Tabata Amaral: deputada, que se classifica como de centro-esquerda, foi criticada nas redes sociais por defender reforma da Previdência e afirmar que o atual modelo gera desigualdades (Flávio Santana/Exame)
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2019 às 06h06.
Última atualização em 15 de julho de 2019 às 06h34.
O destino de Tabata Amaral no PDT começa a ser decidido hoje. O partido discute a partir desta segunda-feira o caso da deputada federal e de outros sete dos 27 deputados da legenda que contrariaram a decisão do partido e votaram a favor da reforma da Previdência na semana passada.
Além do PDT, o PSB também viu 11 de seus 32 deputados contrariarem o partido e votarem a favor do texto. Os dois partidos abriram processo interno para debater os casos, e as discussões podem levar até dois meses.
Dentre os que apoiaram as mudanças previdenciárias, Amaral foi a mais criticada nas redes sociais — ainda que já venha dizendo desde o início do ano que votaria a favor da reforma. A deputada é filiada ao movimento apartidário Acredito, a quem também pertence Felipe Rigoni (PSB-ES), outro que contrariou decisão partidária.
O Acredito afirmou em nota que o caso descumpre garantias dadas pelos partidos de que os deputados poderiam manter independência. Ciro Gomes, presidenciável pelo PDT em 2018, disse neste sábado, 13, que o Acredito é um “partido clandestino” e que Amaral deveria ter a “dignidade de sair do PDT” por conta própria.
As legendas, contudo, estão agora em uma sinuca de bico: como o mandato pertence ao deputado e não ao partido, se decidirem expulsar todos os que desrespeitaram a decisão partidária, PDT e PSB perderão cada qual cerca de um terço de suas cadeiras na Câmara. Enquanto isso, aos deputados, não faltam ofertas para integrarem outros partidos — de olho em aumentarem suas bancadas, tempo de televisão e fatia do fundo partidário.
Casos de racha nos partidos não são estranhos à política nacional. O mais famoso tem a ver também com uma reforma da Previdência: a criação do PSOL, em 2004, aconteceu depois que então deputados do PT (como Heloísa Helena e Luciana Genro) foram expulsos do partido ao votar contra a reforma aprovada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003. Já o PSDB nasceu em 1988 como braço do MDB, depois que políticos como Fernando Henrique Cardoso discordaram das decisões tomadas pelo partido na Constituinte.
Após as críticas da última semana, a deputada usou seu espaço quinzenal no jornal Folha de S. Paulo para reforçar sua convicção de ter ido contra a orientação do PDT e dizer que está sofrendo perseguição política.
"Não estamos falando de dois ou três parlamentares, mas de praticamente um terço das bancadas de duas relevantes siglas que ocupam posição mais ao centro no espectro da esquerda. A expressividade dessa dissidência acendeu ao menos a luz amarela nas estruturas?", questionou a deputada.
Tabata também criticou a inflexibilidade do que chamou de extrema esquerda, a qual, na sua opinião, está "enclausurada em suas amarras". "Quando algum membro decide tomar uma decisão que considere responsável e fiel ao que acredita ser importante para o país, há perseguição política. Ofensas, ataques à honra e outras tentativas de ferir a imagem tomam lugar do diálogo. Exatamente o que vivo agora", escreveu.
Sexta colocada no quadro geral de deputados eleitos em 2018, Tabata ganhou os holofotes por conta de sua trajetória de vida e planos para a educação, inclusive contestando duramente o então ministro da Educação Ricardo Vélez Rodriguez e seu sucessor, Abraham Weintraub.