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Novos vazamentos revelam que Moro foi contra delação de Cunha

Reportagem publicada pela revista VEJA em parceria com o site The Intercept Brasil trouxe à tona novos diálogos do atual ministro da Justiça

Sergio Moro: reportagem de VEJA traz novos diálogos vazados do ministro (Adriano Machado/Reuters)

Sergio Moro: reportagem de VEJA traz novos diálogos vazados do ministro (Adriano Machado/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de julho de 2019 às 09h35.

Última atualização em 5 de julho de 2019 às 09h45.

São Paulo — Novos vazamentos de supostos diálogos entre o ministro da Justiça, Sergio Moro, com os procuradores da Operação Lava Jato mostram que o ex-juiz era contra a delação do ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB). "Espero que não procedam", teria escrito em uma das mensagens enviadas pelo ex-juiz a Deltan Dallagnol.

O trecho de conversas, divulgado nesta sexta-feira (05) em uma reportagem de VEJA em parceria com o site The Intercept Brasil, contém mensagens supostamente enviadas na noite do dia 12 de junho de 2017.

Nelas, o procurador Ronaldo Queiroz cria um grupo no aplicativo de mensagens Telegram para avisar que foi procurado pelo advogado de Cunha para iniciar uma negociação de delação premiada. 

Queiroz afirma que as revelações poderiam ser de interesse dos procuradores de Curitiba, Rio de Janeiro e Natal, onde corriam ações relacionadas ao político. Em seguida, diz esperar que Cunha entregue no Rio de Janeiro, pelo menos, um terço do Ministério Público estadual, 95% dos juízes do Tribunal da Justiça, 99% do Tribunal de Contas e 100% da Assembleia Legislativa.

Pouco menos de um mês depois, Moro teria enviado uma mensagem a Dallagnol questionando a possível delação. "Rumores de delação do Cunha... Espero que não procedam", teria dito. Dallagnol responde que são "só rumores que não procedem", e ainda reforça a Moro que "sempre que quiser, vou te colocando a par". O ex-juiz responde que é contra a delação de Cunha e que agradece se o procurador o mantiver informado. 

Faustão

Em uma outra conversa Moro comenta com Dallagnol que havia sido procurado por Fausto Silva (o Faustão) e que o apresentador, além de cumprimentá-lo pelo trabalho na Lava Jato, deu um conselho: "Ele disse que vocês nas entrevistas ou nas coletivas precisam usar uma linguagem mais simples, para todo mundo entender, para o povão. Disse que transmitiria o recado. Conselho de quem está há 28 anos na TV. Pensem nisso".

Procurado pela reportagem de Veja, Fausto Silva confirmou o encontro com Moro e o teor da conversa.

Orientações

As mensagens sugerem, ainda, que Moro teria orientado procuradores a anexar provas para fortalecer a parte acusatória num processo.

Uma das trocas de mensagens pelo aplicativo de 28 de abril de 2016 mostra Dallagnol avisando à procuradora Laura Tessler que Moro o teria avisado sobre a falta de uma informação na acusação contra um réu acusado de ser um dos principais operadores de propina no esquema de corrupção da Petrobras. O réu era Zwi Skornicki, representante da Keppel Fels, estaleiro que tinha contratos com a estatal. 

"No caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do (Eduardo) Musa (ex-funcionário da Petrobras) e, se for por lapso que não foi incluído, ele disse que vai receber amanhã e dá tempo. Só é bom avisar ele", teria escrito Deltan. "Ih, vou ver" teria escrito a procuradora em resposta. No dia seguinte, de acordo com a revista, o MPF incluiu um comprovante de depósito de US$ 80 mil feito por Skornicki a Musa e Moro, logo depois, aceita a denúncia e cita o documento que havia pedido na decisão.

"Fachin é nosso"

A reportagem da revista também revela um trecho no qual Dallagnol, em 13 de julho de 2015, comenta com os colegas do MPF que se encontrou com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. "Caros, conversei 45 minutos com o Fachin. Aha, uhu, o Fachin é nosso", teria celebrado o procurador. 

A revista afirma que o Intercept recebeu quase 1 milhão de mensagens, o que resultou em um arquivo de 30.000 páginas. Para a reportagem, foram analisadas 649.551 mensagens.

De acordo com o veículo, Deltan Dalla­gnol e Sergio Moro não quiseram receber a reportagem. Ambos gostariam que os arquivos fossem enviados a eles de forma virtual, mas, alegando compromissos de agenda, recusaram-se a recebê-­los pessoalmente, uma condição estabelecida por VEJA.

Entenda os vazamentos

Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.

Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.

Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.

O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.

(Com Estadão Conteúdo)

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