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O dilema: Temer e a Lava-Jato

A política brasileira nos brindou com mais um episódio ímpar nesta quarta-feira: o advogado que vira ministro e que, poucas horas depois, é destituído sem sequer ter assumido. Aconteceu com o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, tido como nome certo para o Ministério da Justiça em um eventual governo de Michel Temer. Ontem, em […]

MARIZ: o advogado criminalista é o nome mais cotado para assumir o Ministério da Justiça / Nelson Jr./SCO/STF/Veja

MARIZ: o advogado criminalista é o nome mais cotado para assumir o Ministério da Justiça / Nelson Jr./SCO/STF/Veja

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Da Redação

Publicado em 28 de abril de 2016 às 06h26.

Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h23.

A política brasileira nos brindou com mais um episódio ímpar nesta quarta-feira: o advogado que vira ministro e que, poucas horas depois, é destituído sem sequer ter assumido. Aconteceu com o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, tido como nome certo para o Ministério da Justiça em um eventual governo de Michel Temer.

Ontem, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ele falou sobre adaptar as regras das delações premiadas e sobre ampliar o foco de atuação da PF para além das operações anti-corrupção. Foi o suficiente para que seu nome fosse prontamente descartado, e para reavivar uma questão premente: se Temer de fato assumir a presidência, como fica a Lava-Jato? O vice e seus aliados, citados na operação, têm reforçado a importância de manter os trabalhos intactos.

Temer e Mariz são amigos há décadas. Um dos maiores criminalistas do país, Mariz defende o vice no inquérito que investiga sua citação na delação do senador Delcídio do Amaral. Na Lava-Jato, advogou também para o empresário Lúcio Bolonha Funaro e para o ex-vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite. Assinou, junto com dezenas de criminalistas, um manifesto criticando os métodos dos investigadores. Ou seja, apesar da atestada competência e dos 47 anos de experiência, Mariz era uma escolha polêmica.

Aliados de Temer dizem que Mariz “morreu pela boca”. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava-Jato, disse que a nomeação de Mariz sinalizaria falta de compromisso com a luta anticorrupção. “O ministro da Justiça tem a palavra final sobre os recursos humanos e materiais da Polícia Federal. Isso pode ser usado tecnicamente ou para perseguições pessoais ou apadrinhamentos”, diz o delegado Edson Garutti, diretor da Associação dos Delegados em São Paulo.

Sombram questões sem resposta: um advogado com tanta experiência, e ainda por cima amigo do vice, cometeria esse deslize? Seria tudo uma cena para Temer mostrar compromisso com a Lava-Jato? Ou foi trapalhada mesmo? Temer, não custa lembrar, já protagonizou insólitos, como a carta-desabafo a Dilma Rousseff e o áudio no qual discursa como presidente. Tudo vazado de maneiras mal explicadas. Sem Mariz, são cotados os ex-ministros do Supremo Cezar Peluso, Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso e Carlos Ayres Britto. Não espere entrevistas dos cotados nos próximos dias.

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