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Nova reitora da UFRJ quer fortalecer núcleos de apoio a graduandos

Denise Pires de Carvalho enfrentará a difícil missão de administrar uma das maiores federais do Brasil, após cortes no orçamento

Denise: a nova reitora disse que pretende fazer com que a UFRJ retome a liderança entre as federais (YouTube/Reprodução)

Denise: a nova reitora disse que pretende fazer com que a UFRJ retome a liderança entre as federais (YouTube/Reprodução)

AB

Agência Brasil

Publicado em 2 de junho de 2019 às 14h50.

Última atualização em 2 de junho de 2019 às 14h50.

Rio de Janeiro — A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sempre esteve presente na vida adulta da médica e pesquisadora Denise Pires de Carvalho que, aos 54 anos, será a primeira mulher a assumir a reitoria da maior universidade pública do país.

Professora titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ, Denise vai liderar uma comunidade de 4 mil docentes e de 67 mil estudantes de graduação, pós-graduação e ensino a distância.

"A UFRJ é a maior [universidade] federal. Já foi, durante muito tempo, a melhor federal do país e tem perdido, nos últimos tempos, esse posto, porque nós temos problemas administrativos e acadêmicos", diz a carioca que foi a primeira colocada na lista tríplice encaminhada ao presidente da República, Jair Bolsonaro, com as sugestões de nomes de reitor e vice-reitor para comandar a federal no período de 2019 a 2023.

O presidente já confirmou Denise para o cargo, a partir de julho, e sua nomeação deve ser publicada nesta segunda-feira (3) no Diário Oficial da União.

Denise recebeu 9.427 votos da comunidade acadêmica. Esta foi a segunda vez que ela entrou na disputa pela reitoria da UFRJ. Em 2015, ela perdeu para o atual reitor Roberto Leher.

Dedicação à instituição

A pesquisadora entrou para a graduação em medicina na UFRJ em 1982. Era o início de uma vida dedicada à universidade. Formada em 1987, ela concluiu o mestrado em Ciências Biológicas (Biofísica) na mesma instituição em 1989. Em 1994, conquistou o título de doutora, também em Ciências Biológicas, pela UFRJ.

Concluiu o pós-doutorado no Hôpital de Bicêtre, Unité Tiroïde, Paris, em 1995, e na Universitá Degli Studi di Napoli, Nápoles, em 2006.

Hoje, ela atua como docente nos cursos de graduação da área da saúde e como orientadora nos Programas de Pós-graduação em Ciências Biológicas-Fisiologia e Endocrinologia da UFRJ. Denise também foi diretora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.

O amor pela universidade também deixou marcas nas filhas Daniela, 28 anos, bióloga formada pela UFRJ, e Isabela, 23 anos, prestes a se formar em medicina pela mesma instituição. O marido de Denise, o biólogo Álvaro Leitão, é professor aposentado do Instituto de Biofísica da universidade.

Elegante em uma saia preta e blusa clara com bordados nas mangas, a futura reitora concedeu uma entrevista à Agência Brasil, nesta semana, durante lançamento da campanha da Escola Politécnica (Poli-UFRJ) #EsseLugarTambémÉMeu, para ampliação do número de estudantes mulheres nas áreas de engenharia.

Pequena em estatura, Denise se mostrou grande nas ideias que têm para a universidade. Ela pretende retomar a liderança entre as federais, reforçar um núcleo psicopedagógico para auxiliar alunos de graduação, além de ampliar a internacionalização e as parcerias com empresas privadas.

Para isso, ela terá a ajuda do professor Carlos Frederico Leão Rocha, do Instituto de Economia (IE) da UFRJ, eleito vice-reitor na chapa escolhida pela comunidade acadêmica.

Foco na graduação

A nova reitora disse que pretende fazer com que a UFRJ retome a liderança entre as federais. Segundo ela, será dado um importante destaque aos alunos de graduação.

"A gente faz muita pesquisa, desenvolve muita pós-graduação de excelência, mas a nossa graduação tem estado esquecida. Muitos estudantes evadem, não conseguem concluir os cursos", destacou a nova reitora dizendo que quer fazer a instituição voltar a ocupar um lugar de vanguarda na educação brasileira.

Entre as sugestões, ela citou a elaboração de um projeto para diminuir a evasão que, se bem-sucedido, poderá ser aplicado em outras universidades brasileiras. "Quem sabe, a UFRJ não consegue inovar também sob esse aspecto", apostou.

A pesquisadora defendeu ainda a necessidade de fortalecer os núcleos de apoio psicopedagógico para os graduandos. "Muitos alunos entram na universidade em cursos que não gostariam e só percebem isso ao longo do ano", destacou.

No início da gestão, Denise afirma que vai atacar questões que não dependam do orçamento. Ela pretende reorganizar a área de comunicação da universidade com o intuito de aumentar a interação com a imprensa e mostrar para a sociedade o que a UFRJ faz.

"São questões que dependem muito mais de mudança administrativa do que orçamentária. Essas são as questões mais importantes, de início", afirmou.

Inovação e integração

Denise reconheceu que, embora seja feita muita pesquisa e haja produção de conhecimento na universidade, há pouca inovação. Esse é um conceito que ela pretende induzir juntamente com a ampliação da internacionalização.

Na avaliação dela, a diretoria de Relações Internacionais da UFRJ é subdimensionada e ela vai trabalhar para tornar a estrutura uma superintendência - o que tornará o trabalho maior e mais relevante.

A nova reitora propõe a integração da universidade em torno de um projeto institucional de "voltar para o primeiro lugar".

"Quem sabe a gente consegue daqui a quatro anos. Eu estou muito confiante, porque a gente tem muita excelência aqui dentro. O que falta é um ajuste administrativo".

Parcerias privadas

Durante a entrevista, ela citou ainda a necessidade de ajustes no orçamento da UFRJ, atualmente, deficitário. "É um momento muito difícil porque o governo anuncia cortes e a gente sabe que o financiamento das instituições públicas, em todo lugar do mundo, é majoritariamente público", destacou.

Ela aponta como um caminho o aumento das parcerias já existentes com empresas privadas, mas critica a atual concentração de verbas em determinadas áreas. Denise cita ainda o interesse em ampliar o parque tecnológico da UFRJ para áreas como a biomedicina. Atualmente, as áreas de óleo e gás são as que mais desenvolvem pesquisa.

"Tem que haver uma ampliação diária de atuação dessas empresas. O que nós pretendemos é que haja mais transparência na utilização dos recursos que são arrecadados por meio dos projetos com essas empresas e que esses recursos possam ser distribuídos por todas as áreas da universidade, não fiquem concentrados apenas nas áreas que têm interação com as empresas", disse Denise defendendo a democratização do uso dos recursos.

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