Bolsonaro: ex-presidente foi alvo da PF nesta quinta-feira (Paul Hennessy/Anadolu Agency/Getty Images)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 8 de fevereiro de 2024 às 19h20.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2024 às 13h32.
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira, 8, a Operação Tempus Veritatis – "hora da verdade", em latim –, para apurar, segundo a PF, uma suposta organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado. Os alvos foram o ex-presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus principais aliados políticos.
Os policiais federais cumpriram ordens expedidas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O Exército Brasileiro acompanhou o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal. Como mostrou a EXAME, Bolsonaro entregou o seu passaporte e não poderá manter contato com os outros investigados.
Segundo a PF, uma minuta tratando de um golpe de Estado foi entregue a Bolsonaro por seu ex-assessor para assuntos internacionais Filipe Martins, preso na manhã desta quinta, e Amauri Feres, alvo de busca e apreensão.
O rascunho detalhava supostas interferências do Judiciário no Executivo e decretava a prisão de diversas autoridades, entre elas os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes e Rodrigo Pacheco, além de definir a realização de novas eleições.
Investigações apontam ainda que alterações na minuta foram realizadas a pedido de Bolsonaro. Com as mudanças, permaneceu no rascunho o pedido de prisão de Moraes e a determinação de novas eleições. A PF aponta que o ex-presidente teria concordado com os termos do documento e convocado uma reunião com os comandantes das forças militares para apresentar a minuta e pressioná-los a aderirem ao golpe de Estado.
Os policiais identificaram que a agenda e os voos de Moraes foram monitorados pelos investigados, que acompanharam os deslocamentos do ministro com o intuito de executarem a ordem de prisão, em caso de consumação do golpe de Estado. Conversas entre o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e Marcelo Câmara, coronel do Exército, preso nesta manhã, evidenciam o monitoramento do itinerário do ministro do STF, chamado de "professora" pelos investigados, segundo documentos encontrados pela PF.
Na decisão de Moraes, é citado que a PF tem em mãos um vídeo de uma reunião entre Bolsonaro e a alta cúpula do governo aprendido em uma busca na casa de Mauro Cid. Participaram do encontro:
Segundo a PF, a reunião teve como objetivo reforçar os ataques ao sistema eleitoral brasileiro e cobrar os presentes por uma conduta ativa na difusão de informações inverídicas.
A investigação afirma que Bolsonaro exigiu que seus ministros deveriam promover e replicar todas as informações que questionavam as urnas eletrônicas.
"Daqui para a frente quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui, e vou mostrar. Se o ministro não quiser falar, ele vai vim falar para mim porque que ele não quer falar. Se apresentar onde eu estou errado eu topo. Agora, se não tiver argumento para me ti... demover do que eu vou mostrar, não vou querer papo com esse ministro. Tá no lugar errado. Se tá achando que eu vou ter 70% dos votos e vou ganhar como ganhei em 2018, e vou provar, o cara tá no lugar errado", disse Bolsonaro, segundo a PF.
Na mesma reunião, o então ministro-chefe do GSI Augusto Heleno disse que conversou com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) “para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais”. O ministro, porém, logo foi calado por Bolsonaro, que pediu para o tema ser tratado apenas com ele.
As investigações da PF apontam que um grupo com seis núcleos de atuação agia de forma articulada para auxiliar o então presidente a operacionalizar medidas para desacreditar o processo eleitoral, planejar e executar golpe de Estado e abolir o Estado Democrático de Direito, com a intenção de se manter no poder.
O "Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral" era formado por:
O grupo atuava, segundo a PF, na produção, divulgação e amplificação de notícias falsas sobre as eleições presidenciais.
Núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado
De acordo com os investigadores, esse eixo atuava para atacar militares que não aderissem as investidas golpistas.
Núcleo jurídico
Atuava, segundo a PF, no assessoramento e elaboração de minutas de decreto com fundamento jurídica que atendessem aos interesses golpistas
Núcleo operacional de apoio às ações golpistas
De acordo com a investigações, atuavam em reuniões de planejamento e execução de medidas para manter as manifestações em frente aos quartéis militares.
Núcleo de inteligência paralela
Segundo os investigadores, realizava a coleta de dados e informações que auxiliavam que o ex-presidente Jair Bolsonaro tomasse decisões na consumação do golpe de Estado.
Núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos
Agia para influenciar e incitar o apoio aos demais núcleos de atuação para a consumação do golpe de Estado, de acordo com a PF.