Ciro Gomes: "O problema é tão grave, tão ameaçador, que é impossível um dono da verdade chegar a Brasília e dizer deixo que eu resolvo" (Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 8 de maio de 2018 às 16h05.
Niterói - O pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, disse nesta terça-feira, 8, que o Brasil precisa ser "desinterditado" para voltar a crescer e se desenvolver.
Ele afirmou que o País "não cabe" no debate que opõe "coxinhas" e "mortadelas". Com outros dez presidenciáveis, Ciro participou da 73ª Reunião Geral da Frente Nacional dos Prefeitos, realizada em Niterói, no Grande Rio.
A uma plateia de prefeitos, o candidato disse que o País está "proibido de crescer" porque é impedido por entraves como o endividamento alto das famílias e de empresas e o déficit fiscal, que trava a "reindustrialização".
Ele criticou a "concentração de renda selvagem" brasileira e disse que não será possível dirimir tudo rapidamente, iniciado o novo governo ano que vem.
"O problema é tão grave, tão ameaçador, que é impossível um dono da verdade chegar a Brasília e dizer deixo que eu resolvo. Todas as soluções serão doídas. É preciso por em discussão sem dogma de fé. O tripé macro econômico virou algo indiscutível no Brasil", afirmou.
"Quando Fernando Henrique tomou posse, a carga tributária era de 27% do PIB. A dívida tinha levado 500 anos de história para se arredondar em 38% do PIB. Quando essa prostração neoliberal se impôs ao Brasil, a dívida foi para 78% do PIB, e o Brasil explodiu numa carga tributária que subtrai os municípios dessas receitas", disse.
Ele ressaltou as dificuldades que as prefeituras terão com a PEC dos gastos públicos. "Chegamos ao limite de paroxismo. É a menor taxa de investimento da história do Brasil desde 1947 e com essa PEC haverá um garrote vil sobre a essencialidade dos custos das universidades, da saúde. Os repasses da União vão despencar, por uma maluquice que não tem precedente no mundo. É uma incongruência estúpida que vamos ter que desmontar".
Ciro também defendeu a superação "do presidencialismo à brasileira". "O Brasil tem uma tragédia acontecendo, e o lado bom é que o pacto federativo está de tal forma rasgado, que temos condição tranquila de fazer uma grande reforma que saneie as contas e desinterdite o Brasil", disse. "Nós temos uma engenharia institucional que faz com que o Congresso, no presidencialismo, não tenha responsabilidade com a manutenção dos serviços públicos."
A reunião de prefeitos é o primeiro evento com múltiplos candidatos nesta fase de pré-campanha eleitoral. Os presidenciáveis falam separadamente, depois de assistirem a um vídeo onde são mencionadas propostas discutidas pelos prefeitos nos últimos dias.
Já falaram Rodrigo Maia (DEM), Álvaro Dias (PODE), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Afif Domingos (PSD), Manuela D'Ávila (PCdoB) e Marina Silva (REDE). Também falarão Aldo Rebelo (SD), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Paulo Rabello (PSC).
Foram convidados os candidatos mais bem posicionados nas pesquisas ou que são de partidos com pelo menos cinco parlamentares. O deputado Jair Bolsonaro (PSL) não compareceu e não justificou a ausência, diante do questionamento da reportagem.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso, pediu para enviar um representante, mas a FNP não concordou. Então Lula enviou uma carta à entidade.
Barbosa
Após participar da 73ª Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Ciro Gomes disse que ainda é 'muito cedo' para falar em aliança com outros partidos.
Ciro declarou respeitar a candidatura do ex-presidente Lula e pediu que fosse respeitada a tradição política do PSB, que hoje anunciou a desistência do ex-ministro do STF Joaquim Barbosa de entrar na disputa.
"O PT tem candidato e eu respeito isso com minha alma e meu cérebro. Chega de intriga", disse. Para Ciro, a presença de Barbosa na disputa era boa porque ele representa uma demanda por ética que é de todos os brasileiros. Perguntado se a desistência favorece mais a esquerda ou a direita, o pedetista disse não ser possível saber.
"Ninguém sabe porque ele não tinha se posicionado ainda. É uma pessoa que passou dois anos em horário nobre (na TV), mas ainda não tinha se posicionado sobre economia, sobre desenvolvimento", disse.