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O que esperar do cenário político do Brasil em 2017

Cinco cientistas políticos e analistas compartilham suas previsões para o cenário político em 2017; confira

Bárbara Ferreira Santos

Bárbara Ferreira Santos

Publicado em 19 de dezembro de 2016 às 06h00.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 16h00.

EXAME.com convidou cinco analistas para traçar previsões para o cenário político em 2017.  Veja o que eles disseram:

Não descarte a hipótese de eleição indireta, por Marcelo Issa

Saudade do tempo em que pedalada era “crime de responsabilidade”, por Carlos Ranulfo

2017: um ano decisivo para alianças políticas, por Antônio Flávio Testa

Base aliada do governo será posta à prova já em fevereiro, por Thiago Vidal

Prepare-se para fatos que não estão no radar, por Lucas de Aragão


Não descarte a hipótese de eleição indireta

Quem diz:  Marcelo Issa, sócio-diretor da Pulso Público

Certamente, haverá ainda muita turbulência. A permanecerem as recentes e recorrentes divergências entre as instituições, em especial entre os poderes Legislativo e Judiciário, pode-se até mesmo vir a se estabelecer uma efetiva crise institucional. As perspectivas decorrentes dos conteúdos das delações premiadas que devem emergir em 2017 agravam e reforçam essa possibilidade. Esses conteúdos devem provocar também a substituição de uma quantidade expressiva de ministros ainda nos primeiros meses do ano.

Caso a conjuntura da economia não apresente sinais de recuperação, o setor produtivo pode vir a retirar o apoio às equipe econômica do governo Temer. Ademais, a proliferação de denúncias de corrupção contra o presidente e seus ministros deve intensificar a oposição da opinião pública à permanência do governo e pode fazer aumentar a frequência de manifestações nas ruas.

Nesse contexto, a fragilização do governo, a piora do cenário econômico e a insatisfação popular podem atingir tamanha intensidade que, embora resistente à renúncia, em função da proteção que o cargo oferece contra o processamento por crimes cometidos antes do mandato, o presidente pode ver-se constrangido a realizá-la.

Não se pode descartar, portanto, a hipótese de eleição indireta para presidente no próximo ano nem tampouco, embora mais improvável, o chamamento de eleição direta pelo Congresso para chefia do Executivo por meio de emenda constitucional. Por outro lado, entende-se que a cassação da chapa Dilma-Temer pelo Poder Judiciário em caráter definitivo é variável verossímil apenas em caso de agravamento  substancial da crise econômica e que, de qualquer modo, não teria resolução provável em 2017.


Saudade do tempo em que pedalada era “crime de responsabilidade”

Quem diz: Carlos Ranulfo Melo, professor titular do Departamento de Ciência Política da UFMG

A essa altura tornou-se evidente que o afastamento de Dilma não foi o remédio para nossos males. O episódio contribuiu, é certo, para recompor as relações entre Executivo e Legislativo, mas seu impacto foi nulo se considerarmos a crise econômica, o fosso aberto entre a sociedade e o mundo político, e as tensões provocadas pela Lava Jato.

Na economia, as previsões otimistas foram abandonadas. O Congresso aprofundou seu desgaste. E o Supremo, ao relevar a afronta de Renan em nome da “governabilidade”, acabou também pagando o seu preço.

Pior ainda, o presidente da República foi envolvido, juntamente com seus braços direito e esquerdo, e todo o núcleo dirigente do PMDB, no caixa 2 e propinoduto da Odebrecht – pelo seu impacto, a delação vazada deixa saudade do tempo em que pedalada fiscal foi batizada de “crime de responsabilidade”.

Se antes do vazamento a rejeição ao governo havia subido, pode-se imaginar o que vem por aí. De um lado, a turma de verde e amarelo vai ficando sem ter para onde correr. De outro, aqueles que mais dependem do Estado e sua rede de proteção social vão começando a perceber, ao somar a PEC 55 e a proposta de reforma da Previdência, que a conta da austeridade lhes será enviada.

Pergunta óbvia: com que legitimidade políticos envolvidos em tenebrosas transações dirão ao cidadão que ele terá que trabalhar, se houver emprego, e contribuir muito mais para garantir sua aposentadoria?

A crise não vai passar em 2017. Nem sequer sabemos quanto irá durar o governo. Isso vai depender da Lava Jato e dos humores da sociedade, para não falar do TSE. Por isso já se ouve dizer que ruim sem Temer, pior sem ele. Mas se sobreviver, o governo será fraco. Mais ainda, será uma farsa.


2017: um ano decisivo para alianças políticas

Quem diz: Antônio Flávio Testa, professor da Universidade de Brasília (UnB)

Tudo indica que 2017 será um ano difícil para o cenário político do Brasil. Como os indicadores mostram que a economia não está reagindo e que o nível de recessão é profundo, a insatisfação social e dos servidores públicos deve aumentar no próximo ano.

Politicamente falando, o governo federal tende a enfraquecer por ter uma base de sustentação frágil, mesmo com maioria no Congresso. Além disso, é importante frisar que as delações dos executivos da Odebrecht e o avanço nas investigações da Operação Lava Jato devem amplificar a turbulência no mundo político e é possível que o governo de Michel Temer não se sustente. Muita gente ainda será presa e condenada.

O fato é que 2017 será um ano decisivo para se estabelecer alianças políticas. Nesse contexto, é possível prever a chegada de novos candidatos no estilo da ex-ministra Marina Silva, pretensos ao estilo “salvador da pátria”. Ainda assim, a situação estará muito indefinida e teremos sérias crises pela frente.


A base aliada do governo será posta à prova já em fevereiro

Quem diz: Thiago Vidal, consultor da Prospectiva

Os grandes destaques de 2017 serão as eleições para a presidência das duas casas do Congresso, que ocorrerão em fevereiro. No Senado, a disputa parece caminhar para um consenso em torno do senador Eunício Oliveira (PMDB/CE), líder do partido e braço direito de Renan Calheiros (PMDB/AL).

A eleição na Câmara, por sua vez, colocará à prova a capacidade do governo de manter sua base coesa. Quatro parlamentares despontam como favoritos: Jovair Arantes (PTB/GO), um dos principais expoentes do “centrão” e relator do impeachment de Dilma Rousseff; Rogério Rosso (PSD/DF), líder do partido na Câmara; Marcos Montes (PSD/MG), correligionário de Rosso e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA); e Rodrigo Maia (DEM/RJ), atual presidente e nome preferido do Palácio do Planalto.

Ainda que parte dos nomes abandonem a disputa, a fragmentação da base governista a dois meses do pleito evidencia as dificuldades que Michel Temer deve enfrentar. Para evitar uma cisão ainda maior entre seus aliados, é possível que o presidente aloque insatisfeitos do “centrão” e dos partidos tradicionais (PMDB, DEM, PSDB, PPS, PSB) em cargos ministeriais, como já fez ao convidar o deputado Antonio Imbassahy (PSDB/BA) para a secretaria de Governo, no lugar de Geddel Vieira Lima (PMDB/BA).

A acomodação de forças não será fácil e caso não consiga estabilizar sua base aliada, Temer deve atravessar 2017 com turbulências políticas. O maior impacto, neste caso, tende a ser a votação da reforma da previdência.

Alguns fatores agravam esse cenário. A delação premiada dos executivos da Odebrecht, por exemplo, deve envolver onze ministros, além de cem congressistas, muitos dos quais aliados importantes do Executivo. O desgaste político de Temer somado a sua baixa popularidade e ao pessimismo em relação à economia pode levar o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] a cassar o mandato do presidente, provocando eleições indiretas, o que ainda não ocorreu por causa da acentuação da crise política que isso geraria.


Prepare-se para fatos que não estão no radar

Quem diz: Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice

Vai ser um ano truculento. A Lava Jato não vai parar. Podemos esperar a queda de ministros e situações bem constrangedoras para o governo Temer. Mas, de forma geral, a tendência predominante é de que Temer termine o mandato.

Temer não irá recuperar sua popularidade no ano que vem, mas isso não significa que ele irá perder o controle de seu mandato. O principal risco para a governabilidade continua sendo a Lava Jato e as ruas.

Eu acredito que vai ser um ano muito tenso politicamente. Vão existir muitos problemas que não estão no radar de ninguém, como a questão o Marcelo Calero e do Geddel. Ninguém esperava.

No primeiro semestre, a delação da Odebrecht vai produzir poucos fatos, mas muitos rumores que deixarão a situação muito intranquila.

A Reforma da Previdência não vai ser uma vitória tranquila como foi a PEC do Teto. Ela vai provavelmente sofrer mudanças, principalmente na Câmara. No Senado, tende a ter uma tramitação mais tranquila. Já a reforma política não deve trazer grandes mudanças. Afinal, reforma política é que nem carnaval: tem todo ano.

Veja o Especial de Ano Novo 2017 de EXAME.com

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