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O peso das tribos na resolução do conflito na Líbia

Analistas acreditam que divisão tribal na Líbia é maior do que nos outros países da região e influenciará o futuro do país

Homens erguem os punhos durante manifestação pró-governo em Kufra, Líbia (Mahmud Turkia/AFP)

Homens erguem os punhos durante manifestação pró-governo em Kufra, Líbia (Mahmud Turkia/AFP)

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Da Redação

Publicado em 28 de março de 2011 às 15h07.

Paris - A solidariedade tribal poderá ter um peso cada vez maior na resolução do conflito na Líbia, à medida que os insurgentes avançam para a região de Trípoli, bastião do regime de Kadafi, consideram os analistas.

O avanço dos rebeldes foi bloqueado nesta segunda-feira de manhã pelas forças líbias 140 km a leste de Sirte. Mas a coalizão internacional que conduz os ataques aéreos há dez dias anuncia divisões no Exército líbio e nos círculos próximos a Kadafi, o que ajuda o movimento.

"Na Líbia, não temos uma revolução democrática, como no Egito ou na Tunísia, é uma revolta tribal, uma forma de secessão. Não é uma aspiração das ruas tão profunda, democrática, como em outros países", ressalta Eric Denécé, do Centro Francês de Pesquisas sobre Inteligência (CF2R, siglas em francês).

Dividida em três grandes regiões - a Tripolitânia (nordoeste), a Cirenaica, com Benghazi (leste), e Fezzan (sul) - a Líbia tem uma grande diversidade de tribos e clãs, sendo cinco ou seis grupos maiores.

Se o leste do país, território tradicional dos Warfallas, grupo mais importante, sempre foi reticente em relação ao regime de Muamar Kadafi, este pode contar no oeste com o apoio de parte da população e de seu Exército, muito heterogêneo e, em geral, pouco combativo.

"Como Kadafi tinha medo de um golpe de Estado, ele foi dividido em vários subexércitos, com a Força Republicana composta essencialmente por membros de sua tribo, mais fiéis ao líder", ressalta Denis Bauchard, ex-embaixador da França e conselheiro do Ifri (Instituto Francês de Relações Internacionais).

Uma resistência feroz dos fiéis a Kadafi em torno de Trípoli, com combates casa a casa, complicará as coisas, segundo militares ligados à coalizão, que quer evitar vítimas civis.

Para se manter no poder, Kadafi cercou-se de pessoas que não pertenciam a sua tribo. Mas "as coisas se deterioraram há cinco ou seis anos, na medida em que a renda obtida com o petróleo foi sendo redistribuída cada vez mais entre seus aliados e entre as tribos do oeste do país", lembra Denis Bauchard.

Os Kadhafas, tribo do coronel Kadafi, são relativamente pouco numerosos, com entre 150.000 e 200.000 pessoas, segundo especialistas. Eles foram beneficiados e sua fidelidade ao regime é uma das incógnitas do conflito.

"Podemos imaginar que na Líbia, em um momento ou em outro, pessoas que são forçadas a viver em um enclave, sob embargo, dirão que há outras formas de viver", ressaltou na sexta-feira o ministro da Defesa francês, Gérard Longuet.

No início de março, as manifestações contra o regime foram violentamente reprimidas na capital líbia.

Mas qual será a atitude da população se os insurgentes continuarem a progredir, apoiados pelos ataques aéreos da coalizão?

Nas aglomerações urbanas, os vínculos tribais têm geralmente tendência a se desintegrar e os moradores reagem mais em função de critérios socioeconômicos do que ao pertencimento a um grupo.

"As tribos têm comportamentos de apoio a quem oferece mais", ressalta Denis Bauchard. Com maior frequência, dentro de uma mesma tribo, ou até de uma mesma família, alguns se aliam a Kadafi e outros, ao Conselho Nacional de Transição (CNT). É um jogo que pode mudar se verificarem que Kadafi está fadado a desaparecer".

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