Moïse: O vídeo, que está sendo analisado pela polícia, mostra pelo menos cinco pessoas participando das agressões contra Moïse (Facebook/Reprodução)
Da redação, com agências
Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 09h02.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2022 às 11h29.
O congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 24 anos, foi morto na segunda-feira, 24, próximo a um quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Moïse trabalhava por diárias no local servindo mesas na areia e, segundo parentes, pretendia tentar cobrar dois dias de pagamentos atrasados na segunda-feira em que foi morto.
O congolês chegou a ter pés e mãos amarrados com um fio depois de sofrer uma sequência de agressões. O rapaz foi encontrado por policiais ainda preso, deitado ao chão já sem vida, em uma escada do estabelecimento.
O proprietário do quiosque Tropicália, situado no posto 8 da Praia da Barra, foi ouvido na terça-feira na 16ª DP (Barra da Tijuca) para evitar a cobertura da imprensa do caso, que é conduzido pela DH-Capital. A defesa do dono do quiosque nega qualquer envolvimento com a morte de Moïse. O proprietário afirmou que não conhece nenhum dos homens que aparecem no vídeo agredindo o congolês e apenas um funcionário do estabelecimento estava no local no momento das agressões. A defesa também nega que havia dívidas do quiosque com Moïse. De acordo com os investigadores, o comerciante, que não teve a identidade revelada, cedeu espontaneamente imagens das câmeras de segurança do estabelecimento.
“As investigações estão em andamento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Os agentes analisaram imagens de câmeras de segurança e estão, neste momento, em diligências para identificar e prender os autores do crime”, informou a Polícia Civil.
O vídeo, que está sendo analisado pela polícia, mostra pelo menos quatro pessoas participando das agressões contra Moïse. Três homens suspeitos de terem matado o congolês já estão detidos pela Polícia Civil. A investigação os identificou após os rapazes terem sido flagrados cometendo o crime por uma câmera de segurança. A Polícia também apreendeu um taco de madeira usado no crime.
A DH já ouviu mais de oito testemunhas, entre parentes do rapaz e frequentadores do local. De acordo com o delegado Leandro Costa, responsável pela investigação do caso, "as imagens são nítidas". A DHC enviou um ofício à embaixada da República Democrática do Congo em que afirma estar investigando a morte do rapaz com rigor.
Primo de Moïse, o autônomo Yannick Iluanga Kamanda, de 33 anos, conta ter visto as imagens. Segundo ele, o congolês foi atingido por socos, chutes e golpes com pedaços de madeira. O espancamento, que teria durado cerca de 15 minutos, continuou mesmo depois que a vítima ficou desacordada. Os parentes só descobriram a morte na manhã de terça-feira, 25, quase 12 horas após o crime.
"Primeiro, meu primo é visto reclamando, porque ele queria receber. Em determinado momento, os ânimos se acirraram, e um dos homens pega um pedaço de madeira. O meu primo corre para se defender com uma cadeira. Esse homem vai embora e, em seguida, volta com cinco pessoas, que pegam o meu primo na covardia. Um rapaz dá um mata-leão (golpe no pescoço), e os outros se revezam em bater", relata Yannick.
De acordo com o relato do primo, o dia de trabalho no quiosque continuou, mesmo com a morte de Moïse. "Eles foram embora e ficou só o gerente do quiosque. E ele deitado no chão, como se nada estivesse acontecendo. Trabalhando, atendendo cliente. E o corpo lá”, afirmou.
Dois policiais militares do 31º BPM (Recreio), que atenderam à ocorrência contaram em depoimento na DHC, que testemunhas relataram "que dois homens perseguiram a vítima que fugia correndo pela areia, quando na subida do quiosque Tropicália, o mesmo foi alcançado, onde apanhou com um porrete, e a vítima gritava, pedindo para não o matarem".
A perícia no corpo indicou que Moïse tinha várias "áreas hemorrágicas de contusão" e também vestígios de broncoaspiração de sangue. O atestado de óbito traz como causa da morte traumatismo do tórax, com contusão pulmonar causada por ação contundente.
O quiosque Tropicália passou o último fim de semana fechado. Já as redes sociais do estabelecimento foram excluídas ou se tornaram restritas desde que o caso veio à tona.
A mãe de Moïse, Ivana Lay, disse durante o enterro do jovem estar inconformada com o crime e que deseja justiça. “Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça”, afirmou.
Moise foi sepultado neste domingo, 30, no Cemitério de Irajá, sob protesto de amigos e parentes e com música e dança africana. Moïse fugiu de conflitos armados na República Democrática do Congo e estava no Brasil desde 2014.