(Germano Luders/Site Exame)
Talita Abrantes
Publicado em 7 de novembro de 2017 às 10h59.
Última atualização em 7 de novembro de 2017 às 15h06.
São Paulo – Até 2036, a expectativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que a expectativa de vida do brasileiro alcance os 79 anos (quatro a mais do que vivemos hoje). O setor de saúde será um dos principais afetados por essa elevação da proporção de idosos na população.
“Viver mais, à luz do mundo que temos hoje, vai custar mais”, afirmou o médico Marcos Ferraz Bosi, professor da Escola Paulista de Medicina e presidente do conselho do grupo Fleury, em palestra no EXAME Fórum Saúde, que aconteceu nesta terça (7) em São Paulo.
Isso se explica por uma premissa básica: “Quanto mais envelhecemos, mais acumulamos doenças, o que aumenta a carga para o sistema de saúde”, afirma Bosi, lembrando que, de cada cinco indivíduos com mais de 65 anos, quatro tem uma doença crônica no Brasil.
Por outro lado, ao contrário de alguns países de primeiro mundo que levaram mais de um século para criar riquezas suficientes para suportar essa transição demográfica, o “Brasil vai envelhecer antes de ficar rico” e isso, segundo o especialista, demandará um questionamento crucial:
“Teremos que escolher o que queremos dar e o que podemos dar em um país em desenvolvimento como o nosso”, disse Bosi. “A Constituição de 1988 deu direitos justificáveis naquela época, mas complicados hoje. Querer dar tudo para todos é assumir uma mentira e uma série de riscos. A questão não é mudar a Constituição, mas sim a forma de interpretá-la”.
Para o médico Felipe Marques Gonçalves, executivo para estratégia de medicamentos biológicos na AbbVie, as inovações tecnológicas cumprirão um papel importante tanto para a manutenção da saúde da nova geração de idosos (que terão a seu dispor tratamentos mais assertivos) quanto para tornar a gestão da saúde mais efetiva.
“Da mesma forma que as tecnologias mudaram outros setores, a saúde vai ter que mudar seu modelo de negócios. A gente vai ter mais indicadores, uma gestão maior e falar mais do pagamento por valor e performance”, disse.
Ele citou como exemplo a proposta do Ministério da Saúde de criar um prontuário eletrônico, que pode oferecer uma multidão de dados para auxiliar a gestão dos negócios nessa área.
Bosi contrapõe essa ideia lembrando que, na saúde, o uso de novas tecnologias tende a pressionar os custos. Segundo ele, na década de 1960, o investimento médio em saúde representava 4% do PIB (Produto Interno Bruto) das principais economias desenvolvidas e, hoje, equivale a cerca de 11% em alguns locais.
A questão, na visão dele, é transformar a orientação da gestão de saúde de um modelo hoje focado na oferta de novas tecnologias para um modelo centrado na demanda e nas prioridades previamente estabelecidas.
Assista à íntegra do EXAME Fórum Saúde: