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O novo capítulo da delação mais problemática do MPF

Acordo do empresário Joesley Batista já acumula tantas polêmicas e pontos nebulosos que pode colocar em xeque a própria instituição da delação premiada

JOESLEY BATISTA (Daniela-Toviansky/Site Exame)

JOESLEY BATISTA (Daniela-Toviansky/Site Exame)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 5 de setembro de 2017 às 16h57.

São Paulo – A delação premiada que baseou o pedido de investigação do presidente Michel Temer no exercício do cargo também é, até agora, a mais problemática do Ministério Público Federal.

Em 18 de maio, foram divulgados os áudios de uma conversa entre o empresário Joesley Batista e Michel Temer, na qual o empresário afirma que estaria pagando uma "mesada" paga a Eduardo Cunha e a Lúcio Funaro para que eles ficassem calados.

Polêmicas envolveram o acordo desde o começo: houve debate sobre a autenticidade das gravações, denúncias de especulação financeira, e até troca pública de farpas entre o presidente do Brasil e o dono do maior frigorífico do mundo.

Entenda o que essa delação teve de único e por que causou tanto debate:

Autenticidade das gravações

Logo que a gravação da conversa entre Joesley Batista e Michel Temer foi divulgada na imprensa, a defesa do presidente contestou a autenticidade.

Peritos ouvidos pela Folha de S.Paulo e por O Estado de S. Paulo afirmaram que havia a possibilidade de o áudio ter sido editado.

Depois, outra perícia preliminar, feita por Ricardo Molina, um dos peritos mais respeitados do país, apontou 42 pontos de obscuridade, que poderiam indicar edição.

Muito barulho por nada, no entanto: a perícia oficial da Polícia Federal mostrou que a gravação era autêntica e não tinha edições.

Especulação financeira

Um dia antes do vazamento da gravação de Joesley, a JBS teria comprado grandes quantidades de dólares. No dia seguinte, por causa da delação, o dólar disparou 5%, gerando lucro para a empresa.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu inquérito para investigar se a empresa usou inside trading, conhecimento privilegiado sobre uma empresa para realizar operações financeiras e garantir lucro.

As investigações ainda estão sendo realizadas.

Valor da multa

Também chamou atenção o valor da multa aplicado inicialmente aos delatores: 225 milhões de reais. Esse é o valor acertado para a questão penal das pessoas físicas.

Só o lucro da operação com dólares citada acima seria mais que suficiente para pagar as multas, de acordo com cálculos do Nexo.

No acordo de leniência referente à holding J&F, a empresa e o Ministério Público chegaram à quantia de 10,3 bilhões de reais, um recorde mundial.

O valor será pago em 25 anos, com correção monetária. Assim, no final do período, a empresa pode ter que pagar cerca de 20 bilhões de reais.

O acordo inclui fatos investigados nas operações Greenfield, Sépsis e Cui Bono, além da Bullish e da Carne Fraca.

No entanto, mais do que o valor da multa, foi causa de indignação a “facilidade” com que os acusados se livraram da prisão no acordo de delação.

É esse combinado que agora está em xeque, pois, nos novos áudios entregues por Joesley, ele insinua ter recebido ajuda de dentro da PGR para negociar seu acordo, o que nos leva ao próximo tópico.

Marcelo Miller

Depois que Rodrigo Janot apresentou a denúncia contra Temer pedindo que o presidente fosse investigado, o peemedebista decidiu se pronunciar e dar uma cutucada na PGR.

Em pronunciamento, o presidente insinuou que era necessário investigar Marcelo Miller, que trabalhou na PGR e pediu demissão para trabalhar na firma de advocacia que intermediava o acordo de leniência da J&F.

O assunto morreu até a noite desta segunda-feira, quando Janot convocou uma entrevista coletiva para anunciar que a PGR recebeu denúncias de que alguém estaria auxiliando os empresários de dentro do MPF.

O nome do colaborador? Marcelo Miller. Segundo os diálogos, obtidos e publicados pela revista VEJA, Marcelo estava instruindo Joesley Batista e Ricardo Saud para obterem um bom acordo de delação. Agora, os dois podem perder todos os benefícios negociados.

Resta saber se essa será a última polêmica envolvendo a delação – ou se há mais a ser descoberto.

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