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Notícias falsas devem afetar eleição brasileira, dizem experts

Brasil é um dos países com maior número de usuários de redes sociais e que está mais vulnerável, portanto, às chamadas "fake news"

Redes sociais e polarização política: uma combinação perigosa (Justin Sullivan/Getty Images)

Redes sociais e polarização política: uma combinação perigosa (Justin Sullivan/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de janeiro de 2018 às 13h46.

Última atualização em 9 de janeiro de 2018 às 14h19.

No Brasil, a combinação de polarização política e paixão pelas redes sociais oferece um terreno fértil para as notícias falsas antes da eleição deste ano, alertam os principais comprovadores de fatos.

Claire Wardle, diretora de uma organização que coordenou iniciativas para comprovar fatos durante as eleições francesa e britânica, disse que a divisão política e o uso generalizado do WhatsApp, um aplicativo de mensagens de rede fechada, tornam os brasileiros particularmente vulneráveis a informações equivocadas antes da eleição deste ano. Ela tem certeza de que o País será um caso de estudo "fascinante" porque, de certa forma, é mais suscetível à propaganda do que os EUA.

"O Brasil tem desafios reais; o cenário está muito polarizado e os aplicativos de mensagens fechadas serão a maior preocupação", disse Wardle, diretora da First Draft, com sede em Harvard, em entrevista. "As condições existentes no Brasil são ideais para a exposição seletiva das pessoas, suas tendências de confirmação, seu tribalismo."

Por causa do debate sobre as notícias falsas, que se intensificou em todo o mundo no ano passado, as empresas de redes sociais estão tentando evitar acusações de que suas plataformas tenham sido usadas para influenciar eleições de forma desleal.

Uma discussão semelhante está crescendo na maior economia da América Latina, porque os brasileiros, que estão entre os principais usuários de internet do mundo, deverão escolher um novo presidente em outubro em meio às dramáticas consequências do impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

Dois candidatos com tendências populistas, na esquerda e na direita do espectro político, lideram as pesquisas de opinião: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, e o ex-capitão do exército Jair Bolsonaro, respectivamente. Os candidatos mais moderados estão muito atrás.

"Quando se tem um eleitorado polarizado, as pessoas querem se conectar com outras que tenham a mesma visão de mundo", disse Wardle. "A resposta emocional a essas questões é tão forte que elas ficam muito menos propensas a ser críticas".

Combate à desinformação

As autoridades eleitorais do Brasil estão tentando enfrentar o problema. O próximo presidente do tribunal eleitoral do País, Luiz Fux, criará uma força-tarefa composta por várias autoridades para combater a proliferação de notícias falsas e elaborar um projeto de lei para conter a prática, informou a imprensa local.

Uma lei aprovada pelo Congresso no ano passado também pretende multar usuários de internet que publiquem conteúdo destinado a influenciar a eleição com uma identidade falsa.

No Brasil, o Facebook anunciou em 4 de janeiro que selecionou Aos Fatos, parte da Rede Internacional de Comprovação de Fatos, para se associar na criação de um chatbot para o serviço de mensagens da empresa.

Wardle disse que, embora um robô que comprove fatos possa ser criado para o Facebook Messenger, isso não é possível para o WhatsApp devido à natureza fechada do aplicativo. O Facebook também é proprietário do WhatsApp.

Tai Nalon, diretora da Aos Fatos, considera que o WhatsApp é a plataforma social mais preocupante, principalmente porque os arquivos de áudio compartilhados não podem ser verificados. O Brasil é o segundo maior mercado do WhatsApp, com 120 milhões de usuários - mais de metade da população do País. Nalon considera o WhatsApp uma "caixa preta".

Uma porta-voz do WhatsApp não quis comentar para esta reportagem.

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