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O que pode acontecer com o Brasil pós-Dilma

"A crise vai continuar, porque o lado perdedor vai utilizar todos os instrumentos para boicotar os vencedores", esclareceu o analista político André César


	Dilma: "a crise vai continuar, e inclusive se agravará, porque o lado perdedor vai utilizar todos os instrumentos para boicotar os vencedores", esclareceu o analista político André César
 (Adriano Machado/Reuters)

Dilma: "a crise vai continuar, e inclusive se agravará, porque o lado perdedor vai utilizar todos os instrumentos para boicotar os vencedores", esclareceu o analista político André César (Adriano Machado/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 18 de abril de 2016 às 11h39.

Com confete, músicas e slogans em coro, a oposição brasileira festejou no domingo a autorização do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff dada pela Câmara dos Deputados. O objetivo é retirá-la do poder, mas... e depois?

Os deputados aprovaram que o processo de destituição vá ao Senado, deixando Dilma a dois passos de deixar definitivamente a presidência.

O Senado pode começar o processo no próximo mês e, se o julgamento for aprovado, Dilma teria que se afastar do cargo enquanto é julgada.

A presidente pode sobreviver ao julgamento, mas analistas consultados pela AFP acreditam que o Senado seguirá o caminho traçado pela Câmara.

E os deputados que anunciaram seu voto no microfone como os manifestantes das ruas não hesitaram em dizer: "Tchau querida".

Cenário de revanche

O vencedor imediato de todo este processo é o vice-presidente Michel Temer, que se tornou o principal rival de Dilma e, segundo ordena a Constituição, assumirá o poder enquanto a presidente for julgada e completará seu mandato até 2018 se ela for declarada culpada.

Temer se encara como um presidente à espera. Isso ficou claro depois que divulgou "acidentalmente" uma gravação na qual ensaiava seu primeiro discurso à nação.

Mas a realidade do cargo pode não ser tão atrativa.

"Um eventual governo seu estará em uma situação melhor que o de Dilma, mas também muito complicada", disse à AFP Diego Werneck, especialista em Direito Público da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.

O advogado constitucionalista e seu partido, o PMDB, encontrarão uma oposição amarga e vingativa se Dilma for forçada a deixar o cargo.

Profundamente impopular entre a maioria dos brasileiros, Temer, de 75 anos, enfrentaria um problema de credibilidade ao chegar à presidência sem o voto popular.

E isso antes de abordar os problemas estruturais, num momento em que a maior economia da América Latina atravessa sua pior recessão em décadas e espanta os investidores.

As três grandes agências de classificação de risco rebaixaram as obrigações da dívida brasileira à categoria de "lixo".

Pesadelo

"A crise vai continuar, e inclusive se agravará, porque o lado perdedor vai utilizar todos os instrumentos para boicotar os vencedores. De qualquer forma, o Brasil amanhecerá pior amanhã", disse à AFP o analista político André César.

Temer declarou que pretende estabelecer uma coalizão de unidade nacional, mas "não é tão fácil. Será um pesadelo", acrescentou.

Werneck disse, por exemplo, que Temer pode terminar lutando contra si mesmo para permanecer no poder.

Aliados de Dilma apresentaram um pedido de impeachment contra o atual vice-presidente, alegando que também está envolvido na suposta maquiagem de contas na qual se baseia o caso de Dilma.

Embora seja pouco provável que um processo de impeachment contra ele se concretize - seu companheiro de partido Eduardo Cunha preside a Câmara de Deputados -, a ameaça estará sempre latente.

Temer também enfrenta com Dilma um processo na justiça eleitoral, acusados de ter recebido dinheiro sujo do esquema de corrupção na Petrobras para financiar sua campanha.

O tribunal pode anular a eleição e convocar novas eleições.

Crise sem fim

O obstáculo mais imediato para quem quer que esteja no poder é recuperar a governabilidade deste país fraturado.

Dilma encontra-se praticamente sem nenhum poder no palácio presidencial, sem conexão com o Congresso e desprestigiada entre a população.

Os analistas disseram que Temer corre o mesmo risco.

Seu PMDB tem uma mistura de ideologias e sempre contou com um papel chave no poder, mesmo que não apresente um candidato próprio desde 1994.

Com sócios potenciais para as eleições de 2018, as alianças, no entanto, podem ser frágeis.

Sylvio Costa, especialista político do blog Congresso em Foco, disse que Dilma está longe de ir embora, mas que novos problemas são avistados no horizonte.

"Quem perder seguirá protestando nas ruas. O que temos certeza é que a crise não termina hoje", conclui.

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