Agência de notícias
Publicado em 23 de dezembro de 2024 às 07h05.
Última atualização em 23 de dezembro de 2024 às 07h07.
A queda de um avião de pequeno porte em Gramado (RS), na manhã deste domingo, 22, deixou 10 mortos de uma mesma família, além de 17 feridos nas proximidades do acidente. As condições meteorológicas eram desfavoráveis para voo no momento do acidente, com alta nebulosidade, mas as causas ainda serão investigadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica.
O governo do Rio Grande do Sul confirmou a morte do empresário Luiz Cláudio Salgueiro Galeazzi, de 61 anos, que era dono do avião e o pilotava. Também morreram na tragédia sua mulher, as três filhas adolescentes do casal, sua sogra, cunhada e concunhado — Bruno Cardoso Munhoz Guimarães, também diretor da empresa de Galeazzi —, além de outras duas crianças. Apenas os nomes de Galeazzi e Guimarães foram divulgados.
A família morava no estado de São Paulo e teria ido à cidade para participar das festividades de Natal. Em nota ao GLOBO, a Galeazzi & Associados, companhia da qual o empresário era CEO, informou que todos os registros e autorizações da aeronave estavam devidamente em ordem e pretende acompanhar as investigações conduzidas pelas autoridades competentes.
O avião havia decolado de Canela (RS) às 9h15m de domingo (22), com destino a Jundiaí (SP), mas sofreu a queda minutos depois em Gramado, cidade vizinha, após colidir na chaminé de um prédio próximo à Avenida das Hortênsias, segundo a Secretaria de Segurança Pública e a Infraero. A aeronave atingiu, em seguida, o segundo andar de uma residência e caiu sobre uma loja de imóveis. Os destroços ainda alcançaram uma pousada, que agora está sob risco de desabamento.
De acordo com o governo gaúcho, 17 vítimas que estavam em solo receberam atendimento médico após o acidente, a maioria por inalar a fumaça do incêndio. Do total, cinco foram atendidas e liberadas pelo Hospital de Canela e doze ainda permaneciam internadas até a noite de domingo. Valdete Maristela Santos da Silva, de 52 anos, e Lizabel de Moura Pereira, de 56, funcionárias da pousada, foram transferidas para Porto Alegre. Elas sofreram queimaduras pelo corpo.
Outros hóspedes da pousada atingida tiveram que deixar o local e foram transferidos para outras acomodações na cidade.
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou que investigadores da área de Canoas (RS) foram acionados para investigar o caso. Paralelamente, a Polícia Civil conduz a coleta dos dados e a apuração dos fatos que levaram ao incidente.
Segundo o perito responsável pelo caso, Valmor Gomes, o avanço das investigações depende da "retirada de elementos estruturais da aeronave", que pertenceriam à fuselagem do do avião, e cuja remoção depende da estabilização do local da queda. A área foi isolada pelas autoridades na manhã deste domingo, mas devido ao calor provocado pela explosão, as remoções só começaram no meio da tarde.
"Estamos com uma frente da Divisão de Porto Alegre e com um equipamento de scanner 3D para fazer todo o levantamento possível subsidiar da melhor maneira possível a delegacia da Polícia Civil na solução desse inquérito", disse Gomes, neste domingo.
As imagens já divulgadas do momento em que a aeronave decolou mostram um cenário de nebulosidade em Canela (RS), de onde o voo partiu. Gerardo Portela, doutor em Gerenciamento de Riscos e Segurança pela UFRJ, está coincidentemente em Gramado (RS), onde houve a queda. Em entrevista à Globonews ele afirmou que o dia era de "visibilidade mínima".
"Diria que, com minha experiência, há entre 100 e 150 metros de visibilidade, em solo. Nessas condições, não é possível fazer um voo visual, precisaria fazer um voo por instrumento ou do suporte do aeroporto para isso. A condição climática é forte indicador para acidente como esse", disse o especialista, que acrescentou que o piloto tem a responsabilidade de planejar o voo com base nos boletins meteorológicos. "Mas a condição pode mudar até o momento da decolagem. Mas se percebe na hora do voo que não há mais visibilidade, ele deveria desistir. Se o piloto fica numa nuvem, sem visão de horizonte, sem noção de altitude, pode perder a consciência situacional, como se tivesse andando no escuro. Isso pode ter acontecido".
Rolland de Souza diz que, pelos vídeos, a neblina parecia "relativamente espessa" no aeroporto.
"Não causa invisibilidade total, mas é causa uma invisibilidade parcial até considerável. Então pensamos na hipótese de desorientação espacial do piloto, pois as referências visuais estariam prejudicadas", explica o piloto, que também é médico."Sabemos que raramente um acidente é causado por apenas um fator. Em 99,99%, são causados por cadeia de eventos. Tem que pegar o fio da meada, para saber onde começou o erro".
Lucas Fogaça, Coordenador do curso de ciências aeronáuticas da PUC-RS, diz que a condição climática é um fator a ser investigado, para que se esclareça se a situação na hora da decolagem permitia ou não um "voo visual" ou se demandava instrumento.
"A condição, pelo menos nas imagens que circulam, parece bem hostil, com neblina, nuvem baixa, chuva. Pelo vídeo, sugere que precisava ser um voo por instrumento, e não visual, mas não sei dizer a condição naquele momento".
“Estado tem o sentimento de uma dor que se prolonga”, diz governador do RS após queda de aviãoO aeroporto de Canela é homologado pela Infraero, mas é de pequeno porte, e somente voos visuais são realizados. Quando um aeroporto opera por instrumento, é porque ele possui procedimentos de subida e descida, com equipamentos instalados, para que a aeronave consiga sair e chegar com segurança, sem depender de referências visuais para decolagem e pouso, explica Fogaça. Nesses casos, são realizados mapeamentos do entorno do aeroporto, com margem de segurança.
Os instrumentos podem ser coordenadas geográficas para GPS, homologadas pela FAB, ou sinalizações no chão e antenas com sinais de radiofrequência.
"Quando o local está coberto por nuvem, o piloto literalmente faz um voo cego. Assim, se fizer decolagem em aeroporto que não opera por instrumento, está subindo sem referência nenhuma e as chances de acidentes são muito grandes", diz Fogaça, que explica que a presença de obstruções pode impedir a possibilidade de operação por instrumento no aeroporto. "Se tiver muita obstrução no entorno, pode ser que só se permite decolagem por visual".
"Numa condição climática como essa fica mais difícil ainda. A condição climática não era das melhores, e equipamento tem suas limitações. A maior responsabilidade é obviamente do piloto, já que o aeródromo é extremamente limitado".
O acidente aconteceu apenas três minutos após a decolagem, em um local a poucos quilômetros do aeroporto de Canela. Por isso, a pane certamente ocorreu logo depois da decolagem, dizem os especialistas. Isso explicaria o fato de o avião estar em uma baixa altitude no momento do acidente. A colisão teria sido em uma chaminé de um prédio em uma das avenidas mais movimentadas de Gramado.
"A baixa altitude era normal, porque tinha acabado de decolar, então ainda estava ganhando altitude e velocidade. Nós pilotos sabemos que o momento mais crítico do voo é a decolagem, porque ainda está com baixa altitude, baixa velocidade e com a aeronave vencendo a inércia|", afirma Rolland de Souza. "Para ter decolado de Canela e caído logo em Gramado, em uma distância de 6, 7 quilômetros, é porque a pane ocorreu logo após a decolagem".
O modelo Piper PA-42 1000 Cheyenne, da renomada fabricante Piper, é considerado bastante seguro. Isso aumenta a suspeita sobre um fator externo de impacto.
"Esse avião é confiável, potente, rápido, muito usado para aviação executiva. É uma aeronave muito segura, tem uma configuração de potência que consegue se manter em voo mesmo se falhar um dos motores. São múltiplas camadas de segurança, dificilmente cai por falha de um sistema só", explica Lucas Fogaça.
Gerardo Portela ressaltou que a aviação privada oferece condições seguras, mas os requisitos para voos são mais flexíveis em comparação com a aviação comercial.
"O avião era bimotor, seguro, mas por ser de menor porte requer condições melhores de voos. E a aviação privada não é como um voo comercial, em que só vai decolar mediante um protocolo mais robusto, pois transporta mais gente".
O relato de testemunhas do acidente sobre um "forte cheiro de querosene" levantou suspeitas em grupos de pilotos sobre a possibilidade de um abastecimento equivocado como causa do acidente, explica Rolland de Souza. Ele lembrou de um acidente no Rio, em 2008, após uma decolagem no aeroporto de Jacarepaguá, em que o motivo da queda foi justamente o combustível errado.
Naquela tragédia, que matou quatro pessoas, o laudo da investigação concluiu que o avião foi abastecido com querosene, em vez de gasolina de aviação (AVGAS).
'Essa aeronave de hoje em geral não usa querosene, e sim gasolina de aviaçã. Há uns anos, tivemos acidente no aeroporto de Jacarepaguá causado por isso, então essa questão de combustível errado não é tão incomum assim", diz Souza, que explica como um combustível errado resulta na pane do motor. "É igual abastecer carro com combustível errado. Nos primeiros minutos até funciona, porque dentro do encanamento, que leva combustível do tanque à câmara de combustão do motor, ainda vai ter um pouco do combustível adequado. Só que logo depois, acaba o combustível original e a bomba começa a puxar o novo combustível, e começam os problemas. Primeiro é a perda de potência, em seguida vem a falha do motor".
Já Lucas Fogaça informou que existem, sim, modelos Cheyenne que funcionam com querosene.
Essa hipótese, porém, demanda uma investigação mais aprofundada, que vá além do relato de testemunhas, destaca o especialista. Pois é preciso considerar a possibilidade das pessoas confundirem os cheiros.
"Quem trabalha com esse tipo de coisa percebe facilmente a diferença do cheiro. Mas um leigo, uma testemunha na rua, pode não saber distinguir cheiro de querosene para cheiro de gasolina de aviação civil".
Ainda segundo informações fornecidas pelo governador em coletiva de imprensa na tarde deste domingo, outras 17 pessoas receberam atendimento médico após o acidente, sendo cinco atendidas e liberadas pelo Hospital de Canela. Doze ainda permanecem internadas, em sua maioria no Hospital de Gramado, e duas delas, de aproximadamente 50 anos, estariam em estado mais grave, em decorrência da gravidade de queimaduras. Nestes dois casos, uma é funcionária e outra hóspede da pousada atingida pela aeronave. Uma delas precisou ser transferida para a capital Porto Alegre (RS).
Além disso, de acordo com Leite, outros hóspedes da pousada atingida tiveram que evacuar o local e foram transferidos para outras acomodações na cidade.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e a Infraero, o avião decolou do município de Canela às 9h15, com destino a Jundiaí (SP), e sofreu uma queda após colidir na chaminé de um prédio.
Posteriormente, a aeronave atingiu o segundo andar de uma residência e caiu sobre uma loja de imóveis. Os destroços ainda alcançaram uma pousada, cujos hóspedes foram afetados pela fumaça decorrente do incêndio causado pelo acidente.
O local do acidente fica numa área central da cidade, que recebe a maior quantidade de turistas neste período, devido às celebrações de Natal. A Avenida das Hortênsias possui pouco mais de 9 km, e começa na Avenida Borges de Medeiros até a cidade de Canela. A via retornou este ano o Grande Desfile de Natal, parada de carros alegóricos e alas que representam personagens característicos da celebração.