Brasil

O que se exige hoje de um juiz não é coragem, mas heroísmo, diz Mendes

Em fortes declarações para juristas, em Lisboa, o ministro do STF fez nesta terça-feira (23) uma grande defesa da magistratura brasileira

Gilmar Mendes: o magistrado citou a frase "o bom ladrão se salvou, mas não há salvação para um juiz covarde". (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Gilmar Mendes: o magistrado citou a frase "o bom ladrão se salvou, mas não há salvação para um juiz covarde". (Antonio Cruz/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de abril de 2019 às 18h30.

Lisboa — O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez nesta terça-feira (23) uma grande defesa da magistratura brasileira. Ele avaliou que os juízes têm sido acuados pela opinião pública e disse que é preciso estar atento para a possibilidade de perda da força das instituições e do Estado de Direito.

Em fortes declarações a um público formado basicamente por profissionais do setor jurídico brasileiros e portugueses, Mendes disse que são produzidas hoje situações "anômalas".

O ministro fez as afirmações durante discurso de encerramento do VII Fórum Jurídico de Lisboa, evento organizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Numa referência a uma expressão de Rui Barbosa, o magistrado citou a frase "o bom ladrão se salvou, mas não há salvação para um juiz covarde".

"Mas como exigir de um juiz — não é coragem, é heroísmo — nesse ambiente que se cria, de ataques, perturbações? Criou-se esse ambiente, como se isso fosse correto, a partir desse massacre que se faz nas redes sociais", disse.

Ele declarou que trata do assunto com tranquilidade, mas que não iria exigir a mesma atitude de outras pessoas. "Isso precisa ser repudiado, pois passou a ser incentivado como uma distinção entre bons e maus. E quem são os bons? Ah, aqueles que fazem aquilo o que a chamada opinião pública entende o que está correto".

Habeas corpus

O ministro disse ainda que passou a existir um sentimento de que conceder habeas corpus à prisão indevida é um ato heroico. "Isso é o caminho para a barbárie. Negar habeas corpus a quem tem direito porque eu quero me acovardar é o caminho para a barbárie. Assim se constrói o caminho à desinstitucionalização. Por isso, temos que voltar à ortodoxia", defendeu.

"Vamos impedir esse tipo de vilipêndio que se torna extremamente comum e que é repetido. Uma senha que nos envergonha enquanto processo civilizatório, não foi isso o que aprendemos. É preciso que isso seja respeitado de fato", declarou.

Mendes também ressaltou não ser bom para a magistratura a existência de um "ativismo exagerado". "Julgue o processo com a sobriedade necessária. O juiz não é sócio do delegado ou do procurador", argumentou.

Acompanhe tudo sobre:Gilmar MendesJustiçaSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 23 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP