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O que o PT ganha e perde ao insistir na candidatura de Lula para a eleição

A incerteza sobre a candidatura do ex-presidente Lula pode colocar em risco a participação do partido nas eleições deste ano

Lula: Num prazo de cinco horas, alvará de soltura foi concedido e revogado por desembargadores do TRF-4 (Victor Moriyama/Getty Images)

Lula: Num prazo de cinco horas, alvará de soltura foi concedido e revogado por desembargadores do TRF-4 (Victor Moriyama/Getty Images)

Valéria Bretas

Valéria Bretas

Publicado em 16 de junho de 2018 às 08h30.

Última atualização em 18 de junho de 2018 às 13h03.

São Paulo – Apesar de todos os riscos,  o Partido dos Trabalhadores (PT) não abre mão de manter o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como a única opção da legenda à Presidência da República. Na última sexta-feira (8), mesmo atrás das grades e com a possibilidade de ter a candidatura barrada, Lula foi lançado pré-candidato oficial do partido para a corrida eleitoral em um ato em Minas Gerais. 

Preso há pouco mais de dois meses por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, Lula ainda lidera as pesquisas de intenção de voto — mas já apresenta uma sutil queda na preferência do eleitorado. Na última sondagem do Instituto Datafolha, divulgada no domingo, ele somou até 30% das intenções de voto. Na pesquisa anterior, feita antes de sua prisão, Lula abocanhava 37% dos apoios. 

Por ora, o PT insiste que discutir um plano B para a disputa presidencial está fora de questão. Mas não considerar um nome alternativo, na verdade, pode ser uma estratégia do partido para garantir uma vaga no segundo turno.

O que o partido ganha 

No limite, o discurso de “inocente condenado e perseguido”, reforçado com frequência pelo próprio ex-presidente, tem servido como prato principal para alimentar um  partido que depende de um único personagem para sobreviver, na visão de Fernando Schüler, cientista político do Insper.

Segundo o pesquisador, ainda que a falta de um substituto traga um certo risco, Lula é a única chance real que o PT tem para conseguir manter uma relevância política e montar uma bancada competitiva no Congresso. “Manter essa narrativa viva é uma maneira de segurar a militância e tentar garantir a viabilidade das candidaturas no Legislativo e no governos estaduais”, afirma.

Na opinião do especialista, lançar um outro nome sem qualquer referência ao ex-presidente seria um verdadeiro tiro no pé. A melhor estratégia, portanto, seria aguardar o prazo final de todos os recursos na Justiça Eleitoral (onde Lula pode ser barrado pela Leia da Ficha Limpa) e investir em um efeito emocional que impulsione a transferência de votos para um eventual substituto.

O capital político de Lula é, de fato, um grande ativo para o PT. A última sondagem do Datafolha mostra que caso ele seja declarado inelegível pelo TSE, 30% dos brasileiros votariam em um nome apoiado pelo petista. A título de comparação, a influência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, é de apenas 10%.

Mesmo atrás das grades, o potencial de Lula traz mais um benefício: as doações de campanha. Em um ano em que as arrecadações de empresas estão proibidas, a candidatura do petista pode trazer bons resultados. Em apenas uma semana, a vaquinha virtual da campanha do petista já arrecadou mais de 263,6 mil reais em doações (segundo dados compilados no fim da tarde da última quinta-feira). 

Todos esses fatores, somados à impopularidade do presidente Michel Temer (MDB), podem dar uma vantagem para a chapa petista. “É importante ressaltar que quanto mais a situação do atual governo se afunda, mais popular fica a imagem do PT como uma alternativa eleitoral”, diz Thiago Vidal, cientista político da consultoria Prospectiva.

O que o partido perde

Nas últimas eleições municipais, em 2016, o PT cravou o seu pior resultado eleitoral das últimas duas décadas ao perder o comando de mais de 50% das 638 prefeituras que detinha. No mesmo ano, o partido também perdeu as rédeas com o impeachment de Dilma Rousseff, que encerrou o legado petista de 13 anos no poder.

Por essa linha de pensamento, a incerteza na definição da chapa presidencial pode criar um isolamento na formação de alianças com os outros partidos. “Ninguém vai querer fechar aliança sem saber quem será o candidato. Quanto maior é o atraso na negociação, maior é o risco”, afirma Carlos Pereira, analista político da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE).

Em outras palavras, manter a atual estratégia pode reduzir a capacidade do PT de aglutinar uma parceria com os demais partidos de esquerda que poderiam dar fôlego para a construção de uma chapa competitiva.

Vidal, da Prospectiva, ressalta também que o fato de um candidato à presidência participar pessoalmente de atos e apoiar publicamente candidatos regionais contribui para que o partido tenha maior projeção nas esferas municipal, estadual e federal. Na prática, com o ex-presidente preso e a ausência de outro candidato já definido, a probabilidade do partido não conseguir formar uma bancada robusta no Congresso pode crescer.

“O problema é que o PT criou uma relação de dependência muito forte com o Lula e agora não consegue mais descartá-lo”, diz Pereira. Não conseguir emplacar outro líder político aos 45 minutos do segundo tempo, de acordo com os analistas, é o que pode comprometer a sobrevivência do partido no longo prazo.

De qualquer forma, ainda há meios para o partido conseguir um bom espaço nas eleições deste ano. A dúvida, no entanto, é saber qual narrativa vai conquistar o eleitorado.

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