e a recorrência dos casos de corrupção demonstram que o problema possui abrangência sistêmica no Brasil. Não são episódios isolados, mas integram um ambiente geral, consolidado historicamente, que abrange todas as esferas da administração pública brasileira. Problemas sistêmicos demandam soluções sistêmicas.
A Reforma Política Democrática assume uma dimensão estratégica. O financiamento empresarial das campanhas eleitorais degrada a vida política brasileira e corrompe as estruturas administrativas.
O país não mais comporta o protagonismo político das empresas, que não fazem doações, mas investimentos, esperando retorno na forma de vantagens em contratos junto à administração e outros privilégios ilícitos.
A OAB espera a pronta conclusão do julgamento da ADI 4.650, em que se impugna o financiamento empresarial das campanhas eleitorais. Os tribunais organizam-se de acordo com o princípio da colegialidade.
As decisões do Supremo Tribunal Federal devem ser colegiadas. Violam esse princípio pedidos de vista que possam retardar ou impedir que julgamentos se concluam, o que equivale a conferir poder de veto individual a cada magistrado que integra o tribunal.
Ao lado da proibição do financiamento empresarial, deve se criminalizar a prática do "Caixa 2" nas campanhas eleitorais. O recebimento de recursos por candidatos, sem que ocorra a devida contabilização, contamina os mandatos e esgota a energia cívica que deve motivar a atuação na esfera pública.
A única via admissível para a moralização da vida política brasileira é a democrática. A solução para os problemas da democracia passa por mais democracia.
O Colégio de Presidentes rejeita a adoção de quaisquer artifícios de ruptura da ordem constitucional e reafirma o compromisso histórico da OAB com a democracia e o Estado de Direito.
O Colégio de Presidentes considera necessário modernizar o processo ético-disciplinar no âmbito da OAB, ampliando sua celeridade, efetividade e transparência, inclusive com o fim do sigilo.
Deliberou o colegiado pela instituição do Pacto Nacional da Advocacia pelos Métodos Alternativos de Solução de Conflitos, ressaltando a indispensabilidade do advogado em todas as etapas da conciliação, da mediação e da arbitragem.
Os Presidentes de Seccionais reafirmam a importância fundamental do Exame da Ordem, sem o qual não é possível garantir ao cidadão que o advogado reúne as condições necessárias para defender com competência os seus direitos. Por isso, exorta parlamentares e cidadãos a se unirem na garantia desse importante instrumento de proteção da cidadania.
Propugnam pela necessidade de pagamento dos precatórios com a correção de acordo com a inflação, diante da inconstitucionalidade da TR, como definida pelo Supremo Tribunal Federal.
O Colégio de Presidentes defende a adoção da hipossuficiência econômica como critério exclusivo para delimitar o âmbito de atuação da Defensoria Pública. É igualmente indispensável o pagamento pontual e a valorização dos defensores dativos.
O colegiado afirma a necessidade de respeito, por parte do Poder Judiciário e do Ministério Público, aos exatos termos fixados em contratos de honorários firmados entre advogados e clientes, competindo somente à OAB a disciplina da matéria.
A OAB, Voz Constitucional do Cidadão, reitera o seu compromisso com o Estado de Direito e os postulados da Constituição da República, basilares para a edificação de uma sociedade justa, fraterna e solidária.
Florianópolis, 6 de março de 2015.