Brasil

O que ficou e o que caiu do pacote anticrime de Moro aprovado pela Câmara

Com 408 votos favoráveis, parlamentares aprovaram aumentar pena máxima no Brasil, mas retiraram excludente de ilicitude; veja os votos

Violência: pacote tem a proposta de reduzir índices de violência no Brasil (Mario Tama/Getty Images)

Violência: pacote tem a proposta de reduzir índices de violência no Brasil (Mario Tama/Getty Images)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 5 de dezembro de 2019 às 14h02.

Última atualização em 5 de dezembro de 2019 às 14h02.

São Paulo — Dez meses depois de receber a proposta do pacote anticrime pelas mãos do ministro da Justiça e Segurança Público, Sergio Moro, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (04) o texto-base do projeto.

Por 408 votos a favor, 9 contra e 2 abstenções, os parlamentares aceitaram parte da proposta sugerida pelo ministro e ainda acrescentaram outras medidas apresentadas pela comissão de juristas coordenada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O texto final (PL 10372/18), desenhado pelo grupo de trabalho montado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, no começo do ano, trouxe modificações e desidratação em relação à proposta original.

Dentre as principais mudanças, estão o aumento de pena máxima e da condenação por homicídio. Pautas sensíveis como a ampliação do excludente de ilicitude e a previsão de prisão após segunda instância foram retiradas. Agora, o texto segue para o Senado.

As propostas rejeitadas, no entanto, são temas caros para Moro, que afirmou em seu Twitter que "há necessidade de algumas mudanças no texto para aprimorar o PL".

Desde o começo do ano, Moro defende a ampliação de situações que caracterizam legítima defesa, bandeira historicamente defendida pelo presidente Jair Bolsonaro.

O projeto inicial permitia a redução ou até extinção da pena para atos de legítima defesa cometidos por efeito de "medo" ou "violenta emoção", o que é visto com preocupação em um contexto de alta histórica na letalidade policial em estados como o Rio de Janeiro.

"Não existe nenhuma licença para matar. Quem afirma isso está equivocado, não leu o projeto", afirmou o ministro em fevereiro após as críticas.

Ponto a ponto das mudanças

Cumprimento de pena

A Câmara dos Deputados aprovou ampliar de 30 anos para 40 anos o tempo máximo de cumprimento da pena de prisão no Brasil. 

Aumento de penas

Crimes cometidos com armas passam a ter penas maiores quando há homicídio praticado com arma de fogo de uso restrito ou proibido, como fuzis, por exemplo. Nesse caso, o acusado será punido com 12 a 30 anos de reclusão. Atualmente, é de 6 a 20 anos.

Crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação) divulgados em redes sociais terão pena três vezes maior a de hoje, que é de seis meses a dois anos de detenção.

Roubo praticado com violência ou grave ameaça à vítima terá o dobro da pena, que atualmente é de 4 a 10 anos de prisão.

Crimes hediondos

O texto-base aumenta o número de casos considerados hediondos e pelos quais o condenado não pode contar com anistia, graça ou indulto e deve começar a cumprir a pena em regime fechado.

Assim, passam a ser considerados hediondos os crimes de: homicídio com arma de fogo de uso restrito ou proibido; roubo com restrição de liberdade da vítima; roubo com uso de arma de fogo de uso proibido ou restrito; roubo que resulte em lesão corporal grave da vítima; extorsão com restrição de liberdade da vítima ou lesão corporal grave; furto com uso de explosivo; posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido; comércio ou tráfico internacional de arma de fogo; organização criminosa para a prática de crime hediondo.

O projeto retira de crime hediondo a posse ou porte de arma de uso restrito por aqueles que não podem fazê-lo. As de uso restrito são aquelas mais potentes, usadas principalmente pelas polícias e Forças Armadas, geralmente pistolas e revólveres de calibre maior.

Estatuto do Desarmamento

De acordo com o texto, a pena para quem lidar com armas de uso proibido aumenta de 3 a 6 anos de reclusão para 4 a 12 anos de reclusão. Isso inclui usar, portar, fabricar ou entregá-la a criança ou adolescente.

O comércio ilegal de arma de fogo passa a ter pena de 6 a 12 anos de reclusão (atualmente é de 4 a 8 anos). Já o tráfico internacional de armas passa de 4 a 8 anos para 8 a 16 anos.

Os reincidentes nesses crimes e também no porte ilegal de qualquer arma terão a pena aumentada da metade. Nestes dois casos, poderão ser condenados aqueles que venderem ou entregarem arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização, a agente policial disfarçado quando houver indicativos de conduta criminal preexistente.

A regra permite a validação de flagrantes em operações especiais com agentes infiltrados.

Progressão de pena

A chamada progressão de regime dependerá do tipo de crime. Hoje, a regra estabelece que que a pessoa tenha cumprido pelo menos 1/6 da pena para mudar de regime (semi-aberto ou aberto).

Para crimes hediondos, a exigência é de 2/5 (40%) da pena se o réu for primário e de 3/5 (60%) se reincidente.

Com as novas regras, o tempo exigido varia de 16%, para o réu primário cujo crime tenha sido sem violência à vítima, a 70%, no caso de o condenado por crime hediondo com morte da vítima ser reincidente nesse tipo de crime. Neste último caso, o condenado não poderá contar com liberdade condicional, mesmo se não for reincidente.

Delação premiada

O texto prevê que nenhuma medida cautelar e recebimento de denúncia ou queixa-crime poderá ser decretada ou apresentada apenas com as declarações do delator.

Estabelece, ainda, que se o acordo de colaboração não for confirmado, o Ministério Público ou a Polícia não poderão usar as informações ou provas apresentadas.

Advogado para policial

Segundo o texto aprovado, policiais sob investigação pela morte de alguém sem confronto ou legítima defesa no exercício de suas funções poderão contar com advogado pago pela corporação para defendê-lo em processos extrajudiciais e inquéritos policiais militares.

Isso ocorrerá se o profissional não indicar seu próprio defensor e se não houver defensor público com atribuição para atuar na região do inquérito.

A regra vale ainda para militares que atuarem em ações de policiamento e combate ao crime para a garantia da lei e da ordem (GLO).

Tráfico de drogas

O texto-base considera crime de tráfico de drogas, punível com reclusão de 5 a 15 anos, quando o acusado entrega ou vende a policial disfarçado drogas, insumos, matéria-prima ou produto químico para fabricá-la.

Banco Nacional de Perfis Balísticos

O PL prevê também a criação do Banco Nacional de Perfis Balísticos, para cadastrar armas de fogo e armazenar dados relacionados a projéteis e a estojos de munição deflagrados por arma de fogo.

Presos considerados perigosos em presídios federais

Amplia o período de permanência de presos considerados perigosos em presídios federais. A lei atual prevê prazo máximo de 360 dias. A proposta vai ampliar o período para três anos, renováveis por mais três.

Banco de Dados Multibiométrico e de Impressões Digitais

O texto-base aprova a criação do Banco Nacional Multibiométrico e de Impressões Digitais para armazenar dados de registros biométricos, de impressões digitais e, quando possível, de íris, face e voz. Os dados vão subsidiar investigações criminais.

Informante do bem

A administração pública poderá manter ouvidorias para garantir que "qualquer pessoa tenha o direito de relatar informações sobre crimes contra a administração pública, ilícitos administrativos ou quaisquer ações ou omissões lesivas ao interesse público".

Prescrição da pena

Poderá ser suspensa a contagem da prescrição de pena quando houver recursos pendentes em tribunais superiores. A prescrição ocorre quando termina o prazo para que a Justiça promova a punição contra um acusado de crime.

Veja quem votou a favor e contra o pacote anticrime

(Com informações da Agência Brasil e da Agência Câmara)

Acompanhe tudo sobre:AssassinatosCâmara dos DeputadosCrimeHomicídiosSenadoSergio Moro

Mais de Brasil

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura

Em meio a concessões e de olho em receita, CPTM vai oferecer serviços para empresas