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O "novo" réveillon do Rio: sem aglomeração e inspirado na França

Organizadores pretendem dar tom de esperança à celebração, priorizando luzes e projeções. Prefeitura estuda homenagear profissionais da saúde

Reveillon no Rio de janeiro (Phil Clarke Hill/Getty Images)

Reveillon no Rio de janeiro (Phil Clarke Hill/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 27 de julho de 2020 às 19h06.

A Prefeitura do Rio e a Riotur vão se reunir nesta semana para estudar os novos formatos para a festa de réveillon. A proposta é adaptar a virada do ano à realidade imposta pela pandemia de covid-19, sem aglomerações na cidade. O projeto visa a evitar a euforia e dar um tom de homenagens e reflexão à festa, com projeções e luzes. Outra possibilidade é homenagear profissionais da saúde. Segundo o presidente em exercício da Riotur, Fabrício Villa Flor de Carvalho, uma das inspirações para o novo modelo vem de um evento na França.

— No mundo inteiro, todos os setores estão se ajustando à "vida como ela é". E o réveillon vem com criatividade para celebrar e preservar vidas. Ao redor do mundo temos visto eventos tradicionais se remodelando. A França acabou de ser um exemplo na celebração na Queda da Bastilha, com fogos na Torre Eiffel, a tradicional exibição da Força Aérea Francesa e uma homenagem aos profissionais da saúde. Esse exemplo mostra que é possível respeitar e viver datas relevantes do calendário sem gerar aglomeração e violar as recomendações.

Lá, a presença do público foi proibida. O evento do último dia 14 foi reduzido e não houve o tradicional desfile militar na Avenida Champs Élysées, em Paris — primeira vez que isso ocorre em 40 anos. Apenas profissionais de saúde da linha de frente e parentes de vítimas da Covid-19 foram convidados para o evento, mantendo distanciamento.

Aqui, a Riotur estuda pulverizar as celebrações pela cidade: Corcovado, Pão de Açúcar, Piscinão de Ramos e Parque de Madureira poderiam receber o evento, assim como Copcabana, que teria uma queima de fogos mais modesta e sem um tratamento diferenciado. Ainda no novo modelo, os shows pirotécnicos e musicais perdem o protagonismo, deixando a responsabilidade para os efeitos de luzes e projeções. Os fogos serão contextualizados e mais singelos, fazendo parte da mensagem de reflexão e respeito às milhares de mortes.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (ABIH-RJ), Alfredo Lopes, os hotéis terão uma participação importante no novo modelo. Ele explica que alguns empreendimentos terão queima de fogos nas coberturas e deverão realizar festas nas áreas internas. Ainda de acordo com o presidente da ABIH, o projeto precisa ser estruturado antes dos hotéis manifestarem interesse, o que, segundo Lopes, deve ocorrer até o fim de agosto.

— Acreditamos que até o fim de agosto o modelo já esteja definido e o caderno de encargos possa ser liberado para as empresas privadas interessadas em organizar e estruturar a festa. Vamos ter réveillon, ainda bastante atrativo, mas não nos moldes tradicionais. Nós já vínhamos conversando e vamos seguir com o diálogo. Na última virada já tivemos fogos em hotéis da Barra da Tijuca e do Recreio, então a experiência será bem sucedida de novo. — afirma Alfredo Lopes.

Embora não pense ainda em proibir tradições na praia, como mergulhos após a meia-noite e a oferta de homenagens a Iemanjá, o objetivo da prefeitura é desincentivar as idas à Copacabana, que provocam também aglomerações no transporte público da cidade. Além disso, a ausência de palcos nas ruas também é uma forma de manter as pessoas em casa. Os shows seriam pré-gravados e transmitidos pela internet e por meio de diferentes canais de televisão.

— Estamos trabalhando em conversas alinhadas com diversos setores. Vamos construir, juntos, alternativas para os eventos fundamentais para a economia e para toda a cadeia que faz o turismo girar. São 52 setores econômicos em cerca de 60 segmentos turísticos. Todos sofreram um grande impacto com a pandemia, mas precisamos levar em consideração a saúde e a segurança das pessoas. Por isso, só com diálogo e criação em conjunto conseguiremos chegar ao melhor caminho possível — afirma a secretária especial de Turismo e Legado Olímpico, Camila Sousa.

Outra ideia que vem sendo estruturada é propor a transmissão da tradicional missa realizada no Cristo Redentor. O monumento também deverá receber, pelo terceiro ano seguido, um espetáculo de projeção mapeada e luzes durante a virada do ano. O Corcovado fica no Parque Nacional da Tijuca, uma Unidade de Conservação. Por isso, a queima de fogos não é esperada para o local, o que poderia desrespeitar normas ambientais e impactar o equilíbrio da natureza.

Já o Bondinho Pão de Açúcar informa que até o momento não foi procurado sobre uma possível realização de queima de fogos no local durante o réveillon deste ano. Em nota, o parque turístico ressalta ainda que não se opõe, mas deixa claro que "depende da autorização de órgãos responsáveis para a sua realização".

Witzel quer um "réveillon diferente" e equilibrado

Nesta segunda-feira, o governador Wilson Witzel (PSC) também comentou o assunto, em entrevista à Rádio Tupi, apesar de o evento ser tradicionalmente uma incubência da prefeitura. O governador disse que vai buscar fazer um "réveillon diferente", com equilíbrio e sem aglomerações, mas não deixando de receber turistas no Rio.

— Sem vacina é difícil dizer que vamos conseguir fazer réveillon como os anteriores. Mas em hotéis de Copacabana, os turistas não precisam sair para ver a queima de fogos. Podemos então ajustar esse ponto, de acordo com os dados de redução da pandemia, para não prejudicar nossa economia, o turismo e os empregos. Esse deve ser o caminho que iremos tomar. Se houver a vacina, ótimo — afirmou Witzel, durante a entrevista, lembrando ainda que 2021 inclui a final da Taça Libertadores, em fevereiro, e o Rock in Rio, em setembro.

Frustração divide espaço com conscientização do público

Para cariocas e turistas, as mudanças no modelo da festa trouxe tristeza e frustração, apesar dessa decisão ser uma possibilidade há cerca de um mês. O advogado Ruan Maia Fonseca, de 29 anos, planejava sair de Curitiba em direção ao Rio com a namorada e mais dois amigos. Apesar da decepção, ele concorda com a decisão.

— Compramos as passagens em fevereiro, antes da pandemia. Nosso medo era reservar hotéis e a doença agravar até lá. Ir para o Rio na virada do ano e não passar o réveillon em Copacabana tira a essência da viagem. Mas nós entendemos que foi a ação mais correta, diante dos riscos.. Já suspendemos a viagem — explica o advogado.

Da mesma forma, a assistente financeira Raphaela Figuerôa, de 29 anos, lamenta não ter o réveillon de Copacabana. Durante dez anos ela passou a virada do ano na praia, onde cumpre rigorosamente um rito de agradecimentos e pedidos para o ciclo que se inicia ali.

— Não passar réveillon em Copacabana é quebrar um ritual muito importante para mim, algo inimaginável, estranho. Eu teria que buscar outras opções, mas que não deverão acontecer. As celebrações do Jockey Club ou do Monte Líbano, por exemplo, também não se organizaram ainda e deverão ser canceladas da mesma forma.

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