Brasil

Nunca houve tanta interferência da família, diz Joice sobre governo

Depois das brigas no Twitter, para os filhos do presidente, a parlamentar tem um conselho: silêncio

Joice Hasselmann sobre ser tirada da liderança: "foi um alívio" (YouTube/Reprodução)

Joice Hasselmann sobre ser tirada da liderança: "foi um alívio" (YouTube/Reprodução)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 22 de outubro de 2019 às 08h18.

Última atualização em 22 de outubro de 2019 às 10h36.

São Paulo — A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou na noite desta segunda-feira (21), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que "nunca houve tanta influência familiar" quanto no governo de Jair Bolsonaro.

"Eu disse ao presidente: 'presidente, me ajude a te ajudar'. Esse tipo de fazer um puxadinho do Palácio do Planalto familiar não vai funcionar, não é bom para ninguém. Isso não aconteceu nem na época do Sarney. Isso é perigoso para o país", disse a parlamentar.

Desde a semana passada, Hasselmann e os filhos do presidente, em especial Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), têm brigado nas redes sociais.

Na noite de domingo, o desentendimento ultrapassou a dimensão das palavras e foi travada por emojis: enquanto o vereador usou ratos, cobras, porcos e uma lula, a deputada usou ratos e veados. Hasselmann apagou o tuite.

Eduardo publicou uma montagem do rosto de Hasselmann em uma nota de 3 reais. Depois de tudo isso, para os filhos do presidente, a parlamentar tem um conselho: silêncio.

"Falei para o presidente: tira o celular dos meninos, apaga Facebook, Twitter, apaga tudo", afirmou. "Enquanto fica essa guerrinha, de meme para lá, de montagem pra cá [...] são ataques muito baixos, muito sujos. A gente vê todo esse estardalhaço envolvendo o Palácio do Planalto e sempre tem um filho envolvido nessas crises. Ou é um tuite que fez xingando alguém do congresso, ou é uma montagem com o presidente da Câmara, do Senado", disse.

Para a parlamentar, se os filhos de Bolsonaro seguirem com esse ritmo, "nós vamos perder a esperança".

Hasselmann, em resposta à reação que teve no Twitter, disse que "não tem sangue de barata". "Ele jogou a isca e eu mordi. Não vai mais acontecer", garantiu.

A deputada acredita que "vai chegar uma hora em que Bolsonaro terá de fazer escolhas priorizando o Brasil", e não mais seus filhos.

"Os meninos tem que cumprir seus mandatos. Deixar o Flávio terminar seu mandato, se explicar com a justiça. Deixar o Eduardo fazer seu mandato, sem ficar querendo colocar de líder aqui, embaixador ali, essa interferência é muito ruim. E deixar o Carlos lá na Câmara de vereadores cumprindo o mandato dele, acabou. Se eles querem ser presidentes, que saiam na próxima eleição, que disputem, que ganhem. Aí tudo bem. Aí é legítimo. Ainda que eu discorde ou que eu não votasse em nenhum dos três, tudo bem. Mas o presidente se chama Jair Bolsonaro."

Na última quinta-feira, a deputada foi tirada da liderança do Congresso.

Segundo ela, a saída não foi uma punição. "Quero que o governo dê certo, não estou nem aí com liderança, isso só me dava trabalho, eu trabalhava 20 horas por dia sem ganhar um único centavo a mais. Foi um alívio", explica.

O único problema, para ela, foi a forma como foi tirada da liderança. "Fui tirada do cargo porque simplesmente discordei do Eduardo Bolsonaro? A minha lealdade sempre foi inquestionável", questionou. "Não esperava gratidão, mas um pouco de respeito."

Sobre os robôs, contas falsas e boatos usados à época da eleição em 2018, Hasselmann se desvencilhou e afirmou que não são "uma prática do governo".

"Eu não fazia parte de time de fake news porque toda vez que fui para o ataque, eu coloquei meu rosto [...] a grande questão é se esconder por trás de perfis fakes para atacar pessoas e aliados", disse. "O governo tem que se preocupar com o Brasil."

No ano passado, a parlamentar foi responsável por espalhar algumas das consideradas notícias falsas que mais balançaram o Brasil, como a da urna que, ao apertar o número "1", automaticamente mostrava o rosto de Fernando Haddad, candidato do PT em 2018. "Não foi fake news", respondeu, se defendendo. "Qualquer coisa que eu publico, viraliza [...] eu não tenho certeza que essa informação é falsa", disse.

A deputada afirmou, ainda, que está "mapeando" perfis que disseminam fake news que ela suspeita serem ligados aos filhos do presidente. Há ao menos 20 perfis do Instagram e 1,5 mil páginas no Facebook  ligados a essa operação, segundo ela.

Joice prefeita amanhã?

Hasselmann também falou sobre a sua candidatura à prefeitura de São Paulo em 2020. Quando um dos jornalistas presentes na roda perguntou se ela conhecia a cidade, Joice disse: "Eu não sou candidata a carteiro, eu sou candidata à prefeita".

Para ela, o apoio de Bolsonaro é uma pergunta que só "Freud explica". "Eu almocei com o presidente e ele falou para mim que eu administraria o terceiro maior orçamento do país. Eu desci e falei, ele me chamou de prefeita, inclusive. Depois veio o porta-voz dizendo que o presidente não disse aquilo. Disse", afirmou.

"Ele falou, não foi de mal coração, mas eu acho que teve uma reação dos próprios filhos e, para apaziguar, ele voltou atrás [...] ele está correto em não se meter em eleição municipal", acrescentou.

"Pode ser que agora, por conta dessa crise, ele até torça o nariz para a minha candidatura. Mas vai chegar um momento em que ele vai olhar e vai dizer: essa é a melhor opção para São Paulo. Eu não tenho a menor dúvida", completou.

Acompanhe tudo sobre:Carlos BolsonaroEduardo BolsonaroGoverno BolsonaroJoice HasselmannPSL – Partido Social Liberal

Mais de Brasil

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP