Urna eletrônica: utilizada em eleições no Brasil desde 1996 (Elza Fiúza/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de novembro de 2020 às 09h12.
Última atualização em 14 de novembro de 2020 às 09h27.
Um dos criadores da urna eletrônica no Brasil, o matemático Giuseppe Janino diz que o dispositivo alçou o país à posição de referência mundial no tema.
Foi também uma remissão à eleição americana, que levou dez dias para concluir a apuração -- com o resultado no estado da Geórgia divulgado nesta sexta-feira, 13. Janino diz que a tecnologia facilita a contagem e garante acessibilidade na votação para deficientes e analfabetos. As eleições municipais no Brasil acontecem neste domingo, 15.
"Nosso sistema é confiável", afirmou o atual secretário de Tecnologia e Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em reação aos que defendem a volta do voto impresso, como o presidente Jair Bolsonaro.
Ele afirma que "em 24 anos usando a urna eletrônica não há caso de fraude até hoje".
Como funciona a urna eletrônica e como foi seu processo de criação no Brasil?
A urna eletrônica veio para mudar um paradigma que nós tínhamos no passado, quando votávamos com cédulas de papel que no final eram abertas e contadas em uma mesa. Tínhamos um processo lento, repleto de erros e com muitas fraudes, levando até semanas para se apresentar o resultado. Isso foi o grande motivador para uma mudança e a opção foi a tecnologia. Em 1996, surgiu a primeira urna eletrônica, que viabilizou que tenhamos hoje a maior eleição informatizada do mundo.
Como vimos recentemente, nos Estados Unidos, a contagem de votos dura dias até que o vencedor seja anunciado. A urna eletrônica evita esse problema?
Aqui, a urna eletrônica faz a apuração e temos o resultado quase que imediatamente. Nos EUA, alguns Estados adotam o voto convencional, em papel, e isso se assemelha muito à situação que nós vivemos há 30 anos. Tínhamos diversos tipos de fraude.
Que tipos de fraude?
Desde urnas que já vinham com voto dentro até o ‘voto formiguinha’. Ficava uma pessoa na porta da seção que negociava com o primeiro eleitor: ‘Olha, te dou dinheiro, você vai lá dentro e, quando pegar a cédula oficial, coloca no bolso e me entrega quando sair’. Aí ele preenchia e entregava ao próximo eleitor.
Como ele evita fraudes?
Temos vários mecanismos de garantia de segurança. A urna não funciona com um software que não seja de autoria do TSE ou que tenha sido adulterado. Tudo que ela gera, ela assina, como um certificado digital, e podemos conferir depois se o boletim de urna saiu de uma urna oficial. Esses são mecanismos que impedem fraude. Tanto que temos uma história de 24 anos usando a urna eletrônica, e não há nenhum caso de fraude até hoje.
O presidente Jair Bolsonaro defendeu o voto impresso. Como o senhor avalia esta proposta?
Nosso sistema é confiável. Somos referência no mundo e temos muitos mecanismos de auditoria e verificabilidade, inclusive com o próprio eleitor participando em vários eventos de auditoria.
Como o modelo atual impacta o eleitorado?
Nossa urna tem muito de acessibilidade. A urna eletrônica não só trouxe todos os atributos de integridade e segurança como também incluiu segmentos da sociedade que estavam fora do processo, como o analfabeto e o deficiente visual.
O TSE testará um sistema de votação pela internet. O que podemos esperar?
O ministro (e presidente do TSE Luís Roberto) Barroso instituiu um grupo de trabalho para estudar as votações do futuro, possivelmente utilizando dispositivos pessoais como smartphones. Está se abrindo uma nova frente de estudos desse tipo de solução. Existem vários desafios nisso, de trazer tudo aquilo que conquistamos com a urna eletrônica. Um deles é garantir o sigilo do voto, que existe para que o eleitor não sofra coação. Garantir isso é um dos desafios.